(Até o último parágrafo acima, o artigo da Poeta Maria Thereza Cavalheiro, foi editado no jornal “D.O. Leitura – São Paulo, n.º 88, de 8 de setembro de 1989, p. 4/5. A continuação do artigo foi editada no referido jornal, de n.º 89, de 8 de outubro daquele mesmo ano).
Conheci Guilherme de Almeida em 1944, aos meus quinze anos de idade, quando sua sobrinha, Anna Maria, filha de Marco Aurélio de Almeida (depois casada com o advogado Clementino S. de Castro Floripes), então minha vizinha na Rua Honduras, em São Paulo, levou ao famoso tio meus primeiros versos, em que se incluíam várias trovas. Com louvores, que muito me enalteceram, veio-me um convite: para visitar o Poeta em seu escritório, em cima da Confeitaria Vienense, na Rua Barão de Itapetininga, na Capital paulista, onde estive numerosas vezes, primeiro só para haurir de sua palavra, e, anos depois, para entrevistá-lo para o jornal onde passei a trabalhar.
Guilherme de Almeida foi a primeira pessoa a reconhecer-me poeta, e isso de maneira muito coloquial. Estávamos em conversa animada quando, às tantas, ele proferiu: “Nós poetas...”. A menina de quinze anos sentiu-se envaidecida e confiante a prosseguir na Poesia.
Em 1957, quando me iniciava no jornalismo, colaborando em A Gazeta, viria a fazer a primeira entrevista formal com o grande Poeta. Realizávamos então a campanha “Vamos vestir São Paulo de flores” (a primeira no gênero), com Roberto Fontes Gomes, Gumercindo Fleury e Ângelo Rinaldi. Guilherme de Almeida foi um dos primeiros nomes lembrados, na série de mais de cinqüenta depoimentos por mim colhidos no decorrer da campanha.
Ao publicar meu primeiro livro, Antologia Brasileira da Árvore, em 1960, solicitei, timidamente a Guilherme de Almeida algumas palavras sobre a obra, e o fiz por sugestão de Adelino Ricciardi, meu editor (Ed. Gr. Bartira). O Poeta disse-me que em duas semanas leria os originais; no entando, dois dias depois, o resultado foi a belíssima página – “Utilidade e Beleza” – que o Poeta escreveu. Contou-me que, por ficar muito entusiasmado com o assunto, escrevera a apresentação do livro durante a noite. Esse era, aliás, o seu período preferido de escrever: “Fico mais inteligente à noite” – dizia.
Curiosamente, quando eu cursava Direito na Universidade Mackenzie, durante uma Festa da Árvore realizada em setembro de 1969, presente o Vice-Governador Antônio Rodrigues Filho, reconheci as palavras proferidas por um coro de jovens: era a famosa página, sem o final, que se referia ao meu livro. Então, procurei a professora que o havia ensaiado, para que não deixasse de aludir ao autor daquela página em outras apresentações. Mas foi para mim muito emocionante ouvir a declaração das palavras de abertura do meu livro, na Faculdade em que eu estudava.
Em 1974, quando lancei a Nova Antologia da Árvore, sob os auspícios do editor Orlando Vicente (Livr. Ed. Iracema, em co-edição com a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo – livro que teve o apoio do Governador Laudo Natel), reproduzi, à guisa de prefácio, a mesma página escrita por Guilherme de Almeida, e fiz um depoimento sobre o Poeta quando da reinauguração da Casa Guilherme de Almeida, a convite de sua diretora Maria Ignez de Oliveira Sampaio, ocasião em que a fita simbólica foi descerrada por Laudo Natel. Foi este justamente que promulgou a Lei 337, de 10-7-74, a qual instituiu o Hino Oficial do Estado de São Paulo, com letra de Guilherme de Almeida: o poema “Hino dos Bandeirantes”.
Antes, muitos outros poetas cívicos foram escritos pelo Príncipe dos Poetas Brasileiros. Em 1960, compôs a famosa Prece Natalícia a Brasília, uma de suas mais belas páginas, que leu na inauguração da nova Capital (21 de abril), a convite do Presidente Juscelino, quando foi orador oficial das festividades.
Chamado “Poeta da Revolução”, compôs, à época do Movimento de 1932, muitos poemas engrandecendo São Paulo, entre outros “Moeda Paulista”, “Marcha Soldado”, “Oração ante a Última Trincheira”, e, na volta do exílio, escreveu o conhecido “Nossa Bandeira”. Esse poema foi composto por Guilherme de Almeida de um só fôlego, dia 2-11-34, ao tomar ciência de que o Presidente Getúlio Vargas pretendia vedar aos Estados o uso de insígnias próprias, o que se concretizou na Carta Constitucional de 10-11-37. Os símbolos regionais foram restaurados em 1946.
Em março de 1944, fez a letra da “Canção do Expedicionário” musicada por Spártaco Rossi.
Em 1967, escreveu o “Cântico Jubilar para o Advento da Rosa de Ouro”, musicado pelo Padre Dr. José Geraldo de Souza, comemorativo da outorga dessa insígnia, em 15 de agosto do mesmo ano, à Basílica Nacional de Aparecida, por S.S. o Papa Paulo VI.
A “Canção da Polícia Militar do Estado de São Paulo”, composta pelo Cel. da Reserva Alcides Jácomo Degobbi, ex-diretor do Corpo Musical da então Força Pública do Estado, com instrumentação do Capitão Maestro PM Nélson dos Santos, foi inspirada nos versos “Cento e Trinta de Trinta e Um”, de Guilherme de Almeida.
O Poeta havia programado publicar um Hinário, mas não chegou a fazê-lo.
Estava sempre atento a coisas nossas, e, por sua iniciativa e sob sua supervisão, foi restaurada a “Casa do Bandeirante”, hoje “Casa do Sertanista”, por ele inaugurada em 1955.
AMOR AOS CÃES
Muitas outras vezes encontrei Guilherme de Almeida, depois também para colher notícias para a coluna social que Maria Sílvia Montenegro e eu fizemos para A Gazeta, de 12/61 a 11/62.
O Poeta gostava de conversar, e sempre tinha muito a dizer. Ele amava as flores, as crianças, as aves, os cães. Nos pequenos nadas descobria motivos de grande inspiração. Tinha preferência por pequineses. Disse-nos certa vez, de sua grande mágoa ao perder um de grande estimação: sentiu-se um “dono sem cão”. Mas, na primavera de 1960, fora presenteado com outro pequinês, cujo pedigree ascendia aos canis da Rainha Vitória. Estava entusiasmado com a nova aquisição. Ao referir-se ao platine-blond do novo reizinho, falou em “uma gota de mel num raio de sol”. De patas brancas, seus longos pêlos sugeriam-lhe a imagem de “um mandarim com luvas demasiado longas”. Era o Ling-Ling, que estaria a seu lado até o último momento da vida.
O Poeta fazia, como hobby, ele mesmo, os seus cartões de Natal, e desenhava também caricaturas.
Vestia-se impecavelmente, à moda tradicional. Era um emotivo, mas seu ar parecia sempre sereno. A voz, porém, era rouca, nervosa. Falava quase rápido. Recebia muitas visitas em seu escritório, e muitos telefonemas. Tinha sempre uma palavra de estímulo para os jovens. Esclarecia, aos que o procuravam, sobre dúvidas a respeito de poemas e autores. Tinha boa memória; sabia todos os seus versos de cor. Nunca demonstrava impaciência ou mau-humor, e dava à imprensa todo o tempo necessário.
AS ÁRVORES
Guilherme de Almeida começou a fazer versos muito cedo. O primeiro soneto, aos seus quatorze anos, sob influência de Anthero de Quental, tinha a morte como tema. E o poeta adolescente foi castigado pelo vigilante da turma, um seminarista, mais velho, por estar escrevendo poesia, e marcando o ritmo com os dedos na carteira, na sala de estudos do Ginásio Diocesano de São José, em Pouso Alegre.
Seu primeiro poema publicado, porém, chamava-se “O Eucaliptus”, e saiu estampado em 1909, quando já calouro, em um jornal da Faculdade de Direito do largo de São Francisco, o Onze de Agosto, sob o pseudônimo de “Guidal”.
Em entrevista que nos deu para A Gazeta (28-9-59), o próprio Poeta observou: “Sempre tive paixão pela árvore. Ela tem sido o leit-motiv de meus poemas...”.
E apanhou alguns de seus livros na estante. Mostrou-nos várias poesias sobre árvore, muitas já nossas conhecidas: “Em A Dança das Horas, chamo a uma criatura ‘Meu lindo galho de salgueiro’. Narciso é todo dedicado a uma flor. Em Nós, digo:
Outono. As folhas tombam ao sol poente...
Num espreguiçamento de folhagem,
maio boceja pensativamente,
na tristeza intinita da paisagem.
Folhas soltas ao vento: solto à aragem,
vai meu último sonho à amiga ausente...
Inutilmente as árvores reagem,
e eu reajo também inutilmente!
E sinto, árvore triste e abandonada,
que já branqueja meu cabelo preto, que
amarelecem árvores na estrada...
Que o vento vai levar, rumo diverso,
do último galho e do último soneto
a última folha e o derradeiro verso!
Em Simplicidade, no poema “As árvores da rua”, o Poeta lamenta a poda das árvores:
Cortam-lhe galhos, coitadinhas!
Não lhes dão tempo de flori-los!
Fazem-nas todas iguaizinhas,
como as meninas dos asilos...
Todos os seus livros têm muitos e belos poemas sobre as árvores e as flores. Em Suave Colheira, “A saudade das folhas” e “Spleen” são repassados de ternura. Em A Dança das Horas, lemos ainda “A árvore nua”, “Flor de asfato” e “Chove em silêncio”. Nesta, o Poeta diz, na penúltima estrofe:
Descabelada, a tarde chora, viúva
do sol: e, sempre meigas e pacientes,
as palmeiras entendem os seus pentes
entre os cabelos de cristal da chuva.
Em Meu, várias poesias falam também de palmeiras, bananeiras, acácias floridas, alvas magnólias, girassóis, folhas amarelas, como “Arco-íris”, “Mormaço”, “Astronomia” e “Noite de Natal”. Em Nós, são freqüentes os “gerânios na janela”...
Sobre sua árvore predileta, disse-nos Guilherme de Almeida:
“Aprendi a conhecer as estações pelas árvores e o ensinei aos poetas brasileiros. Principalmente os plátanos da Praça da República ligam-se, desde então, à minha meninice e à minha juventude. O plátano é a minha árvore preferida... Ela sofre no nosso clima o que sofre no seu clima nativo. Em A Dança das Horas (“Exaltação dos sentimentos”), fixei em poesia as estações:
O Outono despe os plátanos,
tecendo ao longo da alameda,
Uma complicação de talagarça...
Maquinalmente entendo
O olhar vadio: um turbilhão de seda
foge, num passo elástico de garça.
Prosseguiu o Poeta: Em “Na cidade da Névoa”, são ainda os plátanos o motivo constante:
Na Cidade da Névoa um triste abril desfolha
os plátanos da rua. Um tédio longo e lento
desce numa neblina e friamente molha
a desanimação do pardo calçamento.
Observou ainda que seu discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras foi todo construído sobre o tema “Árvore”. E esclareceu:
“Na árvore da poesia brasileira, Gonçalves Dias, apegado à terra, é a raiz no tronco. Olavo Bilac, pela sua exuberância, pelo seu esplendor, pelo seu verbalismo e sensualismo, é a floração e o colorido. Amadeu Amaral é o fruto. É a poesia do pensamento. E eu, junto a essa árvore, que sou? O simples caminhante que repousa um pouco à sombra dela, e passa, e vai-se embora, só pela glória de passar...”.
Ninguém concordoria com o Poeta... Guilherme de Almeida ficará através de todas as gerações. Seu canto está imortalizado nos poemas que sempre distribuiu às mancheias para nosso encantamento e dos que ainda virão. E sabemos que, em réplica ao seu discurso, o Poeta Olegário Mariano observara que “Guilherme de Almeida é o uirapuru da árvore da poesia, é o Orfeu da floresta...”.
Inquirido sobre sua flor preferida, Guilherme de Almeida evocou a beleza das orquídeas, “que poderiam ser um símbolo do Brasil, representando o que temos de mais nobre, como a flor-de-lis na França, que é um lírio estilizado”. Falou da beleza dos ipês, da originalidade da flor de maracujá. Lembrou então Fagundes Varella... Mas, e a flor preferida? Não nos enganáramos em observar a motivação constante da rosa em muitos de seus poemas: em A Dança das Horas, “Rosa da Pérsia” e o próprio poema que dá nome ao livro; em A frauta que eu perdi, “A rosa”, “As três mulheres”, “Myroméris”; em Meu, “A flor de cinza”; em Encantamento, “Canção ingênua”; em Poesia Vária, “Romance da rosa singela”. Em Simplicidade, pergunta o poeta no início do poema:
Simplicidade... Simplicidade...
Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio... Por que não há de
ser toda gente também assim?
Guilherme de Almeida confirmaria ainda seu amor pela rosa seis anos mais tarde, quando da publicação de Rosamor, um livro dedicado à sua flor predileta.
OS HAICAIS
Há de se registrar um fato importante. Guilherme de Almeida foi um dos primeiros poetas brasileiros a escrever haicais. E os publicou em livro em Poesia Vária, lançado em 1947. Eu tinha então dezoito anos e fiquei encantada com os poemetos. Na festa de aniversário de sua sobrinha Anna Maria (10-9-47), disse ao Poeta do meu entusiasmo pelos seus haicais. E ele contou, muito indignado, que muitas pessoas, incluindo críticos, estavam dizendo que ele havia feito “charadas”.
Podemos entender, assim, perfeitamente, porque Guilherme de Almeida deu título aos seus haicais e criou um tipo de rima específica para essa composição poética. Os “haicais guilherminos” passaram a ser elaborados por bons haicaistas, entre os quais se destacam Cyro Armando Catta Preta, de Orlândia-SP, e o saudoso José Fernandes Soares.
Sabe-se que o haicai japonês é composto de três versos de cinco, sete e cinco sílabas respectivamente, sem rimas e sem título, com temas ligados à natureza. Ao transpô-lo para a nossa língua, Guilherme de Almeida rimou o primeiro com o terceiro verso, com tônica na segunda e na sétima sílabas poéticas. Dessa forma, como bem disse Sérgio Milliet na apresentação de Poesia Vária (3ª. ed. Cultrix), Guilherme de Almeida “nacionalizou o haicai” e “estabeleceu uma forma nova”.
E não é só isso. Temos para nós que Guilherme de Almeida assim procedeu para tornar o haicai mais acessível ao gosto do nosso povo, mais fácil de ser aceito. Em nada procederiam comentários de que Guilherme de Almeida não conheceria as regras do haicai. Ao contrário, ele as conhecia, e muito bem. Na mesma entrevista que nos concedeu, relatou:
“Havia um grupo de poetas japoneses, antigamente, que se reunia à Rua da Liberdade. Assisti a muitos dos seus encontros. Faziam Jogos Florais: era dado um tema (lembro-me de que um deles foi ‘brisa da primavera’) e uns dois ou três poetas apresentavam os seus haicais. Compõe-se o haicai de dezessete sílabas, e podemos defini-lo como ‘uma anotação poética e sincera de um momento de elite’. Não é poesia de amor: é de estação. O haicai é como um verbete de dicionário. E deve ser, antes de tudo, espontâneo: o haicai é obtido como quem pega um inseto em vôo. Se escapar, escapou, e não se consegue mais fazê-lo. Porque deixa de ser sincero. O haicai se impõe. É ele que vem a nós. Pois bem: uma vez, com surpresa minha, notei que o tema dado era sobre o jacarandá. Surgiu então uma querela: discutia-se a época de sua florescência, indispensável à composição do haicai, que é, como se disse, antes de tudo, uma poesia de estação. Com maior espanto meu, um dos japoneses tirou do bolso um dicionário botânico brasileiro em japonês, para esclarecer a dúvida. Pois a poesia japonesa é uma poesia botânica, e os conhecimentos botânicos são indispensáveis ao poeta... Passei também a fazer haicais, que eram traduzidos por um intérprete, após passar uma ‘prova’, que todos julgaram. A poesia, no Japão, é obrigatória. Não importa a profissão do indivíduo. Recordo-me que um dos componentes do grupo era agricultor, outro marceneiro, outro fazia serviços domésticos”.
Folheando Poesia Vária, lemos, entre outros haicais:
CARIDADE
Desfolha-se a rosa:
parece até que floresce
o chão cor-de-rosa.
JANEIRO
Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na fazenda.
Cheiro de calor.
CRIADOR E RECRIADOR
Para Guilherme de Almeida poesia era, sobretudo, “ritmo no sentir, no pensar e no dizer”. Manuel Bandeira proclamou-o o maior artista do verso em língua portuguesa.
E tanto manejava o verso rimado como o branco. Embora fizesse uma poesia de palavras, nunca abusou delas. Era contido, exato, preciso. Jamais usou de palavras supérfluas, de rimas forçadas. Toda a sua poesia tem o toque da perfeição, da genialidade.
Esse mesmo espírito de exatidão predomina em suas recriações. Guilherme de Almeida demonstrava uma “repugnância invencível” pelas palavras “tradução” e “versão”, e preferia outras expressões, mais legítimas para com o seu labor: “recriação”, “reprodução”, “recomposição”, “correspondência” e, principalmente, “transfusão”, conforme deixou claro no prefácio de Poemas de França e no posfácio de Flores das “Flores do Mal” de Beaudelaire.
Neste último, em que recompôs em português vinte e um dos sonetos baudelaireanos, o Poeta declarou: “... No meu processo de recriação, não há propriamente luta de poeta contra poeta, de um contra outro idioma, e sim uma automática justaposição, passiva conformação, espécie de entente cordiale, de tácita e recíproca sujeição”.
“Daí porque não houve imposições de escolher, nem conflito no transfundir – talvez o mérito único desta obra: o da bem simples sinceridade”.
Ao final, Guilherme de Almeida confessa seu “estremado amor à língua pátria”, o seu “enamorado enlevo por esta dócil, versátil, capacíssima língua nossa, de pequeno curso e grandes recursos, que tão bem sabe dizer, e de que tanto mal se diz”.
A seguir, o livro traz ricas notas do Poeta sobre a reprodução realizada, que bem demonstram o seu profundo conhecimento da língua francesa e do idioma pátrio, como mestre lapidar da palavra.
Assim era Guilherme de Almeida como recriador, e, se em alguma tradução cometia algum tipo de aparente deslize era de modo propositado, para ser mais fiel ao próprio original.
JUBILEU DE POESIA
Guilherme de Almeida, pelos seus cinqüenta anos de Poesia, foi homenageado em 4 de junho de 1968, pela Câmara Municipal de São Paulo, em sessão solene presidida por Manoel de Figueiredo Ferraz. Na oportunidade, foi saudado por João Carlos Meirelles, autor da proposição para aquela homenagem.
O Poeta declamou então seu “Soneto XXXII” (“Quando a chuva cessava e um vento fino”), e lembrou que, exatamente cinqüenta anos antes, ao encerrar-se o ano da publicação de seu primeiro livro, ali mesmo estivera, recebido pelo prefeito Washington Luiz Pereira de Souza (que depois foi Presidente do Estado e Presidente da República), para tratar dos retoques finais do brasão das armas do Município.
Também o Governador do Estado, Roberto de Abreu Sodré, em 19-6-68, prestou homenagem ao Poeta, pelo seu cinqüentenário de poesia. Na oportunidade, um medalhão de bronze, com a efígie de Guilherme de Almeida, esculpida por Galileu Emendabile, foi entregue pelo Governador ao Presidente da Academia Brasileira de Letras, Austregésilo de Athayde, para ser colocado na “Sala do Príncipe dos Poetas”, na Academia Brasileira de Letras, onde já se encontravam os medalhões dos outros “Príncipes” – Olavo Bilac, Olegário Mariano e Alberto de Oliveira. Guilherme de Almeida recebeu a mesma medalha de ouro.
Na ocasião, disse o Presidente da ABL: “Guilherme de Almeida é um poeta paulista, brasileiro, universal. É por sua universalidade que é entendido e compreendido em sua poesia onde quer que haja almas sensíveis à beleza”.
Certa vez, em entrevista ao escritor Raimundo de Menezes (que em 19-3-70 viria a sucedê-lo na Cadeira nº 22, na Academia Paulista de Letras), declarou o Poeta: “às vezes, um verso que me vem, legítimo, dá-me uma emoção muito mais ‘sensacional’ do que aquela que eu sentiria no momento de me ver coroado para ser rei, ou martirizado para ser santo” (Folha da Manhã, 2-10-55).
Mas Guilherme de Almeida marcou também sua presença literária como magnífico cronista que sempre foi. Suas crônicas, nunca reunidas em livro, eram “pequenos poemas em prosa”, no dizer do acadêmico Luiz Martins: “Mestre incomparável era ele – e desde os seus primeiros livros demonstrou que o era”, pois sabia “extrair do quotidiano o mistério da poesia”.
(Até o último parágrafo acima: foi editado no jornal “D.O. Leitura – São Paulo, n.º 89, p. 4/5. Na sequência, Parte (III), a última, editada no jornal mencionado, de n.º 90, de 8 de novembro, p. 6/7 daquele mesmo ano).
Entrevistei formalmente Guilherme de Almeida outra vez, e então para que abordasse mais um de seus assuntos favoritos, a heráldica. Foi ele o responsável por muitos brasões de nossas comunas. O Poeta ocupou a cadeira n.º 29 no Colégio de Consulta Heráldica e Genealógica do Rio de Janeiro. Para ele, heráldica era “poesia pura”, uma “floresta de símbolos”.
Destacamos alguns de seus ensinamentos (A Gazeta, 25-1-62):
“Heráldica é arte e ciência ao mesmo tempo”. A palavra vem de herald, que quer dizer “arauto”. Brasão é um distintivo que o guerreiro geralmente escolhia para si mesmo, a fim de se distingüir dos outros. Ele o sugeria ao rei e este o agraciava com o título e o brasão. Todos os brasões eram registrados na Cortes.
Quanto menos figuras contiver o brasão, mais nobreza indicará. Devemos levar em conta que o primeiro escudeiro o fez em ouro, o segundo em prata; a seguir, usaram-se escudos cada um em uma cor. Quando se esgotaram as divisões, vieram as subdivisões, as ‘peças honrosas’ com a cruz dentro do brasão. Mais tarde, as figuras, crescendo em detalhes, teriam sempre necessária a diferenciação. Por isto, os escudos mais simples caracterizam nobreza tradicional, de onde a assertiva: ‘chi ha piu ha meno’.
O escudo pode obedecer a três formatos: o seminítico ou francês, que é o ideal; o que se arredonda na base, a exemplo dos brasões portugueses; e o gótico, que é uma ogiva invertida. Seja qual for o formato, deve obedecer à proporção de sete módulos de largura por oito de altura. Essa área é absolutamente intocável. O mais perfeito é o francês. Porque se enquadra rigorosamente dentro da regra.
A gramática heráldica mesma foi fixada através de um Tratado de Crollalanza, que determinou os princípios invariáveis para a confecção de um escudo. Assim, em heráldica existem somente dois metais: o ouro e a prata, e quatro esmaltes: verde (a que se chama ‘sínople’), azul (‘blau’), vermelho (‘goles’) e preto (‘sable’). Não se pode nunca aplicar metal sobre metal nem esmalte sobre esmalte. Das regras ditadas por Crollalanza, essa é a mais primária.
Existem a heráldica de família, que se refere à nobreza hereditária, e a de domínio, que diz respeito aos escudos de países, estados, cidades, vilas, etc. Todas as armas de família levam em cima a coroa ou o capacete, quando se trata de titular, ou, ainda, simplesmente, o ‘timbre’: uma das figuras ou outro pormenor tirado do brasão. Hoje, não temos mais brasões de família, pois estamos em República. Outrora, esses brasões eram dados por carta régia, registrados no chamado Armorial. Atualmente, os brasões de domínio são propostos nas Câmaras municipais e, se aprovados, sancionados pelos prefeitos e estabelecidos por ato, decreto ou lei.
Lê-se um escudo ao contrário: a esquerda em lugar da direita e vice-versa, pois deve ser visto como do peito do cavaleiro. Usamos, em heráldica, os termos em latim: dextra e sinistra. Todas as figuras no brasão, dentro ou fora dele, animal ou pessoa, devem olhar a dextra; se tiverem movimento para a sinistra significa bastardia. Os animais têm de estar em sua posição mais nobre: o leão, rompente; a águia, volante; o cão, passante. Na descrição, é preciso dar, também, os atributos do animal: cor do casco, da língua, das garras.
Na idealização de um escudo, deve-se dividi-lo, mentalmente, em três terços: o primeiro, a que se chama ‘chefe’; o segundo, ‘centro’; e o terceiro, ‘ponta’. O ‘chefe’ representa a cabeça do cavaleiro (o pensamento); o ‘centro’, o coração (sentimento), e a terceira ‘ponta’, os pés (ação).
Aquele que compunha brasões era chamado antigamente “rei d’armas. Guilherme de Almeida foi, assim, um “rei d’armas”, responsável, entre outros, pelos seguintes brasões: de São Paulo, Embu, Petrópolis, Brasília, Volta Redonda, Londrina, Guaxupé. O desenho de muitos foi confiado ao talento de Renato Zamboni, que procurou interpretar com fidelidade o pensamento do Poeta. Vários emblemas foram feitos também em mútua colaboração: para a Bolsa de Cereais, o Instituto de Cardiologia, o Centro de Estudos Históricos Afonso de Taunay e outros.
Guilherme de Almeida também trabalhara em estreita colaboração com o paulista José Wasth Rodrigues, nascido em 1891 e falecido em 1957. De parceria com esse artista, realizou o brasão para a cidade de São Paulo, e, juntos, entre trinta e seis concorrentes, saíram-se vitoriosos em um concurso encetado pelo Município. No escudo, o braço armado, empunhando uma espada batalhante, a que está presa a bandeirola de quatro pontas que ostenta a Cruz de Cristo, içada em acha de armas, comemora toda epopéia do Bandeirismo: o desbravamento pelo machado dos pioneiros, os quatro pontos cardeais. Foram usadas duas cores: prata, do metal, e vermelho, do esmalte, a traduzir audácia e altivez. O brasão traz, em cima, coroa mural de ouro, com torres, e tem como suportes dois ramos de café frutificados. A divisa Non ducor duco significa “Não sou conduzido, conduzo”. Todos os lemas que o Poeta utilizava em suas composições eram da própria autoria; nunca fez uso de frases feitas.
Em 8-3-1917, o prefeito Washington Luiz baixou o Ato Municipal 1.057, instituindo o brasão de armas da cidade, o qual foi restabelecido pela lei 3.671, de 9-12-47, do prefeito Paulo Lauro.
Guilherme de Almeida foi o idealizador do emblema do aristocrático São Paulo Clube, criado com o fim de manter as tradições paulistas e o de confraternização de seus membros. Contou-nos o Poeta que procurara resumir, em um único símbolo, a genealogia e a história paulista, e fez um timbre representado por um leão rompente encarnado com uma espada batalhante de prata a dextra. Explicou-nos na ocasião: “Temos dois fundadores em São Paulo: João Ramalho, o nosso Patriarca, que deu o primeiro paulista filho de Bartira, sua mulher, e Martim Afonso de Souza, o Colonizador, que trouxe para cá quatrocentos homens de estirpe, que aqui se radicaram e de quem nós todos descendemos. Ora, o brasão de armas de Ramalho e de Martim Afonso apresentavam o leão rompente, e nada melhor que essa figura para sintetizar a história de São Paulo”.
Pouco tempo antes de sua morte, Guilherme de Almeida projetou a nova bandeira da cidade de Brasília, cujo brasão havia feito em 1960.
O Poeta era um enamorado de vitrais, que assim definia: “... Velha arte heráldica e litúrgica, a santa arte do vidro e do estanho, da luz e da cor – único mister do obreiro que aos nobres era dado exercer, porque era arte de Fé Cristã”.
Guilherme de Almeida deu assistência a Conrado Sorgenicht Filho na parte heróldica e histórica de vitrais, destacando-se na Capital paulista, os portentosos 34 painéis de sete metros de altura, resumindo a História do Brasil e o desenvolvimento histórico dos dois povos irmãos, executados por aquele vitralista para o Salão “Padre Manuel da Nóbrega”, do Hospital São Joaquim, da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência de São Paulo, sobre o qual, na inauguração festiva, observou, em seu discurso:
“Assim, é este Salão Nobre um translúcido e colorido relicário a guardar, como um todo unido no tempo e no espaço, Portugal e Brasil”.
O Poeta colaborou nos brasões das primeiras cidades brasileiras e nos dos donatários das capitanias, e redigiu os dísticos desses vitrais, que se inserem entre os mais importantes, de caráter cívico, do mundo, e aos quais Pedro Calmon denominou de “Epopéia das Raças”, em conferência pronunciada no próprio Salão, em 1962. O Salão foi inaugurado em 1955, pelo Primaz de Portugal, o Cardeal Cerejeira, que procedeu à bênção dos vitrais”.
Há de se lembrar que Guilherme de Almeida, em 1960, foi o presidente de honra das comemorações do V Centenário da Morte de Dom Henrique, em Portugal.
O brasão de armas de São Paulo, criado por Guilherme de Almeida, figura na grande rosácea da Catedral de São Paulo, circundado de orquídeas e passifloras (flores de maracujá), na fachada principal do templo, vitrais esses também de Conrado, que executou ainda as janelas da Capela do Santíssimo e da abside.
Coube a Conrado Sorgenicht Filho, também ex-comandante, gravar em mármore, no Monumento-Mausuleu dos Heróis de 32, a “Oração ante a última trincheira”, de Guilherme de Almeida, lida pelo Acadêmico Paulo Bonfim por ocasião do sepultamento do “Poeta de São Paulo”, quando disse também versos próprios.
A MORTE DO POETA
Mesmo nos últimos tempos de vida, Guilherme de Almeida não deixava de ir à redação de O Estado de S.Paulo para o convívio com seus companheiros de muitos anos e também para apanhar sua correspondência. Em uma dessas vezes, vaiu de dentro de uma das cartas um brilhante: dizia a missivista que era a cristalização de uma lágrima ao ler um de seus poemas.
Por fim essas visitas se foram escasseando, até cessarem por completo. Guilherme de Almeida faleceu de uremia, à 3h56m do dia 11 de julho de 1969, treze dias antes de completar setenta e nove anos de idade, em sua casa na Rua Macapá. O Poeta manteve-se lúcido até próximo ao desenlace, e despediu-se carinhosamente de sua esposa. Não quisera ir para o hospital, preferindo a companhia da família, do médico Dr. Francisco de Moura Coutinho (que firmou o atestado de óbito) e de seu pequinês Ling-Ling, que ficou aos pés do leito durante toda a enfermidade do dono. Um ano depois, o cachorro, que passou a um estado de melancolia e até grunhia pela falta do Poeta, morreu também, e foi enterrado no quintal da casa, com lápide de mármore de Carrara.
Pouco antes de falecer, o Poeta posara para o escultor Ihye Gilbert. E coube ao escultor Luiz Morrone tirar o molde em gesso para a máscara mortuária.
Ás 8h30m do dia de sua morte o corpo foi transportado, por um carro do Corpo de Bombeiros, com escolta de lanceiros da Força Pública, para a Academia Paulista de Letras, onde foi velado. O sepultamento, com honras militares, se deu às 11h do dia seguinte, e seus despojos se encontram no Monumento-Mausoléu aos Heróis de 32, no Parque do Ibirapuera. O Poeta foi o primeiro constitucionalista a ser sepultado nesse local e ocupa o espaço dedicado aos grandes heróis do Movimento de 1932.
Ainda a 9-7-69, Guilherme de Almeida pedira à esposa que hasteasse em sua casa a bandeira paulista, como todos os anos.
O governador Abreu Sodré foi um dos que carregaram o esquife. Foi decretado luto oficial por três dias. Durante o enterro, ouviu-se a Canção do Expedicionário, pela Banda do 4º Regimento de Infantaria de Quitaúna, onde o Poeta servira. Os veteranos de 32 compareceram portando capacetes. Dom Agnelo Rossi, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, fez a encomendação. A missa de corpo presente foi rezada pelo Capelão Eliseu Murari.
Pela morte de Guilherme de Almeida, o governador Abreu Sodré, em julho de 1969, concedeu, por decreto, uma pensão mensal à viúva.
Guilherme de Almeida tinha premonições, acreditava na transmissão de pensamento, na mediunidade. Guardava, também, algumas superstições; pelo primeiro contato que tinha no seu dia, mesmo por telefone, adivinhava se a jornada seria boa ou má. Em várias declarações à imprensa, sempre demonstrou acreditar na imortalidade da alma e ter serenidade diante do grande mistério. Tinha particular devoção por Nossa Senhora da Luz e, em outubro de 1970, sua esposa ofereceu ao Museu de Arte Sacra uma coroa de prata do fim do século XVIII, em memória do Poeta, para com ela ser coroada a santa. No quarto de dormir do casal, havia um genuflexório. Na parede, uma Cruz, vinda de Jerusalém.
À beira do seu túmulo, falou o poeta Menotti Del Picchia em nome da Academia Brasileira de Letras. O poeta Oliveira Ribeiro Neto, então presidente da Academia Paulista de Letras, assim finalizou sua oração:
“Silêncio! Calem-se os tambores. Ajoelhai-vos todos, que na estrada de luz surge a Musa de Anchieta, a Virgem Maria, Tupan Ci Porangetê, a Mãe de Deus Formosíssima, que estende a mão divina ao Poeta que vacila. É Nossa Senhora da Porta do Céu, que lhe entrega as Chaves do Reino. Silêncio! A Academia Paulista de Letras se prosterna. De joelhos, São Paulo; de joelhos, Brasil”.
CASA GUILHERME DE ALMEIDA
Desde a morte do Poeta, Baby de Almeida passou a nutrir um sonho: transformar a casa onde residiam por tantos anos em um museu. O secretário de Cultura, Esportes e Turismo do Estado, Pedro de Magalhães Padilha, sugeriu ao governador Laudo Natel a desapropriação da casa do Poeta, a qual pertencia à viúva e ao único filho do casal, Guy. Concomitantemente à desapropriação, promoveu a Secretaria as incursões necessárias para aquisição do acervo contido no imóvel.
O processo levou cerca de sete anos, de 1970 a 1977, quando o governador Paulo Egydio formalizou a compra. A cerimônia de inauguração foi dia 13-3-79 pelo secretário de Cultura do Estado, Max Feffer.
Baby de Almeida mudou-se para perto da casa onde residiu com o marido, para poder sempre visitá-la. Em setembro de 1988, após longa enfermidade, foi juntar-se ao Poeta no mundo das estrelas.
Na casa Guilherme de Almeida, tudo se encontra no mesmo lugar em que o casal deixou: móveis, pratarias, porcelanas, objetos pessoais, livros, peças de arte, cerca de oitenta pastas com documentos e manuscritos, placas e medalhas, quadros – com muitos retratos do Poeta e da esposa, feitos por pintores famosos: Di Cavalcanti, Flexor, Rey Júnior, Lasar Segall, Wagner de Castro, Noemia Cavalcanti, Quirino da Silva, Gobbs.
A casa compõe-se de três pavimentos e um subsolo, com 360,83 m2 de área construída, e foi edificada em 1945; nela o casal residiu a partir de 1946. Está localizada nas imediações do Pacaembu, Rua Macapá, 187 (...).
Na casa há uma varanda, com rede, onde o Poeta descansava. Torcia pelo São Paulo Futebol Clube. Gostava de assistir à televisão, e o fazia em uma pequena sala ao lado do quarto duplo, de dormir, onde se vê a cama do casal, com dossel, feita por escravos mineiros. Mas seu lugar preferido era o sótão, de 5x4m, com paredes à prova de som, onde passava a maior parte do seu tempo, a escrever. Escrevia versos a mão, sempre a tinta; usava máquina só para artigos jornalísticos. E gostava de saborear açúcar enquanto trabalhava. No sótão há um curioso lavabo, com tampo de madeira que o fecha, servindo de mesinha. Há muitas fotos de amigos, a máquina antiga, papéis cheios de anotações, até um calendário a marcar o ano do desenlace do Poeta. Duas janelas se abrem para cada lado do sótão, de onde se divisa a cidade. Guilherme de Almeida dormia pouco, gostava de escrever até de madrugada, com janelas abertas, cigarros e uísque – a única bebida que apreciava.
A Casa Guilherme de Almeida é um monumento vivo em memória do Poeta. Mas, de toda a forma, Guilherme de Almeida é presença permanente. Foi um mago da Literatura, todo inteligência e coração. São Paulo amará para sempre o seu Poeta, o Poeta do Brasil. Nosso “Príncipe”, nosso Herói.
-x-x-x-x-x-
Maria Thereza Cavalheiro:
- Paulistana da gema, Poeta, Jornalista, Ensaísta, Contista, Cronista, Trovadora, Tradutora, Ecologista, Conferencista e Advogada, escreveu, entre outros: Antologia Brasileira da Árvore (1960) – Ed. Bartira; Poema da Cidade Azul (1963) – Ed. Cupolo; Nova Antologia Brasileira da Árvore (1974) - (Livr. Ed. Iracema, em co-edição com a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo); Colombina e Sua Poesia Romântica e Erótica (1987) – Ed. Scortecci; Estrelas e Vaga-lumes (1988) – Ed. Scortecci; Segredos do Bom Trovar (1989) – Ed. Scortecci; Relâmpagos (1990); Encontros e Desencontros (1992) – Ed. Scortecci; Cabeça de Mulher (1998) – Ed. Scortecci.