A VIA SACRA E A VIA-CRÚCIS
DE GUIGNARD
Guignard - Foto Acervo EBA-UFMG
A arte
sacra é repleta de obras dos grandes artistas plásticos maneiristas, barrocos,
góticos, renascentistas, expressionistas, impressionistas e modernistas. E,
quando se faz referências, normalmente surgem os nomes de Giotto, Botticelli,
Fra Angelico, Mantegna, Bellini, Correggio, Tiziano, Anton van Dyck, Grunewald,
Tintoretto, Antonello, Velázques, etc.
Mas é
importante saber que tivemos vários artistas brasileiros, pintores e
escultores, que também poderiam ser mencionados, tais como: Antônio Francisco
de Lisboa (Aleijadinho), Joaquim da Rocha, Frei Jesuíno de Monte Carmelo, Costa
Ataíde, Teófilo de Jesus, Brecheret, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti,
Portinari, Cláudio Pastro, etc.
Outro nome,
pouco lembrado e que muito contribuiu para a grandeza da Arte Sacra nacional é Alberto da Veiga Guignard, o
carioca&mineiro, nascido em Nova Friburgo (RJ) a 25 de fevereiro de 1896 e
falecido em 26 de junho de 1962, em Belo Horizonte, deixou um vasto acervo,
pouco conhecido. Suas pinceladas retrataram vários rostos de Cristo, São
Sebastião, Santo Antônio e a Via Sacra (14 estações, óleo sobre madeira).
A Via Sacra de
Guignard, “apesar de obedecer às 14
estações do martírio de Jesus estabelecidas pela iconografia litúrgica desde o
final do século XVI, a série põe no lugar do culto de piedade presumido nos
passos da paixão um sarcasmo doído, tragicômico, arrancado de formas
esgarçadas, numa espessura mínima e aguada de tinta. O percurso é protagonizado
por um Cristo agigantado, patético, longe do intuito de corroborar o enlevo e a
devoção que a antiga representação sacra prevê. A pulsante experimentação
cromática deste trabalho, com películas finas de vermelho, preto, roxo,
amarelo, laranja, verde, azul etc., tem aqui um ponto alto das configurações
abruptas e inesperadas que norteiam os últimos dez anos da trajetória do
artista, inclinada, na maioria das vezes, a insinuar alterações constantes na
ordem das coisas, do tumulto das nuvens, com pinceladas em caracol, às figuras
repuxadas por linhas finas, entre o demoníaco e o enfermiço” (1).
Podemos verificar em
várias obras de Guignard, principalmente nas obras sacras, sua “Via-Crúcis” –
sua vida dolorosa. Nasceu com abertura total entre a boca, o nariz e o palato
(lábio leporino). Ao completar 10 anos, o pai, a quem adorava, se suicidou com
um tiro de fuzil. No ano seguinte, a mãe casou-se com um barão alemão e
Guignard foi para a Europa. Devido o defeito, foi uma criança desnutrida e com
sérios problemas de crescimento. Passou por várias operações para corrigir este
defeito congênito durante a juventude, que resultou no fechamento parcial do
lábio superior, mas não impediu a regurgitação de alimentos nem diminuiu a
dificuldade para falar. Outro desastre na vida de Guignard foi seu casamento com
a estudante de música, em Munique, Anna Doring, que, em plena lua de mel
abandonou o artista. Sem recursos financeiros, viveu de empréstimos. Realizou
várias telas e vendeu para seu sustento e principalmente suas bebidas.
Reconhecido como artista, venceu e foi adotado por várias famílias abastadas de
Minas, inclusive o presidente Juscelino Kubistchek, grande admirador do
artista.
A Síntese
Biográfica de Guignard poderá ser vista em:
“Guignard fixou-se
morada em Minas Gerais. Pintou, desenhou, foi professor de pintura, participou
de várias exposições e foi admirado por vários intelectuais, como Carlos
Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Ismael Nery, Cícero
Dias, Goeldi, Portinari, Cecília Meirelles e outros.
Guignard, em 1960,
morando em Ouro Preto, foi para o Rio de Janeiro a convite do governador Sette
Câmara. Lá pintou, em ritmo frenético, os 14 quadros que compõem a Via Sacra
encomendada pelo governador para a Capela São Daniel, em Bonsucesso.
Ao ficar pronta, a
“A Via Sacra” causou certa polêmica entre os padres quanto à forma usada por
Guignard ao pintar Jesus Cristo. Afinal, foi colocada na capela, mas seu desconhecimento
deve-se à localização, já que a capela ficava dentro de um conjunto
habitacional, na época de acesso bem complicado. Quem viu, provavelmente não
teve a dimensão exata da obra de Guignard. Pois para não serem danificados, os
14 quadros foram pendurados no alto da parede.
Por fim, os próprios
padres, temendo danos, solicitaram que a Via Sacra fosse retirada. E os quadros
voltaram aos verdadeiros donos, já que ao pintar, Guignard escreveu uma
dedicatória atrás de cada quadro e assinou. De modo que a Via Sacra não foi
doada à pequena capela e, sim, emprestada.
Todo esse processo
provocou o desconhecimento das obras, expostas pela primeira vez. Para tanto,
foi criado um espaço semelhante ao da capelinha redonda, especialmente para que
os visitantes admirassem a Via Sacra” (2).
Na
sequência a “A VIA SACRA” de GUIGNARD
NOTAS
(1)
Ribeiro, José Augusto. Guignard e o ambiente artístico no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, área de concentração Teoria, Ensino e
Aprendizagem da Arte, linha de pesquisa História, Crítica e Teoria da Arte, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009, pdf;
(2)
Daddario, Heloisa. O
Reino de Guignard. Catálogo da Exposição: “O Humanismo Lírico de Guignard”.
Museu Nacional de Belas Artes, RJ e Museu de Arte de São Paulo, SP, 2000 – p.
25.
Fontes Pesquisadas:
-
Andrade, Alessandra Amaral. A Presença
Feminina na “Escolinha do Parque”: Trajetórias de Vida de Ex-Alunas de Guignard.
Dissertação Pós-Graduação. Universidade Federal de Minas Gerais, 2008;
-
Amaral, Aracy A. Artes Plásticas na
Semana de 22. Editora 34, São Paulo, 1998;
-
Batista, Marta Rossetti; Lima, Yone Soares de. Coleção Mário de Andrade – Artes Plásticas. IEB/USP, São Paulo,
1984;
-
Aulicino, Marcos Rodrigues. O Distante
Próximo, o Próximo Distante: a elaboração de um espaço imaginário nas paisagens
de Guignard. Tese de Doutorado – Universidade Estadual de Campinas, São
Paulo, 2007;
-
Catálogo da Exposição: “O Humanismo Lírico de Guignard”. Museu Nacional de
Belas Artes, RJ e Museu de Arte de São Paulo, SP, 2000;
-
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, por José Augusto Pereira Ribeiro, Escola
de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo. São Paulo, 2009, pdf;
-
Morais, Frederico. Panorama das artes
plásticas: séculos XIX e XX. Apresentação de Ernest Robert de Carvalho
Mange. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1989.
-
Pousa, Fabrize Santos. As Artes Plásticas
em Belo Horizonte, de 1918-1944: Aníbal Mattos e Seu Tempo. Estudo pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, sd;
-
Rosa, Rafael Vogt Maia. Inútil Paisagem. Seção
Crítica – Artes Plásticas, da Revista Novos Estudos n.º 57 – Julho de 2000 –
Págs. 177 a 181 – publicação do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(Cebrap).
Outras Fontes:
http://www.museusouropreto.ufop.br/index.php?option=com_content&view=article&id=80&Itemid=83
– acesso em 2015
http://www1.cultura.mg.gov.br/index.php?acao=busca_cronologiaAlberto
– Acesso em 2017
http://mam.org.br/exposicao/alberto-da-veiga-guignard/
- acesso em 2015
http://www.pesquisaguignard.eba.ufmg.br/ -
acesso em 2016
http://www.museuguignard.mg.gov.br – último
acesso: fevereiro de 2018.
Última atualização - 17/2/2018 - Luiz de Almeida
Nenhum comentário:
Postar um comentário