Guilherme de Almeida e os irmãos Tácito, Estevam e Antonio Joaquim, com o amigo Carlos Pinto Alves, em Cunha - 1932 (Foto Reprodução)
GUILHERME DE ALMEIDA
O POETA DA REVOLUÇÃO
Luiz de Almeida
Para o Estado de São Paulo o dia “9 de Julho” não é só uma data puramente histórica que ficou arquivada nas trincheiras do longínquo ano de 1932. O significado chega a transpor as barreiras e os limites não apenas de uma extensão territorial, mas sim as barreiras e os limites de uma nação chamada Brasil. São Paulo pleiteava a unificação nacional através de uma Constituição Digna e Democrática. São Paulo almejava a Liberdade. São Paulo sonhava com um Governo Democrático e não aceitava mais o pesadelo de Governo nefasto e ditador. E, como não encontrou eco para uma solução pacífica, armou-se para a batalha que a história denominou de: “Revolução Constitucionalista de 32”.
Neste texto não desejo perder o meu tempo e nem o do dileto leitor com a História da referida Revolução. Todo o brasileiro a conhece. O que importa aqui, não fugindo da temática deste Blog, é continuar falando do Poeta Guilherme de Almeida, cuja postagem anterior, o artigo de autoria da Poeta Maria Thereza Cavalheiro, trouxe-nos notícias do "Príncipe dos Poetas" que ainda não sabíamos. E, mesmo sendo do conhecimento de todos, Maria Thereza enfatizou a participação ativa e efetiva do nosso Poeta na Revolução Constitucionalista de 1932. Guilherme de Almeida trocou o terno de linho pela farda de lona, a gravata pelo laço de couro repleto de balas, a caneta pelo fuzil, o escritório pela trincheira e foi demonstrar o seu civismo e o seu amor por São Paulo e pelos ideais democráticos.
Para este Blog, o Poeta é o que mais importa para comemorar este “9 de Julho”. E não existe forma melhor para comemorar se não o de degustar dos poemas de Guilherme de Almeida, aqueles que versão sobre a Revolução Constitucionalista, sobre os Homens Paulistas que perderam suas vidas por uma causa nobre, e sobre o Símbolo Maior: a “Bandeira das Treze Listras”, que o Poeta orgulhosamente hasteava no topo da fachada da sua casa, numa demonstração de amor pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil.
E o Poeta e Soldado Constitucionalista “Guilherme de Almeida”, assim se manifestou:
CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,A glória do meu Brasil.
Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
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ORAÇÃO ANTE A ÚLTIMA TRINCHEIRA
Agora é o silêncio.
É o silêncio que faz a última chamada:
É o silêncio que responde:
- Presente!
Depois será a grande asa tutelar de São Paulo,
asa que é dia e noite e sangue e estrela e mapa
descendo, petrificada, sob um sono que é vigília.
E aqui ficareis, Heróis-Mátires, plantados firmes,
para sempre, neste santificado torrão de chão paulista.
Para receber-vos, feriu-se ele da máxima
de entre as únicas feridas, na terra,
que nunca se cicatrizam,
porque delas uma imensa coisa emerge
e impõe-se que as eterniza.
Só para o alicerce, a lavra, a sepultura e a trincheira
se tem o direito de ferir a terra.
E, mais legítima que o alicerce,
que se eterniza na casa, a dar teto para o amor,
a família, a honra, a paz;
Mais legítima que a ferida da lavra,
que se eterniza na árvore,
a dar lenho para o leito, a mesa, o cabo da enxada,
a coronha do fuzil;
Mais legítima que a ferida da sepultura que se eterniza no mármore
a dar imagem para a saudade, o consolo,
a bênção, a inspiração;
Mais legítima que essas feridas
é a ferida da trincheira,
que se eterniza na Pátria,
a dar pura razão de ser da casa,
da árvore e do mármore.
Este cavado trapo da terra,
corpo místico de São Paulo
em que hora existis consubstanciados,
mais que corte de alicerce,
sulco de lavra, cova de sepultura,
é rasgão de trincheira.
E esta, perene, que povoais,
é a nossa última trincheira.
Esta é a trincheira que não se rendeu
a que deu à terra o seu suor,
a que deu à terra a sua lágrima,
a que deu à terra o seu sangue!
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que é nossa bandeira gravada no chão,
pelo branco do nosso Ideal,
pelo negro do nosso Luto,
pelo vermelho do nosso Coração.
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que, atenta, nos vigia,
a que, invicta, nos defende,
a que, eterna, nos glorifica!
Esta é a trincheira que não se rendeu,
a que não transigiu,
a que não esqueceu, a que não perdoou!
Esta é a trincheira que não se rendeu:
Aqui a vossa presença, que é relíquia,
transfigura e consagra no altar
para o vôo, até Deus, de nossa fé.
E, pois, ante este altar, alma de joelho,
a vós rogamos:
- Soldados Santos de 32,
sem armas em vossos ombros, velai por nós!;
sem balas na cartucheira, velai por nós!;
sem pão em vosso bornal, velai por nós!;
sem água em vosso cantil, velai por nós!;
sem galões de ouro no braço, velai por nós!;
sem medalha sobre o cáqui, velai por nós!;
sem mancha no pensamento, velai por nós!;
sem medo no coração, velai por nós!;
sem sangue já pelas veias, velai por nós!;
sem lágrimas ainda nos olhos, velai por nós!;
sem sopro mais entre os lábios, velai por nós!;
sem nada a não ser vós mesmo, velai por nós!;
sem nada senão São Paulo, velai por nós!
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NOSSA BANDEIRA
Bandeira da minha terra,
bandeira das treze listras:
são treze lanças de guerra
cercando o chão dos Paulistas!
Prece alternada, responso
entre a cor branca e a cor preta:
velas de Martim Afonso,
sotaina do Padre Anchieta!
Bandeira de Bandeirantes,
branca e rota de tal sorte,
que entre os rasgões tremulantes
mostrou a sombra da morte.
Riscos negros sobre a prata:
são como o rastro sombrio
que na água deixava a chata
das Monções, subindo o rio.
Página branca pautada
Por Deus numa hora suprema,
para que, um dia, uma espada
sobre ela escrevesse um poema:
Poema do nosso orgulho
(eu vibro quando me lembro)
que vai de nove de julho
a vinte e oito de setembro!
Mapa de pátria guerreira
traçado pela Vitória:
cada listra é uma trincheira;
Cada trincheira é uma glória!
Tiras retas, firmes:
quando o inimigo surge à frente,
são barras de aço guardando
nossa terra e nossa gente.
São os dois rápidos brilhos
do trem de ferro que passa:
faixa negra dos seus trilhos,
faixa branca da fumaça.
Fuligem das oficinas;
cal que as cidades empoa;
fumo negro das usinas
estirado na garoa!
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O CREDO PAULISTA
Creio em São Paulo todo poderoso,
criador, para mim do céu na terra:
e um Ideal Paulista, um só, glorioso,
nosso senhor na paz como na guerra,
o qual foi concebido nas "bandeiras",
nasceu da virgem alma das trincheiras,
padeceu sob o jugo dos invasores;
crucificado, morto e sepultado,
desceu ao vil inferno dos traidores,
mas, para, um dia ressurgir dos mortos,
subir ao nosso céu e estar sentado,
à direita do Apostolo-Soldado,
julgando a todos nós, vivos ou mortos.
Creio no pavilhão das Treze Listas,
na santa união de todos os Paulistas,
na comunhão da Terra adolescente,
na remissão de nossa pobre gente,
numa ressurreição do nosso bem,
na vida eterna de São Paulo - Amém!
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Fontes Pesquisadas:
- Almeida, Guilherme de. Meus Versos Mais Queridos. Edições de Ouro - RJ, sd;
- Villa, Marco Antonio. 1932 - Imagens de Uma Revolução. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008;
- Cintra, Paulo Cunha. Revolução Paulista de 1932 - A História de um Combatente. Ed. Trion - SP. 1ª Ed. 2004;
- Marques, José Sérgio Turriani. Ocorrências da Revolução de 32 no Setor Sul. Ed. do Autor - 2008.
(Apresentação e formatação: Luiz de Almeida - Julho/2009).
Muito interessante, Luiz!
ResponderExcluirExiste uma polêmica levantada pelo Antonio Candido, dizendo que o Serafim Ponte Grande ficou anos sem uma nova edição porque o prefácio continha uma alfinetada bruta em Guilherme de Almeida, que teria sido a "Marquesa de Santos" de um navio prisão onde ele ficou depois de 32. Porralouquices do Oswald!
Amigo Luiz...
ResponderExcluirAprendendo bastante neste teu
cantinho, viu... Riquíssimo,
por sinal!!!
Obrigado, Amigo!!!
Beijos pra ti...
No coração!!!
Iza
Oie tudo bem?
ResponderExcluirQuero agradecer o e-mail que você me enviou falando do meu blog!!
E como pedido estou deixando aqui minha opinião: curti muito, apesar de não gostar de história, seu texto conseguiu prender a minha atenção, e isso é muito bom para quem tem um blog com o seu, para não deixar a leitura cansativa!
beijinhus!!
De extremo interesse este blogue. Voltarei. Bjs
ResponderExcluirOlá meu caro, muito prazer! meu nome é daufen bach., também um escrivinhador. estou vindo da Casa da Poesia, também sou membro lá mas, ultimamente ando afastado da net por alguns problemas de saúde, venho rapido, posto algumas coisas no meu bloguinho e saio de novo.
ResponderExcluirVim conhecer teu espaço e, aqui maravilhado com todo esse conteúdo. Parabéns a ti.
Também sou fã de Guilherme de Almeida. Adoro o poema dele:
"O poeta"
Caçador de estrelas.
Chorou: seu olhar voltou
com tantas! Vem vê-las!
(Guilherme de Almeida)
Abraço forte a ti.