Mário de Andrade (Foto ilustrativa)
Muito já se estudou, pesquisou e especulou sobre o
real significado do termo “arlequinal” de Mário de Andrade, depois da
publicação de Paulicéia Desvairada. Este artigo não trará nenhuma definição
clássica. Será apenas uma chamada introdutória para que o dileto leitor do Retalhos
possa buscar outros conhecimentos e estudos a respeito.
- Quando Mário aplicou “Arlequinal”, fez referência
ao Arlequim, personagem da antiga comédia italiana cujo traje era
composto de inúmeros losangos multicoloridos, ou seja, o todo era composto por
pedaços. (Parcela significante dos estudiosos e críticos, associam o “Arlequim”
de Mário ao personagem da Commedia
dell’Arte). Assim, Mário se referiu a algo “multi”, composto de pequenos
pedaços – um todo formado por fragmentos, por retalhos.
Em Paulicéia Desvairada, o primeiro livro
modernista de Mário de Andrade, demonstra que a cidade de São Paulo é a sua
musa inspiradora. Victor Knoll, em Paciente
Arleguinada: Uma leitura da obra poética de Mário de Andrade. Hucitec, São
Paulo, 1983, págs. 51/52, menciona:
- “(...). E
também em “Inspiração”, composição toda feita de reticências, como se cada
verso fosse o prolongamento do outro – um eco -, como se o poeta estivesse
debruçado (suspenso) diante de São Paulo, o sopro que anima o seu canto, a
noiva que se dá para a fecundação da palavra, esse grito está indicado:
São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Trajes de losangos...
Cinza e ouro... Luz e bruma...
Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!
“Arlequinal!...
Traje de losangos... Cinza e ouro...
Mário de
Andrade colheu na figura de Arlequim os elementos para a constituição desta
imagem poderosa e que reaparece de modo explícito, sugerido ou elíptico ao
longo de toda a sua obra poética. A roupa de Arlequim é feita de losangos
coloridos, exprimindo a divisão, a fragmentação, a multiplicidade, a
dilaceração. Arlequinal exprime as partes distintas de um todo relativas à
cidade, ao país, à vida psicológica (sentimento e personalidade), ao ambiente,
ao clima, à situação social, à constituição racial, ao folclore, e por fim à
criação e ao dizer do poeta”.
Capa da 1ª Edição de Paulicéia Desvairada
(Foto Ilustrativa)
A cidade de São Paulo é arlequinal, tanto étnica
como culturalmente, pois é formada da junção da multiplicidade cultural
trazidas por pessoas das mais diversas origens. O Rio de Janeiro é arlequinal,
pois tem no seu carnaval uma multiplicidade de ritmos, culturas e cores, e
também assim o é o Brasil, e isto se comprova em Macunaíma, o herói sem caráter
definido, uma vez que ainda estava em formação, juntando pedaços e fragmentos,
como também se caracteriza como um verdadeiro arlequim: burlesco, irônico e
mandrião, repleto de multiplicidade no seu vernáculo, pela oscilação do seu
caráter.
Para compreender a abrangência do termo Arlequim
(substantivo), podemos facilmente associar o adjetivo Arlequinal ao próprio
Mário de Andrade como: “Mário Arlequinal”. A vestimenta do arlequim feita de
retalhos de tecido coloridos seria homóloga à definição de Mário de Andrade
sobre ele mesmo: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”. A característica eclética de
Mário é o que o define mais especificamente com verdadeiro significado do
substantivo e do adjetivo pertinente aos seus poemas.
Para aprofundar um pouco mais e podermos tentar
entender outros aspectos “multi” (multidisciplinares, multidisciplinares,
multidimensionais, multifacetados, etc.) da expressão “Arlequinal” empregada
por Mário de Andrade, entre muitos, o RETALHOS destaca:
- A Estética Aberta
de Mário de Andrade. Leda Miranda Huhne. Uapê, RJ, 2002;
- A Lira Paulistana
de Mário de Andrade: A Insuficiência Fatal do Outro. José Emílio Major Neto.
Tese de Doutorado – Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da
Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas da USP, São Paulo, 2006;
- As Andanças de
Arlequim e Suas Múltiplas Percepções na Paulicéia de Mário de Andrade.
Aparecida Maria Nunes. Trabalho apresentado ao NP 17 – Folkcomunicação, do V
Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Universidade Vale do Rio Verde –
Unicor, nd;
- Mariodeandradiando
– Telê Anona Lopez. Editora Hucitec, São Paulo, 1996;
- Mario de Andrade:
Plural. Elisa Angoffi Kossovitch. Unicamp, Campinas – SP, 1990;
- Mário Vário: Uma
Introdução ao Pensamento de Mário de Andrade. Luciano Santos. Editora Unijuí,
RS, 2205;
- Paciente
Arlequinada: Uma Leitura da Obra Poética de Mário de Andrade. Victor Knoll.
Editora Hucitec, São Paulo, 1983;
- Paulicéia
Desvairada. Mário de Andrade. Circulo do Livro, São Paulo, nd.
(Luiz de
Almeida)
Sou fascinado pela capa de "Paulicea Desvairada" e tenho a sorte de custodiar um exemplar em minha pequena coleção de MA, Drummond e Bandeira... pessoalmente acredito que a inspiração veio da obra de Picasso da primeira década do sec.XX. A figura do arlequim foi usada de forma abundante, e Picasso era um dos artistas mais admirados por MA. Parabéns pelo Blog...abraço! Pedro
ResponderExcluir) Leia o significado da palavra arlequinal: o autor utilizou essa palavra mais
ResponderExcluirde uma vez para descrever aspectos da cidade de São Paulo, por analogia
à roupa do arlequim composta de losangos cinza e ouro.
Explique o contraste que há entre os últimos versos e o primeiro verso da
terceira estrofe.
Saudades desse blogs, me ajudou bastante a entender os poemas.
ResponderExcluir