domingo, 30 de dezembro de 2007

MOSTRA DAS CAPAS DA REVISTA KLAXON

Capas da Edição n.º 1

Capa da Edição nº 2


Capa da Edição n.º 3

sábado, 29 de dezembro de 2007

KLAXON

KLAXON:- MENSÁRIO DE ARTE MODERNA (1922)

(o texto transcrito abaixo segue a ortografia da época)

Significação.

A lucta começou de verdade em principios de 1921 pelas columnas do 'Jornal do Commercio' e do 'Correio Paulistano'. Primeiro resultado" 'Semana de Arte Moderna' - especie de Conselho Internacional de Versalhes. Como este, a Semana teve sua razão de ser. Como elle: nem desastre, nem triumpho. Como elle: deu fructos verdes. Houve erros proclamados em voz alta. Pregaram-se ideias inadmissiveis. E' preciso reflectir. E' preciso esclarecer. E' preciso construir. D'ahi, KLAXON.
E KLAXON não se queixará jamais de ser incomprehendido pelo Brasil. O Brasil é que deverá se esforçar para comprehender KLAXON.


Esthetica

KLAXON sabe que a vida existe. E, aconselhado por Pascal, visa o presente. KLAXON não se preocupará de ser novo, mas de ser actual. Essa é a grande lei da novidade.
KLAXON sabe que a humanidade existe. Por isso é internacionalista. O que não impede que, pela integridade da patria, KLAXON morra e seus membros brasileiros morram.
KLAXON sabe que a natureza existe. Mas sabe que o moto lyrico, productor da obra de arte, é uma lente transformadora e mesmo deformadora da natureza.
KLAXON sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o passado, caminha para deante, sempre, sempre. O campanile de São Marco era uma obra prima. Devia ser conservado. Cahiu. Reconstruil-o foi uma erronia sentimental e dispendiosa - o que berra deante das necessidades contemporaneas.

KLAXON sabe que o laboratorio existe. Por isso quer dar leis scientificas à arte; leis sobretudo baseadas nos progressos da psychologia experimental. Abaixo os preconceitos artisticos! Liberdade! Mas liberdade embridade pela observação.
KLAXON sabe que o cinematographo existe. Perola White é preferivel a Sarah Bernhardt. Sarah é tragedia, romantismo sentimental e technico. Perola é raciocinio, instrucção, esporte, rapidez, alegria, vida. Sarah Bernhardt = seculo 19. Perola White = seculo 20. A cinematographia é a criação artistica mais representativa da nossa epoca. E' preciso observar-lhe a lição.
KLAXON não é exclusivista. Apezar disso jamais publicará ineditos maus de bons escriptores já mortos.
KLAXON não é futurista.
KLAXON é klaxista.


Cartaz

KLAXON cogita principalmente de arte. Mas quer representar a epoca de 1920 em diante. Por isso é polymorpho, omnipresente, inquieto, comico, irritante, contraditorio, invejado, insultado, feliz.
KLAXON procura: achará. Bate: a porta se abrirá. Klaxon não derruba campanile algum. Mas não reconstruirá o que ruir. Antes aproveitará o terreno para solidos, hygienicos, altivos edificios de cimento armado.
KLAXON tem uma alma collectiva que se caracterisa pelo impeto constructivo. Mas cada engenheiro se utilizará dos materiaes que lhe convierem. Isto significa que os escriptores de KLAXON responderão apenas pelas idéias que assignarem.


Problema

Seculo 19 - Romantismo, Torre de Marfim, Symbolismo. Em seguida o fogo de artificio internacional de 1914. Ha perto de 130 annos que a humanidade está fazendo manha. A revolta é justissima. Queremos construir a alegria. A propria farça, o burlesco não nos repugna, como não repugnou a Dante, a Shakespeare, a Cervantes. Molhados, resfriados, rheumatisados por uma tradição de lagrimas artisticas, decidimo-nos. Operação cirurgica. Extirpação das glandulas lacrimaes. Era dos 8 Batutas, do Jazz-Band, de Chicarrão, de Carlito, de Mutt & Jeff. Era do riso e da sinceridade. Era de construcção. Era de KLAXON.

A REDACÇÃO

(publicado na Revista Klaxon (São Paulo), n. 1, Maio, 1922)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

POEMA DO AUTOR Nº 2 - Luiz de Almeida

ENCONTROS E DESENCONTROS

Na ficção:

Dante
apaixonou-se por Beatriz
Luíza
enfeitiçou-se por Basílio
Brás Cubas
quis ser amante de Tereza Cristina
Florência
acreditou que Ambrósio casou por amor

Na realidade:

Oswald
namorou Tarsila e casou-se com Pagu
Tarsila
queria Luís Martins que ficou com Anna Maria
Pagu
desistiu do Oswald e casou-se com Geraldo Ferraz
Mário e Anita
se amaram meiga e secretamente

Da ficção para a realidade:

Oswald
acabou ficando com Maria Antonieta
Tarsila
acabou ficando sem ninguém
Pagu
ficou mesmo com Geraldo
Mário e Anita
nunca se casaram

Quanto a mim:

Nunca tinha amado ninguém
Hoje...

Amo você

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

PAGU: "ABRAM AS JANELAS, DESABOTOEM MINHA BLUSA, QUERO RESPIRAR"

(Desenho de Luiz de Almeida - Nanquim - 2007)


PAGU - Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista, SP, a 9 de junho de 1910, filha de Thiers Galvão de França e Adélia Rehder Galvão, ambos representantes de uma tradicional família burguesa paulista.
Durante sua juventude, um dos sonhos da estudante normalista, inteligente e rebelde era conhecer o cavaleiro da esperança, Luis Carlos Prestes, líder do Partido comunista no Brasil.Nessa época Patrícia já se destacava por sua insolência, seu linguajar, seu modo de vestir e suas atitudes extravagantes.
Gostava de fazer provocações aos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo - reduto da nata oligárquica - com seus versos satíricos, seus lábios pintados de roxo e suas grandes argolas nas orelhas, mas ao mesmo tempo, deslumbrava a todos pelo seu jeito atrevido, talentoso, belo e, principalmente, com a intensidade pouco comum de seus brilhantes olhos verdes.
Pelo intermédio do diretor de cinema Olympio, foi apresentada ao poeta e futuro embaixador do Brasil na Europa, Raul Bopp, que, fascinado, escreveu versos para ela, denominando-a Pagu e apresentando-a para a fina flor da sociedade intelectual de São Paulo.
Pelo seu talento de poetisa e por sua audácia, foi logo apadrinhada pelo escritor Oswald de Andrade e sua mulher Tarsila do Amaral
. O casal projeta-a como mascote do surrealismo
e arma com ela uma sensacional apresentação de suas poesias, junto com o grande palhaço Piolim, no Teatro Municipal de São Paulo - espaço sagrado da cultura tradicional paulista - com a qual queriam provocar um escândalo. Foi um sucesso e o episódio acabou consagrando Pagu como musa da poesia surrealista brasileira.
Deste convício nasce um romance entre Pagu e Oswald, e, em um outro famoso episódio, Pagu casa-se com o Waldemar Belisário e foge, após a cerimônia, com Oswald de Andrade. Os dois realizam uma cena de casamento poético no jazigo da família do escritor. O escândalo é geral. Dessa união nasce um filho, Rudá.
Em 1931, o casal funda um jornal tabloide chamado "O Homem do Povo", no qual Pagu assinava a coluna "Mulher do Povo". Com suas críticas e disparos irreverentes, o jornal provoca a ira e a rebelião dos estudantes da Escola de Direito do Largo São Francisco que destroem sua sede.
Para se ter uma pequena noção do que Pagu escrevia no O Homem do Povo, cito esta passagem de uma de suas colunas: "Senhoras que cospem na prostituição, mas vivem sofrendo escondidas num véu de sujeira e festinhas hipócritas e maçantes, onde organizam o hino de cornetas ligados pra todos os gozos, num coro estéril, mas barulhento".
Pagu começa a participar intensamente da vida política e evolui rapidamente nos quadros da militância do Partido Comunista do qual é filiada. Viaja a Buenos Aires, onde realiza seu sonho de encontrar-se com Luis Carlos Prestes, milita ardorosamente no Partido Comunista, radicalizando-o de tal forma que consegue afastar seu fundador, Astrogildo Pereira, acusando-o de intelectual.

Escreve o livro Parque Industrial - Romance Proletário, um dos livros mais importantes da década de 30, pois o romance era, entre outras coisas, modernista, urbano, feminista e marxista. Para a época, é um livro com uma linguagem totalmente desabusada e que aborda questões tabu tanto para o leitor burguês quanto para a militância.
O livro saí, por ordem do Partido Comunista, com o pseudônimo de Mara Lobo, nele Pagu mostra sua inata capacidade de ser vanguarda, mas caí, algumas vezes, em maniqueismos e esquematismos, o que é, por sua vez, totalmente tolerável para os dias em que foi escrito.
No livro, Pagu mostra a exploração do proletariado fazendo uma comparação dos sofrimentos desta classe e as terríveis explorações sexuais que sofrem as mulheres, faz do capital o grande falo estuprador dos proletários e lasca o pau na moral hipócrita da sociedade paulista da época.

Em 1935, participa do comício que lembrava a condenação à morte dos anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, nos EUA, em 1927, e, durante os conflitos ocorridos no mesmo comício, expira, no seu colo, o estivador Herculano de Souza, vítima dos enfrentamentos com a polícia.
Após o comício, fica presa no cárcere nº 3 da Praça dos Andradas, a pior cadeia do continente na época, tornando-se, tristemente, a primeira mulher presa política torturada no Brasil. Foge do presídio em 37.
Em 38, é presa novamente e condenada a mais dois anos e meio de prisão pelo Tribunal Nacional de Segurança da ditadura do Estado Novo. Na saída da prisão instala-se numa vila operária e milita, participando, de revólver na mão, da defesa do Partido Comunista.

Inicia então uma longa viagem pelo mundo afora. Em Hollywood, entrevista para o Correio da Manhã os atores George Kroft e Miriam Hopkins. Na China, cobre a coroação do primeiro imperador da Mandchúria, Pu-Yi, do qual torna-se amiga, e de quem recebe, a pedido de Raul Bopp, sementes de soja, as quais ela trouxe para o Brasil, hoje um dos maiores produtores de soja do mundo.
Pagu será uma das primeiras pessoas a trazer sementes de soja para cá. Entrevista ainda Sigmund Freud. Viaja pela Transiberiana para Moscou, oito dias e oito noites de ferrovia. A URSS, com o stalinismo, decepciona-a. Na ocasião comenta em carta enviada a Oswald: "Isto aqui é jantar frio sem fantasias. Tou besta". Parte para a França onde faz contato com Aragon, Eluard, Breton, Benjamin Perret, Elsie Houston, Clevel, Sartre, Ionesco e Arrabal. Estuda com Politzer, Marcel Prenant e Paul Nizan. Escreve artigos memoráveis sobre o Congrès de Écrivans pour la Défense de la Culture.

Em Paris aprende o "argot", adota o nome de Leonine ao ingressar nas Jenesses Communistes e insurge-se contra a determinação da Frente Popular de não cantar a Internacional no s festejos de 14 de julho. Ferida na manifestação de rua, fica hospitalizada por três meses. Posteriormente, com a queda do gabinete de Léon Blum e assumindo o Governo de Pierre Laval (direitista que mais tarde vai se juntar aos alemães) a comunistas estrangeira é presa e, não fora a enérgica intervenção do embaixador Souza Dantas, seria deportada para a Alemanha, já que sua mãe tinha ascendentes germânicos.
Volta ao Brasil em frangalhos. Separa-se de Oswald de Andrade. Encontra o país polarizado entre a direita dos integralistas e a esquerda da Aliança Nacional Libertadora, a ALN. É presa por consequência da "intentona" de 35.
O Juízo Penal de São Paulo a absolve, mas o Tribunal Militar do Rio lhe condena a dois anos e meio de prisão, aos quais serão acrescentados ainda seis meses por ter se recusado a participar da homenagem ao interventor de São Paulo, Ademar de Barros, quando este visitava a cadeia. Ficaria encarcerada até 1940.
Reencontra, na prisão, a ex-babá de seu filho, a quem politizara. Vivendo um dos momentos mais dramáticos da sua vida, suplica a seus familiares para intercedam junto a Oswald para que ela possa rever o filho Rudá, que não via há dois anos. Consegue revê-lo.

Depois dessa passagem dificílima pela prisão, Pagu passa a viver com seu grande companheiro, o jornalista Geraldo Ferraz, com quem ficou até o fim de seus dias. Após a prisão, Pagu é abandonada pelo PCB. Deixa o cárcere ferida, deprimida e ressentida com os companheiros e o partido.
Liga-se então ao grupo de Mário Pedrosa
que editava um jornal, A Vanguarda Socialista. Seu primeiro artigo é uma crítica demolidora do livro Vida de Luis Carlos Prestes, de Jorge Amado. Nessa época, após reencontrar-se com o filho Rudá, então com 17 anos, escreve o belíssimo Não Tenha Medo Rapaz.
Passa a frequentar a Escola de Arte Dramática de São Paulo, onde apresenta numa aula de Décio de Almeida Prado, sua tradução de A Cantora Careca, de Ionesco. Promove espetáculos em Santos, lutando pela construção de um teatro na cidade. Movimenta-se também pela formação de grupos amadores e pela apresentação do teatro de vanguarda.
É graças a Pagu, que traduziu e dirigiu a peça, que foi apresentada, em Santos, a montagem de Fando e Liz, de Arrabal. Escrevendo no jornal Tribuna de Santos, posiciona-se contra o chamado teatro esquerdista, só abrindo exceção para Bertold Brecht, segundo ela, por causa da "beleza literária".

Em 1949, desespera seu companheiro Geraldo Ferraz ao tentar o suicídio com um tiro na cabeça. Em 1950, candidata-se à Assembléia Legislativa de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro. Não se elege e encerra assim seu ativismo político.
Nesse ano, Pagu funda a Associação dos Jornalistas Profissionais de Santos. Durante toda a década de 50, Pagu exerceria uma importantíssima influência no panorama cultura da cidade de Santos, ajudando, principalmente, na campanha pela construção do Teatro Municipal da Cidade de Santos.

Em 1958, Pagu chama o jovem autor, ator de teatro e seu amigo, Plínio Marcos
, para substituir um ator no papel de um marinheiro na peça "Pluft, o Fantasminha". Plínio Marcos seria um eterno admirador de Pagu.
Quando Oswald de Andrade morre, Pagu anuncia sua próxima viagem a Paris. Tinha descoberto que estava com câncer e queria morrer no estrangeiro, escondida de todos. Após outra tentativa frustrada do suicídio, volta ao Brasil para morrer junto à família, em Santos, sua querida cidade natal.
Pagu morreu no dia 12 de dezembro de 1962 pedindo:

"abram as janelas, desabotoem minha blusa, quero respirar".
(Texto de : Renato Roschel - 16/07/2004 -
Fontes de Pesquisa: Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade; Editora: Jorge Zahar Editor; 2000. Pagu: Patrícia Galvão Livre na Imaginação no Espaço e no Tempo; Editora Unisanta; 4ª edição; 1999).

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

BRECHERET: O MODERNISTA PAULISTANO ESQUECIDO

Victor Brecheret... Esse modernista, tão paulistano quanto Mário de Andrade, deixou sua obra espalhada pela Paulicéia para que possamos apreciar. Diante de uma obra de Brecheret chegamos ao êxtase. Mas... pouco se fala de Brecheret... ou melhor, suas obras não são mesmo para serem faladas, mas visualizadas – apesar que existem algumas obras que só mesmo faltam falar. Quando admiro a obra “Banho de Sol”, ao olhar para a expressão facial daquela musa, tenho a impressão que ela vai abrir a boca e dizer:
“- Que preguiça gostosa... que sol maravilhoso... preciso passar mais bronzeador”.
É perfeita, lindíssima e de uma sensualidade descomunal.
Mas, o importante mesmo é deixar aqui cravado o fato do artista Brecheret ser pouco estudado. Suas obras são vistas, admiradas, tudo bem – mas estudadas por poucos. Raríssimos os estudos que podemos ter acesso das leituras das obras e da própria vida do artista. E, como ele é um dos ícones mais importantes do Modernismo Brasileiro, abro aqui este tópico com uma síntese biográfica e um artiguete sobre um dos módulos da sua vasta produção artística: a Arte Tumular de Brecheret.



DADOS BIOGRÁFICOS
1894 – Nasceu em Farnese de Castro, Itália, a 15 de dezembro. Recebeu o nome de Vittorio Breheret (sobrenome de origem francesa), depois transformado em Victor Brecheret. Existe um documento, de tão paulistano que Brecheret foi, documento esse dos anos 30, que registra seu nascimento em São Paulo a 22 de fevereiro de 1894;
1912 – Faz os primeiros estudos de desenho, modelagem e entalhe em madeira, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo;
1913 – Viaja para Roma (Itália) para estudar escultura e torna-se discípulo de Arturo Dazzi. Interessa-se pelas obras de Ivan Mestrovic. Permanece na Itália até 1919;
1915 – Em Roma, instala seu primeiro ateliê, na Rua Flaminia nº 22;
1916 – Participa de Exposição Coletiva, a Exposição Internacional de Belas Artes, em Roma (Itália). Participa também da Exposição do Amatori e Cultori - com a obra Despertar, recebe o 1º prêmio na Exposição Internacional de Belas Artes;
1917 – Viaja para Paris (França) para acompanhar os funerais do escultor Auguste Rodin;
1919 - São Paulo SP - Instala ateliê no Palácio das Indústrias, em sala cedida pelo engenheiro Ramos de Azevedo;
1920 – Retorna para o Brasil e fixa-se na cidade São Paulo. Conhece os futuros modernistas: Di Cavalcanti, Hélios Seelinger, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Faz o projeto da Medalha Comemorativa do Centenário da Independência. Inspira personagem do romance Os Condenados, de Oswald de Andrade, e de O Homem e a Morte, de Menotti del Picchia. Mário de Andrade atribui o estado de espírito que fez surgir a Paulicéia Desvairada ao contato com sua obra. Na cidade de Santos – SP, realiza a exposição da maquete do Monumento aos Andradas. Em São Paulo, realiza a exposição da primeira maquete do Monumento às Bandeiras, na Casa Byington. A execução do monumento começa em 1936 e sua inauguração é em 1953;
1921 – Viaja para Paris (França), patrocinado pelo Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, estuda e entra em contato com vários artistas. Em Abril realiza Exposição Individual, na Casa Byington, em São Paulo - e expõe a escultura "EVA", já mostrada em Roma;
1922 - Tem obras expostas na Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo;
1923 – Recebe Prêmio no Salon d’Automne;
1925 – Recebe menção Honrosa no Salon dês Artistes Français;
1926 – Realiza a considera sua Primeira individual na cidade São Paulo, apresentando 33 esculturas da fase francesa. Doa Porteuse de Parfum à Pinacoteca do Estado;
1927 – Elabora a capa do livro A Estrela do Absinto, de Oswald de Andrade, segundo volume da Trilogia do Exílio;
1930 – Realiza outra Exposição Individual na cidade de São Paulo;
1932 – Torna-se Sócio-fundador da Sociedade Pró-Arte Moderna – SPAM, em São Paulo;
1934 – Na França, o governo francês adquire a escultura Grupo para o Musée Jeu de Paume e concede a Brecheret a Cruz Legião de Honra, a título de belas artes, no Grau de Cavaleiro. Realizada Exposição Individual no Rio de Janeiro;
1935 – Realiza nova Exposição Individual na cidade de São Paulo;
1936 – Em São Paulo, inicia a execução do Monumento às Bandeiras, cujo anteprojeto data de 1920 e que é inaugurado em 1953 na Praça Armando Salles de Oliveira;
1941 – Vence o concurso internacional das maquetes do Monumento a Duque de Caxias, em São Paulo - considerada a maior escultura equestre do mundo: 14 metros de altura sobre um pedestal oco de 24 metros de altura, 7 metros de largura e 11,5 metros de comprimento. No ano seguinte: 1942: Esculpe "Fauno";
1946 – Esculpi a Via Crucis para a capela do Hospital das Clínicas de São Paulo;
1948 – Realiza Exposição Individual na Galeria Domus, em São Paulo – SP;
1951 – Premiado na I Bienal de São Paulo – Prêmio Nacional de Escultura;
1953 – Executa os painéis da fachada e do interior do Jockey Club de São Paulo. Realiza Exposição Individual na Galeria Tenreiro, em São Paulo. Inauguração do Monumento às Bandeiras, em São Paulo;
1954 – Executa os afrescos Três Graças e São Francisco, em Osasco – São Paulo. Executa afrescos para a Capela Paranga, em Atibaia – SP;
1955 – Falece, em São Paulo, no dia 17 de dezembro.

ARTE TUMULAR E VICTOR BRECHERET


Cemitério: segundo alguns dicionários, é o espaço, terreno ou recinto em que se enterram e guardam cadáveres humanos. Particularmente é o local onde inumamos os nossos entes queridos que chegaram na linha de chegada e final da vida – os nossos mortos. Tristeza e saudade se perpetuam entre os humanos vivos quando ali vão. Porém, esta questão não fica restrita apenas na dor de familiares e amigos. Na maioria dos cemitérios, entre árvores, roseiras, arbustos e vasos para flores artificiais e naturais, entre chapas de ferro ou bronze com inscrições lapidares, os túmulos sustentam imagens, carinhosamente escolhidas, muitas das vezes, em conformidade com a crença demonstrada em vida pelo finado ali sepultado. Dentre essas imagens encontramos verdadeiras obras de arte. Esculturas lindíssimas e significativas, que passam muitas vezes desapercebidas por nós, temporariamente ainda vivos, mas ali, no cemitério, diante dessas obras, permanecemos com os olhos moribundos.
Na cidade que Mário de Andrade tanto amou, seus cemitérios tradicionais mais parecem ser verdadeiras Exposições Cemiteriais, pois se nossos olhos e intenções não estiverem voltadas somente para o fundo dos túmulos e sim para o que eles ostentam sobre as lápides, nos deliciaremos com esculturas de Galileo Emendabili, Celso Antonio de Menezes, Nicola Rollo, Bruno Giorgi, e dele, VICTOR BRECHERET.
Victor Brecheret, que nasceu na Itália, mas tem registro de paulistano e que distribuiu suas esculturas pela cidade da Paulicéia, tais como: Monumento as Bandeiras no Parque do Ibirapuera, Duque de Caxias na Praça Princesa Isabel, Fauno no Trianon e outras mais, possui inúmeras obras nos cemitérios paulistanos. Destacamos, por exemplo, os cemitérios da Consolação, do Araçá e São Paulo.
No Cemitério da Consolação, no jazigo da família Guedes Penteado, a obra de Brecheret que foi premiada no Salon d’Autonne, em Paris: SEPULTAMENTO. No da família Botti, a escultura ANJO, com ar misticamente angelical e um sorriso que demonstra paz e certeza.
A primeira experiência de Brecheret na arte cemiterial está no Cemitério do Araçá: Túmulo de FRANCISCA JULIA DA SILVA, poetisa do movimento literário Parnasianismo.
No Cemitério São Paulo, no jazigo da família Scuracchio, a última obra de Brecheret: AVE MARIA, dois anjos lindíssimos em posição de oração profunda cercam uma grande cruz.


(Luiz de Almeida - 2007)



sábado, 1 de dezembro de 2007

ANITA MALFATTI: UM MARCO NA HISTÓRIA DAS ARTES NO BRASIL

(Montagem Ilustrativa)

A Exposição de Pintura Moderna - Anita Malfatti, realizada em São Paulo, entre 12 de dezembro de 1917 - 11 de janeiro de 1918, é considerada um marco na história da arte moderna no Brasil e o "estopim" da Semana de Arte Moderna de 1922, nos termos do historiador Mário da Silva Brito. Em salão cedido pelo Conde de Lara, na Rua Libero Badaró, n. 111, Anita Malfatti (1889 - 1964) expõe 53 trabalhos, entre figuras: Tropical (1917), A Estudante Russa (ca.1915), O Japonês (1915-1916), O Homem Amarelo (1915-1916), A Mulher de Cabelos Verdes (1915-1916)]; paisagens: O Farol de Monhegan (1915), A Ventania (1915-1917), A Palmeira, O Barco (1915); gravuras : Boneca Japonesa, Anjos de Rubens, O Burrinho; caricaturas e desenhos: Festa no Trianon, Impréssion de Matisse, O Movimento. Além das obras da artista, são apresentados trabalhos de nomes internacionais ligados às vanguardas históricas, como Floyd O'Neale, Sara Friedman e Abraham S. Baylinson (1882-1950). Desse modo, como indica o historiador Tadeu Chiarelli, a exposição deve ser entendida como uma "coletiva de arte moderna protagonizada por Anita Malfatti, e não uma individual da pintora".
O impacto das telas de Anita tem a ver com seu aspecto expressionista, novo para os padrões da arte brasileira de então. Tendo estudado em Berlim e nos Estados Unidos - e não na França e na Itália, caminho preferencial de nossas elites ilustradas -, a pintora exibe um percurso distinto, definido pelos estudos em Berlim, entre 1910 e 1914, quando é aluna de Fritz Buerger, e da Academia Lewin Funcke, onde estuda com os pintores Lovis Corinth (1858 - 1925) e Ernst Bischoff-Culm (1870 - 1917). Seu breve retorno ao país, em 1914, faz-se notar por uma primeira individual realizada na Mappin Stores, na rua 15 de novembro, quando apresenta estudos de pintura (por exemplo, desenhos como Mãe e Filho e algumas águas-fortes). "Esta minha exposição de 1914", diz ela em conferência de 1951, "era composta de estudos expressionistas feitos no ateliê de Lovis Corinth; realmente era a semente do que seria o trabalho apresentado então". Nos Estados Unidos, para onde segue no mesmo ano, trabalha com Homer Boss (1882 - 1956) na Independent School of Art, em Nova York, quando intensifica seu interesse pelo expressionismo. A bibliografia faz menção ainda a uma mostra que ela teria realizado em junho de 1917, na Casa Garroux, em São Paulo, poucos meses antes da célebre exposição de dezembro.
As telas expressionistas apresentadas por Anita Malfatti na Exposição de Pintura Moderna representam um conjunto inédito para o público da época. Nas obras expostas - como Homem Amarelo, por exemplo - são incorporados procedimentos básicos da arte moderna: a relação dinâmica e tensa entre a figura e fundo; a pincelada livre que valoriza os detalhes da superfície; os tons fortes e usados de forma não convencional; as sugestões de luz que fogem ao claro-escuro tradicional; e uma liberdade de composição. A novidade da pintora é apreendida pelos jovens artistas da época: 

"Não posso falar pelos meus companheiros de então", indica Mário de Andrade (1893 - 1945), "mas eu, pessoalmente, devo a revelação do novo e a convicção da revolta a ela e à força de seus quadros". 
Em sentido semelhante, aponta Di Cavalcanti (1897 - 1976): 
"A exposição de Anita foi a revelação de algo mais novo do que o impressionismo". 
Se Lasar Segall (1891 - 1957) já havia exposto na cidade, em 1913, sua exposição parece ter passado despercebida naquele momento. Nesse sentido, o caráter de precursora do modernismo de 1922 é atribuído a Anita Malfatti pelos críticos e participantes da Semana de Arte Moderna. 
Em A Gazeta de 13 de fevereiro de 1922, Mário de Andrade é, mais uma vez, enfático: 
"quem manifestou primeiro o desejo de construir sobre novas bases a pintura? São Paulo com Anita Malfatti". 
A imediata incorporação da pintora recém-chegada pelos jovens modernistas pode ser aferida também pelo destaque a ela concedido na programação da Semana de Arte Moderna: Anita é a maior representação individual na exposição com 12 telas a óleo, oito peças entre gravuras e desenhos.
Se os comentadores enfatizam o sucesso da Exposição de Pintura Moderna - Anita Malfatti, apontam também a polêmica que cerca o evento, em função da crítica feita por Monteiro Lobato (1882 - 1948) em O Estado de S. Paulo, de 20 de dezembro de 1917, "A propósito da exposição de Anita Malfatti" (republicado em 1919 na coletânea Idéias de Jeca Tatu, com o título Paranóia ou mistificação?). Os argumentos críticos por Lobato giram em torno dos supostos equívocos da arte moderna - seu elitismo, hermetismo, adesão aos modismos, sua "falta de sinceridade" -, a despeito do "talento vigoroso" que ele reconhece na artista. 

As palavras de desaprovação do crítico arregimentam jovens poetas e escritores - como Mário de Andrade, Oswald de Andrade (1890 - 1954) e Menotti Del Picchia (1892 - 1988) - em torno de Anita Malfatti. As réplicas se sucedem nos jornais da época (além de Menotti e Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Mário da Silva Brito e Paulo Mendes de Almeida), defendendo a pintora e desautorizando o crítico, geralmente tratado nos textos como "pintor". Além de desqualificado como crítico de arte, Lobato é ainda responsabilizado, por modernistas e seus herdeiros e seguidores, pelo recuo de Anita em relação às vanguardas. Se entre 1915 e 1917, Anita realiza as obras mais importantes de sua carreira - como A Estudante Russa, O Japonês, O Farol de Monhegan, A Mulher de Cabelos Verdes -, no seu regresso ao país já é possível entrever certo distanciamento das vanguardas e uma adesão ao Retorno à Ordem, do qual participam vários artistas modernistas. 
Para o crítico Tadeu Chiarelli o refluxo de Anita em relação às vanguardas - perceptível em trabalhos expostos já em 1917 - coincide com o contato com o ambiente nacionalista do país em geral e de São Paulo em particular. A sua conversão à temática nacional é contemporânea, indica o crítico, ao distanciamento em relação à radicalidade vanguardista, flagrante na célebre mostra de 1917 e que se acentua na produção posterior da artista.

Fontes de Pesquisa

ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva : Diâmetros Empreendimentos, 1976. 241 p., il. p&b. (Debates, 133).
AMARAL, Aracy. Artes plásticas na Semana de 22. 2.ed.rev. São Paulo: Perspectiva, 1972, 333 pp. il p&b. (Debates, 27)
BATISTA, Marta Rossetti. Anita Malfatti no tempo e no espaço. São Paulo: IBM Brasil, 1985. 195 p., 76 il. p&b. color.
BRITO, Mário da Silva. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964, 322 pp. il. p& b.
CHIARELLI, Tadeu. Um Jeca nos vernissages. São Paulo: Edusp, 1995. 261 p., il. p&b. color. (Texto e arte, 11).
ZILIO, Carlos. A querela do Brasil: a questão da identidade da arte brasileira: a obra de Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari: 1922-1945. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. 139 p., il. p&b., color.