RODRIGUES DE ABREU, O
POETA:
ROMÂNTICO, SIMBOLISTA
OU MODERNISTA?
Introdução
“O grande artista é o poeta, que torna visível o invisível”.
(Sérgio Milliet)
O objetivo deste trabalho é tornar visível a pessoa e a obra do poeta
tísico Rodrigues de Abreu. Certamente, caso sua obra fosse
exaustivamente divulgada, de nada precisaria, mas não é isso que acontece. A
invisibilidade cultural literária brasileira para com determinados personagens
é degradante. Então, o Blog Retalhos
do Modernismo, atendendo aos seus propósitos, simples e diretos, um deles, que nada
mais é: “relembrar” (ou seria ‘tornar visível’) através de postagens
sintetizadas, a vida e a obra daqueles que realmente merecem visibilidade. Não
existe a intenção de trazer novos ensinamentos, pois estaria sendo soberbo em
demasia depois de conhecer as obras sobre Rodrigues de Abreu, de autoria de
José Roberto Guedes de Oliveira e Carlos Lopes de Mattos, que foram as bases da
pesquisa.
Facilitar a pesquisa e divulgar os literatos, músicos e artistas
plásticos pré-modernistas, os grandes personagens da Semana de Arte Moderna de
22 modernistas, os da 1ª fase do Modernismo no Brasil, tudo isso é pertinente
ao Blog Retalhos
do Modernismo e intrínseco aos seus objetivos.
Rodrigues de Abreu foi modernista? Não foi um poeta simbolista ou
romântico?
Rodrigues chegou a mencionar a Hildebrando Siqueira:
“Não pude ainda me libertar deste romantismo piegas. Dizem que é mal de
família. (...). A minha educação é de seminário. É difícil livrar-me, não é?
Mas, você não acha que artificialismo e intelectualismo são ainda piores que
lamúrias de Cassimiro de Abreu?”.
Vários críticos literários colocam Rodrigues, hora num, hora noutro
“movimento”. Particularmente, não sendo um crítico literário, incluo Rodrigues
apenas como: “O único Poeta que escreveu simbolicamente a vida de forma
romântica e moderna”. Neste estudo não me importei, mesmo depois de ler
vários depoimentos críticos, evidenciar uma classificação nos ismos.
Creio ser desnecessária. Simplesmente me apaixonei pela obra e sofri... Meu
Deus... Pela vida, curta como foi a de um dos meus filhos, a de Benedicto
Luís Rodrigues de Abreu. E posso afirmar:
- A pessoa de Rodrigues de Abreu foi tão apaixonante quanto sua obra.
Ele sofreu e chorou muito. Sua obra é repleta de dores e lágrimas. A humildade,
a simplicidade e a pobreza do tísico Abreu são visíveis em cada poema, tornando
invisíveis na forma e no estilo. Ao falar de Rodrigues de Abreu devemos fazer
genuflexão. Não que tenha sido um santo. Mas seu caráter e sua obra requerem.
Muitos foram os letristas que se apaixonaram extasiados pelos textos de
Rodrigues, tais como: Amadeu Amaral, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti
Del Picchia, Drummond de Andrade, Plínio Salgado. Paulo Setúbal chegava às
lágrimas ao ler poemas de Rodrigues. Eram amigos. Para Plínio Salgado, “Rodrigues
foi maior do que todos os nossos fazedores de estilos”. Menotti Del Picchia
disse: “Rodrigues de Abreu é um dos maiores poetas brasileiros... É o Cristo
da nova geração”.
Atualmente Rodrigues de Abreu é reverenciado em Capivari, sua terra
natal, e em Bauru, onde repousa seus restos mortais. É muito pouco. Rodrigues é
ainda um poeta invisível aos mundos literário e cultural paulista e brasileiro.
Após tempo pesquisando, cheguei a cometer o sacrilégio de pensar que
Rodrigues de Abreu poderia ter sido indicado para a Academia Brasileira de
Letras. Não... Enganei-me. Atualmente, as atitudes dessa instituição são de
intensa lugubridade. As atividades recentes da Academia tem feito Machado de
Assis “rolar no túmulo”, como cita o dito popular. Na verdade, foi mesmo
um sacrilégio ter pensado Rodrigues de Abreu acadêmico. A Academia não merece
Rodrigues de Abreu. Ela é muito pequena para Rodrigues de Abreu. Fique ela com
seus nefastos políticos metidos a escritores e continue homenageando jogadores
de futebol e politiqueiros de ocasião. Que mediocridade!!! É de provocar vômitos.
Fui até Bauru. Visitei a biblioteca que leva o nome imponente de: Biblioteca
Municipal Rodrigues de Abreu. Não poderia deixar de visitar, na Rua 4,
Quadra 5, do Cemitério da Saudade, o jazigo perpétuo do poeta. Um tisco naquela
imensidade tumular... Humilde, mas com pedras robustas, carinhosamente
escolhidas por amigos. Até o epitáfio é tão raquítico como era o físico daquele
que agora ali repousa. E mais uma vez, mesmo no silêncio tumular, Rodrigues de
Abreu ainda faz-nos chorar.
Fotos de Luiz de Almeida
Nesta Síntese Biográfica, o Blog Retalhos
do Modernismo espera despertar ainda mais o interesse, principalmente daqueles que
ainda não tiveram o privilégio e conhecer a vida e a grande obra literária
desse ícone, dantes simbolista, romântico e convertido ao modernismo. Procurem
pelos livros que falam de Rodrigues e os das suas obras, mencionados nesta
Síntese. Caso alguém tenha interesse por algum poema, carta ou a apostila do
Rodrigues com esta Síntese Biográfica, entre em contato, pois o blog
disponibiliza link para que isso seja feito. Critiquem, sugiram, comentem...
Mas não deixem de conhecer a obra daquele que Jácomo Mandatto (1933-2009),
escritor, historiador, poeta e jornalista, que carinhosamente classificou
Rodrigues de Abreu de: “O Primo Pobre do Modernismo Brasileiro”.
Luiz de Almeida
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SÍNTESE BIOGRÁFICA
NOTAS:
1 - Em letras azuis: a Síntese Biográfica com dados da vida e obra de Rodrigues de Abreu;
2 – Para facilitar a leitura o nome Rodrigues de Abreu foi abreviado por RA na descrição biográfica, conservando o
nome completo nos textos de terceiros;
3 – Nos Adendos “Cultural, Brasil e Geral”, foram descritas informações
históricas referentes ao ano indicado;
4 – As referências não adicionadas no bojo do texto estão descritas na
Bibliografia Utilizada para Pesquisa e em Outras Fontes Pesquisadas, no final
do texto;
5 – O Blog Retalhos
do Modernismo disponibiliza, em pdf, a Síntese Biográfica com outros textos, bastando
os interessados solicitarem através do “Entre em Contato”, janela
disponibilizada na página de rosto do Blog, como também poderão utilizar dessa
mesma janela para notificar o Blog, caso sejam encontrados dados incorretos no
bojo da Síntese Biográfica e mesmo sugerir dados inexistentes.
1897
–
27 de setembro: nasce Benedito
Luís Rodrigues de Abreu,
na fazenda Picadão, município de Capivari (cidade fundada em 1832), São Paulo,
fazenda de propriedade do Dr. Albano do Prado Pimentel. Seus pais, Narciso
Rodrigues de Abreu (vulgo Nhozinho) e Leonor Rodrigues da Silva (Na certidão de
nascimento aparece com o nome de solteira: Leonor Ribeiro da Silva). Os pais de
RA casaram-se em 15 de março de 1896, na
igreja Santa Efigênia, em São Paulo. Logo após o casamento mudaram para
Capivari, trabalhando no setor agrícola, plantação de café em terras de Albano
do Prado Pimentel, empreitada realizada pelo tio de RA, irmão de Da. Leonor. Em 10 de
dezembro, em Capivari, data do batizado de RA, realizado pelo Pe. Manoel José Marques
(Permaneceu em Capivari de 1890 a 1907. Faleceu em 1919), os pais também
registraram Benedito. No registro aparece apenas o nome: “BENEDICTO”. Assinou
como testemunha do registro de Benedito, José do Prado Vicente, futuro pai
daquela que seria o grande amor, a grande paixão do poeta.
Reprodução pelo processo digital
-
RA teve como irmão, Agatângelo Rodrigues de
Abreu (faleceu em 1929), e como irmã, Anésia Rodrigues de Abreu, que foi casada
com o bauruense Gabriel Cara Ruiz.
Adendo Cultural: 28 de julho: numa
sala do Museu Pedagogium, Rua do Passeio (RJ), realizou-se a sessão inaugural
da Academia Brasileira de Letras, sob a presidência do escritor Machado de
Assis (1839-1908) e com a presença de dezesseis acadêmicos. O discurso
inaugural foi feito por Joaquim Nabuco (1849-1910).
Adendo Brasil: Janeiro: inauguração
do telégrafo submarino entre Rio de Janeiro e Pernambuco. 22 de setembro: morte
do Antonio Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel). Nasceu em Quixeramobim
(Ceará) em 13 de março de 1830 e faleceu em Canudos (Bahia) em 22 de setembro,
líder da comunidade da cidade de Canudos (Bahia), onde ocorreu a Guerra dos
Canudos. Em outubro: fim da Guerra dos Canudos, que morreram mais de 25 mil
pessoas e a cidade de Canudos foi destruída. O escritor Euclides da Cunha
(1866-1909) era repórter do O Estado de S. Paulo e foi designado para
fazer a cobertura dos acontecimentos em Canudos. No livro Os Sertões,
Euclides descreve como era a comunidade de Canudos liderada pelo beato Antonio
Conselheiro. Pudente de Morais (1841-1902) era o presidente do Brasil. 12 de
dezembro: Ouro Preto deixou de ser a capital de Minas Gerais, cedendo lugar
para a recém-construída “Cidade de Minas”, que, em 1991, passaria a se chamar
Belo Horizonte.
Adendo Geral: O ilusionista
espanhol Enrique Moya aluga uma sala no número 109 da rua do Ouvidor, no Rio de
Janeiro, e ali instalou o Cinematógrafo Edison, primeiro salão de cinema
permanente no Brasil. O físico inglês Joseph John Thomson (1856-1940) anuncia
em 30 de abril, na Royal Institution, a descoberta do elétron
(eletricidade negativa). Até então o átomo era considerado como a menor parte
da matéria. Thomson receberia o Prêmio Nobel de Física em 1906.
1898
– (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: Dia 15 de fevereiro,
o Teatro São José, construído próximo ao largo de São Gonçalo (hoje Pça João
Mendes), em São Paulo, foi destruído por um incêndio. São Paulo ficava sem
teatro. 12 de março, em Santos (SP): nasce o escritor Ribeiro Couto (faleceu em
1963). 14 de março: morre de tuberculose o poeta catarinense, Cruz e Souza, aos
37 anos, na cidade de Sítio (MG). O poeta é considerado o mais importante
escritor simbolista da literatura brasileira. Nasce o futuro amigo de RA, Agnelo Rodrigues de
Melo, que seria conhecido pelo pseudônimo de Judas Isgorogota (jornalista e
poeta), em Lagoa da Canoa, município de Traipu, em Alagoas. 4 de agosto: nasce
em Pinhal, município de Santa Maria (RS), o poeta Raul Bopp (faleceu em 1984),
autor de Cobra Norato. 20 de setembro: nasce em S. Paulo o escritor
modernista, crítico de artes Sérgio Milliet (faleceu em 1966).
Adendo Brasil: Campos Sales
(1841-1913) inicia seu governo como presidente da República que findará em
1902. Vital Brasil (1865-1950), no Instituto Bacteriológico de São Paulo,
descobre o primeiro soro eficaz contra a picada de cobras.
Adendo Geral: O físico italiano, Guglielmo Marconi
(1874-1937), durante exposição em Londres patenteou o seu telégrafo sem fio, e
mais tarde, a radiodifusão. Na França, Santos-Dumont (1873-1932), em setembro,
passeava pelos céus de Paris no Santos-Dumont nº 1, um balão com um
motor a gasolina e provido de hélice e leme.
1899
– (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: Amadeu Amaral
(1875-1929), conterrâneo de RA, publica seu primeiro livro Urzes.
16 de junho, no Rio de Janeiro: nasce o poeta Dante Milano. 14 de julho: nasce
em Campinas (SP), outro escritor modernista: Carlos Tácito Alberto de Almeida
Araújo (Tácito de Almeida, faleceu em 1940), irmão do poeta Guilherme de
Almeida (1890-1969). 10 de Agosto, na cidade de Amparo da Barra Mansa (RJ):
nasce Flávio de Carvalho (faleceu em 1973), futuro artista plástico e amigo de RA.
Adendo Brasil: Sugerido por Adolpho
Lutz (1855-1940), o Governo do Estado de São Paulo criou, na capital, o
Instituto Soroterápico (futuro Butantã), que seria dirigido por Vital Brasil.
Adendo Geral: A Primeira
Conferência da Paz teve lugar em Haia, Holanda, no período que se estendeu de
18 de maio a 19 de julho. A ela compareceram delegados de 26 países: 20
europeus, ou seja, a totalidade dos países da Europa na época; quatro
asiáticos, China, Japão, Pérsia e Sião, e dois do continente americano, EUA e
México. O Brasil não enviou nenhum representante.
1900
– (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: Nasce, em Belo Horizonte (MG), a artista plástica modernista Zina Aita
(faleceu na Itália em 1967).
Adendo Brasil: Comemorações do IV Centenário do Descobrimento do Brasil. 7 de maio: em
São Paulo, foi inaugurada a primeira linha de bonde elétrico, com destino ao
bairro da Barra Funda.
1901
– (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: Nasce na cidade de
São Paulo o escritor Alcântara Machado (faleceu em 1935), um dos fundadores da
revista Terra Roxa e Outras Terras, autor de Brás, Bexiga e Barra
Funda. Nasce o escritor paraibano José Lins do Rego. Em Juiz de Fora (MG),
nasce o poeta Murilo Mendes. No Rio de Janeiro nasce a poeta Cecília Meireles
(faleceu em 1964). Ainda em São Paulo, em 19 de maio, nasce o poeta bissexto
Luís Aranha (faleceu em 1987), participante da Semana de 22 e da Revista Klaxon;
Adendo Brasil: 19 de outubro:
Santos-Dumont pilotando o balão nº 6, dá a volta em torno da torre Eiffel, em
Paris, percorrendo 11 quilômetros.
1902
– (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: 31 de outubro: nasce
em Itabira (MG), o poeta Carlos Drummond de Andrade, ano em que foi publicado Os
Sertões, de Euclides da Cunha e Canaã, de Graça Aranha (1868-1931).
Adendo Brasil: 15 de novembro: Rodrigues
Alves (1848-1919) assume o poder como presidente do Brasil e começa a
reconstruir e sanear o Rio de Janeiro. Irá governar até 1906.
1903 – (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: 5 de junho: início
das obras do futuro palco da Semana de Arte Moderna de 1922, o Teatro Municipal
de São Paulo, um projeto de Ramos de Azevedo (1851-1928).
Adendo Brasil: 28 de maio: em São
Paulo, realiza-se o II Congresso Socialista (o I é de 1892), que funda o
Partido Socialista do Brasil. No Rio de Janeiro acontece novo surto de febre
amarela. Também no Rio, em agosto, acontece uma greve geral pela jornada de 8
horas e por melhores salários. Em novembro: o Acre é incorporado ao Brasil,
mediante indenização à Bolívia de 2 milhões de libras esterlinas, pelo Tratado
de Petrópolis. Oswaldo Cruz (1872-1917) inicia campanha de saneamento para
combater a febre amarela no Rio de Janeiro.
1904
–
A família muda-se para Recreio, próxima de Piracicaba, São Paulo, residindo na
zona rural, onde RA inicia seus primeiros estudos numa
escola rural. Fez todo curso primário, quatro anos, no Externato Sagrado
Coração de Jesus, em Piracicaba;
Adendo Cultural: 15 de julho: nasce na
cidade de Lambari (MG), a poetisa Henriqueta Lisboa (faleceu em 1985).
Adendo Brasil: Inaugurado o primeiro
cinema brasileiro no Rio de Janeiro. 31 de outubro: Aprovada a lei de vacinação
obrigatória contra a varíola. No Rio de Janeiro explode a revolta popular
contra a vacinação obrigatória.
1905 – (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: 2 de janeiro: início
das obras para construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Surge no Rio
de Janeiro a primeira revista brasileira de histórias em quadrinhos para
crianças: O Tico-Tico. 17 de dezembro: nasce o escritor Érico Veríssimo.
Adendo Brasil: Em Bauru (SP), a
cidade que acolheria RA na década de 20, chegava a Estrada de
Ferro Sorocabana, ligando Bauru à cidade São Paulo pelo ramal de Botucatu (SP).
No ano seguinte (1906), começava em Bauru a abertura da Estrada de Ferro
Noroeste. Lançadas as candidaturas para presidente e vice-presidente de Afonso
Pena (1847-1909) e Nilo Peçanha (1867-1924). A Light, empresa canadense
fundada em 1899, começa sua atuação no Rio de Janeiro. Já atuava na cidade de
São Paulo.
1906 – (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: Criado em S. Paulo o
Conservatório Dramático e Musical.
Adendo Brasil: No Rio de Janeiro
acontece a Conferência Pan-Americana. Em Taubaté (SP) é assinado o “Convênio de
Taubaté”, visando favorecer os cafeicultores. Início das primeiras greves
operárias no Brasil. 15 de novembro: posse do presidente da República Afonso
Pena e o vice Nilo Peçanha. Irão governar até 1909.
Adendo Geral: 23 de outubro:
primeiro voo em avião, o 14-Bis, por Santos-Dumont, em Paris.
1907 – (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: No Rio surge a
revista Fon-Fon! - que foi o reduto dos simbolistas. O artista espanhol
Pablo Picasso (1801-1973), (Registrado com o nome: Pablo Diego José Francisco
de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima
Trinidad Martyr Patricio Clito Ruíz y Picasso), lança o Cubismo.
Adendo Brasil: Em maio: começa uma
greve geral em São Paulo, onde os trabalhadores reivindicam a jornada de 8
horas de trabalho e aumento salarial. A greve durou um mês.
Adendo Geral: Ocorre a II Conferência de Paz em Haia,
de 15 de junho a 19 de outubro. Compareceram não só delegações dos Estados que
participaram do primeiro encontro, mas também a Noruega (já, então, separada da
Suécia), a Argentina, a Bolívia, o Brasil, o Chile, a Colômbia, Cuba, República
Dominicana, Equador, Guatemala, Haiti, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru,
Salvador, Uruguai, Venezuela e Honduras. O Brasil é representado pelo senador
Rui Barbosa (1849-1923).
1908 – (Nenhum registro encontrado sobre RA)
Adendo Cultural: 29 de setembro: morte
de Machado de Assis, escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras.
Nasce o escritor Guimarães Rosa. No Rio de Janeiro é lançado o filme do
cinematógrafo Pathé, Nhô Anastácio Chegou de Viagem, considerado a
primeira comédia nacional. Surge no Rio a revista Careta que foi reduto
dos parnasianos.
Adendo Brasil: 7 de abril: o
socialista Gustavo de Lacerda (1854-1909), funda a Associação de Imprensa, mais
tarde Associação Brasileira de Imprensa (ABI), com objetivo de defender a
liberdade de expressão e os interesses dos jornalistas. Em maio: aprovada é
aprovada a Lei do Serviço Militar obrigatório, iniciativa do marechal Hermes da
Fonseca (1855-1923), então Ministro da Guerra. Em Bauru (SP), era inaugurado o
Sistema de Telefonia.
1909
–
A família muda-se para a cidade de São Paulo, residindo no Bairro do Brás,
Rua Maria Marcolina. RA inscreveu-se no Grupo Escolar daquele
bairro. Logo depois a família muda-se para a Vila Buarque, onde passa a
trabalhar como lavador de frascos e como entregador numa farmácia;
Adendo Cultural: Lima Barreto
(1881-1922) surge no cenário literário com Recordações do Escrivão Isaías
Caminha. O escritor italiano Filippo Marinetti (1876-1944) lança o Primeiro
Manifesto Futurista. 14 de julho: inauguração do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro pelo presidente Nilo Peçanha, com capacidade para 1.739 espectadores.
15 de agosto: assassinato do escritor Euclides da Cunha por Dilermando de
Assis. 29 de novembro: Joaquim José de Carvalho (1850-1918) funda a Academia
Paulista de Letras.
Adendo Brasil: 15 de junho: morre o
presidente Afonso Pena. Posse de Nilo Peçanha. Seu governo terminará no ano
seguinte. A campanha para presidência da República, em 1909-10, foi a primeira
efetiva disputa eleitoral da vida republicana. O marechal Hermes da Fonseca,
sobrinho de Deodoro, saiu candidato com o apoio do Rio Grande do Sul, de Minas
Gerais e dos militares. São Paulo, na oposição, lançou a candidatura de Rui
Barbosa, em aliança com a Bahia.
Adendo Geral: Santos-Dumont, em 13 de novembro, em
Paris, apresenta outro avião construído por ele, o Demoiselle, oito
vezes menor que o 14-Bis, e capaz de voar a 96 km por hora.
1910/11
–
RA foi internado no “Liceu Coração de
Jesus”, dos padres Salesianos, em Lorena (SP), para aprender um ofício;
Adendo Cultural: 9 de junho de 1910:
nasce em São João da Boa Vista (SP), Patrícia Rehder Galvão, a Pagu (faleceu em
1962). Em 26 de setembro de 1910: nasce Carlos Lopes de Mattos. Foi filósofo,
professor e escritor. Pesquisador de RA, publicou em 1986 o livro: Vida,
Paixão e Poesia de Rodrigues de Abreu. Faleceu em Capivari, em 1993. Em
agosto de 1911, Oswald de Andrade (1890-1954) e Emílio de Menezes fundam o
semanário humorístico O Pirralho. Em 1911, Mário de Andrade (1893-1945)
ingressa no Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo. 12 de setembro:
com apresentação da ópera Hamlet, de Ambrósio Thomas, é inaugurado o Teatro
Municipal de São Paulo. 14 de setembro: Morre o poeta Raimundo Correia.
Graça Aranha publica Malazarte. Lima Barreto inicia a publicação de Triste
Fim de Policarpo Quaresma em folhetins pelo Jornal do Comércio do
Rio de Janeiro.
Adendo Brasil: Hermes da Fonseca era
eleito presidente da República, em 1º de março de 1910 e, em 15 de novembro
toma posse, abalando a “política do café com leite” pondo em prática a chamada
“política das salvações”, visando assim acabar com as oligarquias cafeeiras e
concentrar o poder. Durante o governo de Hermes da Fonseca ocorreu a Revolta da
Chibata (*) no Rio de Janeiro, de
22 a 27 de novembro. Foi um levante de cunho social, realizado em subdivisões
da Marinha, sediadas no Rio de Janeiro. O objetivo era por fim às punições
físicas a que eram submetidos os marinheiros, como as chicotadas, o uso da
santa-luzia e o aprisionamento em celas destinadas ao isolamento. Os
marinheiros requeriam também uma alimentação mais saudável e que fosse colocada
em prática a lei de reajuste de seus honorários, já votada pelo Congresso.
Hermes da Fonseca governou até 1914. O ano de 1910 a tuberculose, considerada Mal
do Século, matou mais 3 mil pessoas no Rio de Janeiro. Em 16 de março de
1911, era inaugurado o Sistema de Iluminação na cidade de Bauru (SP).
(*)
Santana Mirian, Ilza. In:
http://www.infoescola.com/historia/revolta-da-chibata/ - Acesso em junho/2016.
1912
-
Os padres acreditavam que RA tinha forte vocação para o Sacerdócio e o
encaminharam como aspirante para Cachoeira do Campo, Minas Gerais;
Adendo Cultural: Ronald de Carvalho
(1893-1935) publica seu primeiro livro de poesias: Luz
Gloriosa.
Adendo Brasil: Em S. Paulo, 17 de
maio, começam as greves operárias reivindicando aumento de salário devido o
aumento da inflação. Francisco de Paula Rodrigues Alves é o governador do
Estado de São Paulo. Seu governo termina no ano seguinte.
1913
- Cursando o segundo ano, RA foi acometido de grave doença nervosa
que o forçou a abandonar os estudos e regressar a São Paulo, tratando-se no
Instituto Jaguaribe. Nesse ano, RA toma conhecimento das artes literárias e
poéticas;
Adendo Cultural: 19 de outubro: nasce
no Rio de Janeiro, Vinícius de Moraes. Mário de Andrade é contratado como
professor do Conservatório de São Paulo, para lecionar História da Música.
Menotti Del Picchia (1892-1988) publica seu primeiro livro de poemas: Poemas
do Vício e da Virtude: 1907-1913. Lasar Segall (1891-1957) faz sua
primeira exposição individual, em São Paulo, inaugurada no dia 2 de março e
encerrada a 5 de abril, à Rua São Bento, 85.
Adendo Brasil: 28 de junho: morre o
ex-presidente Campos Sales.
1914
–
O colégio onde RA estudava é transferido para Lavrinhas,
divisa com o Estado do Rio de Janeiro, no Colégio São Manuel. Estudou nesse
Colégio durante três anos, até 1916;
Adendo Cultural: Morte do poeta
paraibano Augusto dos Anjos. Anita Malfatti (1889-1964) realiza sua primeira
exposição em São Paulo após seu retorno da Europa, em maio, à Rua 15 de
Novembro, nº 26.
Adendo Brasil: 1º de março,
Venceslau Brás (1868-1966) elege-se presidente da República e toma posse em 15
de novembro. É o retorno da política do “café-com-leite”.
Adendo Geral: Julho: na Iugoslávia,
o Arquiduque austríaco Francisco Ferdinando é assassinado, em Sarajevo, por
Gavrilo Princip, nacionalista sérvio. Esse acontecimento foi um dos estopins da
Primeira Grande Guerra que teve início em 4 de agosto, quando a Alemanha
declara guerra à França.
1915
–
Segundo depoimento do Prof. Galvão de Castro foi nesse ano que RA compôs seu primeiro poema: “O
Famélico”, inspirado em Pedro Ivo, de Castro Alves;
Adendo Cultural: Lima Barreto publica Numa
e a Ninfa. Cassiano Ricardo (1895-1974) publica Dentro da Noite, seu
primeiro livro de poemas.
Adendo Brasil: Nilo Peçanha toma
posse com a retaguarda das tropas federais. Rodrigues Alves retorna a governar
o Estado de São Paulo. Seu mandato termina no ano seguinte. É aprovado o Código
Civil Brasileiro, disciplinando o Direito privado. 8 de setembro: o gaúcho
Pinheiro Machado, nascido em 8 de maio de 1851, político influente na esfera
federal, é assassinado no Rio de Janeiro.
1916
–
Outubro: RA deixa o seminário. Vai para São Paulo a procura de
emprego. É admitido como professor de latim e português no Liceu Sagrado
Coração de Jesus, dos padres salesianos. Nas Edições de Novembro (25/11) e
Dezembro (9/12) da revista Ave Maria, são editadas poesias de RA: “O Caminho do Exílio” e “A
Virgem Maria”, onde o poeta assina “Benedito Abreu”:
O
CAMINHO DO EXÍLIO
O
imaculado céu, que foi pátria da aurora
e
que cobre o país dos filhos de Israel,
cobria
a caravana errante e sonhadora
no
rumo que seguira Agar mais Ismael...
E
mais o canto ardente e a voz larga e sonora
do
Alarve dava vida à Pátria de Raquel...
E
a tarde que descia, imaculada embora,
vertia
uma saudade amarga como fel.
Entanto
a Peregrina, a Rosa, a Maga, a Linda,
seguia
silenciosa a inquieta caravana
perdendo
a vista atrás, as terras da Judéia...
E
tinha em seu olhar silente, meigo ainda
o
pranto da saudade imensa da serrana
mansão
de seus avós, da sua raça hebréia.
-x-x-x-x-x-
A
VIRGEM MARIA
As
virações da tarde suspirantes,
pura
Maria,
passam
gemendo, gemem odorantes,
à
flor das vagas tépidas errantes
à
luz do dia
do
teu nome celeste a melodia...
M
A R I A !
E
a vaga enfim, ao ser assim beijada,
tem
mais poesia!
E
a luz do dia pálida e magoada
-
se acaso do teu nome é bafejada –
sua
agonia
despe.
Ridente brilha o que morria
M
A R I A !
Porque
Rosa, Tu és a mais formosa
Rosa,
ó Maria!
Mais
pura e linda e mais linda e saudosa
que
a filha de Labão triste e chorosa,
doce
Maria,
que
ela, brilhando em meio da agonia
do
ermo imenso, imensa como um dia
M
A R I A !
Porque
Raquel foi mística miragem,
bela
Maria,
de
Ti, do Rosto teu! Lassa visagem
que
aparecia,
muito
imperfeita mas de Ti imagem,
nas
tendas do deserto em que vivia
M
A R I A !
Linda
Maria! quando eu vejo a vida,
calma
Maria,
sem
porto de esperança, a alma descrida,
na
ventania
o
fel vertendo vai, lágrima havida,
que
me deixou sem luz, sem lar, sem dia,
M
A R I A !
Mas
Tu, deste deserto, pomba errante,
rósea
Maria,
estende
a mão do lânguido viajante!
Brilha
ao triste pastor gemendo arfante,
doce
Maria,
e
eu cantarei a tua melodia
M
A R I A !
Como
o Alarve e também o Beduíno,
pura
Maria,
te
busco, ó minha Fonte!... Alvor divino
sana
a ferida... O ocaso vespertino
e
a ventania
chegam;
nos braços teus, doce Maria,
acolho-me!
Açucena, Virgem Pia
M
A R I A !
Adendo Cultural: Oswald de Andrade e
Guilherme de Almeida publicam Théâtre Brésilian (prosa).
Adendo Brasil: É publicado por
Álvaro Bomilca estudo sobre o preconceito de raça no Brasil. Altino Arantes
Marques (1876-1965) assume o governo do Estado de São Paulo.
1917
–
Em São Paulo, RA como professor, permaneceu lecionando,
até princípios de 1918, no Liceu Sagrado Coração de Jesus;
Adendo Cultural: Manuel Bandeira
(1886-1968) publica A Cinza das Horas. Mário de Andrade, com o
pseudônimo de Mário Sobral, publica Há uma gota de sangue em cada poema. Cassiano
Ricardo publica A frauta de Pã. Guilherme de Almeida publica seu
primeiro livro: Nós. Menotti Del Picchia: Juca Mulato e Máscaras.
Ano marcado como o “ano chave” para o agrupamento dos intelectuais paulistas
(entre eles: Mário e Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida) logo após a
exposição da pintora Anita Malfatti, em S. Paulo, Rua Líbero Badaró, iniciada
no mês de dezembro e concluída em janeiro de 1918, quando Monteiro Lobato
(1882-1948) publicou no “Estadinho”, órgão de “O Estado de S. Paulo”,
o artigo “Paranóia ou Mistificação”, atacando violentamente a jovem
artista. Sérgio Milliet (1898-1966) publica Par le Sentir (Pelo Tato), na
França.
Adendo Brasil: 25 de outubro: os
alemães afundam o navio brasileiro “Macau”. O Brasil declara guerra à Alemanha.
Em São Paulo, greve geral imobiliza todo parque industrial. No Brasil acontece
a famosa “queima” de 3 milhões de sacas de café com alegação de evitar a queda
de preços no mercado internacional.
Adendo Geral: Acontece a Revolução
de Outubro, na Rússia.
1918
–
Em maio, a família retorna para Capivari. RA começa a trabalhar na Caixa de Crédito
Agrícola, como guarda-livros. Começa a frequentar a redação da Gazeta de
Capivari e do O Município, tornando-se colaborador de ambos. Em
2 junho, estreia com o soneto Capivari, na Gazeta e, Olhos
Verdes, em O Município. Em 10 de junho, como narrado no O
Município, por A. Serrano Castro Neves, RA foi orador numa sessão promovida pelo vigário,
Cônego Samuel Fragoso, no teatro, em benefício do Asilo dos Inválidos. Desse
dia em diante, o poeta passou a ser o orador oficial da cidade em todos os
eventos. 12 de outubro: ressurge o “Capivariano Futebol Clube” e RA torna-se presidente da diretoria. 11 de novembro:
de uremia, morre a mãe. Em 8 de dezembro é publicado no O Município, o
poema: “Nas Trevas”. 28 de dezembro: morte de Olavo Bilac, e RA dedica-lhe um poema no O Município;
Adendo Cultural: Monteiro Lobato, em
maio, adquiri a Revista do Brasil, que a manteve nos sete anos
seguintes, até a falência dos seus negócios em 1925, totalizando 113 números.
Publica Urupês. 18 de dezembro: morre Olavo Bilac. Lima Barreto remete a
Monteiro Lobato os originais do Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Adendo Brasil: A “gripe espanhola”
faz milhares de vítimas. Em São Paulo morrem mais de 8 mil pessoas no mês de
outubro. No Rio de Janeiro, a situação foi mais grave, pois morreram
aproximadamente 17 mil pessoas. 1º de março: Rodrigues Alves é eleito
presidente e, vitimado pela epidemia da “gripe espanhola”, falece em 16 de
janeiro de 1919, sem tomar posse. Posse de Delfim Moreira da Costa Ribeiro
(1868-1920), interinamente na presidência da República. Maria José Rebelo
(1891-1936) é aceita no Ministério do Exterior, tornando-se a primeira mulher
diplomata brasileira.
Adendo Geral: Em novembro, com a rendição dos
alemães, é assinado o Armistício, pondo fim à Primeira Grande Guerra.
1919
–
Na imprensa local aparece o nome de RA
como centro avante do time “Capivariano Futebol Clube”. Em 20 de março: é
eleito presidente honorário do Capivariano Futebol Clube. 20 de maio, como
secretário da nova diretoria do Tiro de Guerra de Capivari, participa de uma
excursão a Porto Feliz. No dia seguinte, no almoço, fala saudando os atiradores
locais. Em 3 de junho, funda-se o Grêmio Literário e Recreativo de Capivari,
sob o patrocínio do vigário, Cônego João Loschi. Torna-se secretário e orador.
Ainda em junho conclui sua primeira obra, “Noturnos” com o pseudônimo de
Benedito de Abreu, um folheto de 44 páginas, impressas em um só lado,
nas oficinas da Gazeta de Piracicaba. Em agosto, RA envia telegrama ao conterrâneo Amadeu
Amaral, que fora eleito para ocupar a vaga de Olavo Bilac na Academia
Brasileira de Letras;
Adendo Cultural: Amadeu Amaral publica
Dialeto Caipira. Mário de Andrade faz sua primeira viagem a Minas
Gerais. Cecília Meireles (1901-64) publica sua primeira obra literária: Espectros.
Lima Barreto publica Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Manuel
Bandeira publica Carnaval. Guilherme de Almeida publica A Dança das
Horas e Messidor. Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Di
Cavalcanti (1897-1976), descobrem o escultor Vitor Brecheret (1894-1955), que
havia instalado seu ateliê no Palácio das Indústrias, em São Paulo, em sala
cedida pelo engenheiro Ramos de Azevedo. Sérgio Milliet publica na França, Le
Départ Sur la Pluie (A Partida da Chuva). Ronald de Carvalho publica o
livro de poesias Poemas e Sonetos. Monteiro Lobato publica Ideias de
Jeca Tatu e Cidades Mortas.
Adendo Brasil: 2 de janeiro:
Delegação brasileira parte para a Conferência de Paz, em Versalhes. 16 de
janeiro: vitimado pela gripe espanhola, morre, no Rio de Janeiro, Rodrigues
Alves. Epitácio Pessoa (1865-1942), em eleição extraordinária, vence Rui
Barbosa e é eleito presidente. Toma posse em 28 de julho.
1920
–
Em Agosto, RA
entrega para o
conterrâneo Amadeu Amaral uma coletânea de poesias, datilografada, intitulada
“Folhas”, para apreciação. No dia seguinte, Amadeu Amaral chamou RA e disse: “Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes,
é o melhor livro de estréia que tenho visto”. Dia 15 de Agosto, Jetro Vaz
de Toledo publica um elogioso artigo “Estréia de um Poeta Capivariano”.
Em 22 de agosto, Castro Neves escreve sobre RA na crônica “Rabiscando”. No jornal “Gazeta
de Capivary”, em 26 de setembro, publica o poema “Bendita Mágoa”.
Nesse ano escreve o hino oficial do Capivariano, musicado por João Duarte. Em
15 de dezembro, como RA não encontrara nenhum editor que se
interessasse pela edição do seu livro, Amadeu escreve ao autor dizendo que
estava tratando da edição. Ainda em 1920, compõe poesias para a peça teatral Capivari
em Camisola, juntamente com Celso Epaminondas de Almeida;
Adendo Cultural: Victor Brecheret
realiza exposição da primeira maquete do Monumento às Bandeiras, na Casa
Byington, em São Paulo. A artista plástica Tarsila do Amaral (1890-1973), viaja
a Paris. Cassiano Ricardo publica Jardim das Hespérides (poesia).
Menotti Del Picchia publica As Máscaras e Flama e Argila. Chega
ao Brasil: John Graz (1891-1980), que participa da Semana de Arte Moderna de
1922. Oswald de Andrade funda a revista Papel e Tinta com o poeta
Menotti Dell Picchia. Lima Barreto publica Histórias e Sonhos. Guilherme
de Almeida publica O Livro de Horas de Sóror Dolorosa – a que morreu por
amor (poemas).
Adendo Brasil: A Ford instalou, em
1920, sua primeira fábrica de montagem no Brasil. Nesse mesmo ano, foi
inaugurada a primeira linha de ônibus urbanos de São Paulo. No poder, o
Governador Washington Luís (1869-1957) e seu governo vai terminar em 1924. 7 de
setembro: criada a Universidade do Rio de Janeiro. Epitácio Pessoa proíbe a
participação de jogadores negros no selecionado brasileiro.
1921
–
Em 9 de outubro, RA redige na Gazeta de Capivari,
crônica elogiosa sobre Amadeu Amaral. 16 de outubro: na assembleia geral da
Caixa de Crédito, onde RA trabalhava, resolveu-se a liquidação
daquele estabelecimento e poeta, sem emprego. No dia 21 daquele mesmo mês, RA muda-se para São Paulo e vai morar na
casa de Amadeu Amaral, que também o leva para trabalhar na revista “A
Cigarra”, onde encontra Gelásio Pimenta. Dia 23 de outubro, na Gazeta de
Capivari, foi publicada a seguinte matéria:
“BENEDITO ABREU
Com destino à capital do Estado retirou-se ante-ontem de mudança o
distinto moço Benedito Rodrigues de Abreu, uma das figuras de maior destaque em
Capivari, onde nasceu e onde cometeu o maior pecado da sua vida – tornar-se
literato, ser inteligente.
Sem recursos para dirigir uma lavoura, sem habilitação para movimentar
uma indústria qualquer e sem maiores esperanças no comércio a que se dedicou,
claro é que Benedito Abreu não poderia se manter entre nós com os proventos do
seu trabalho literário, arte ou profissão que reclama centros de maior cultura,
sociedade mais movimentada.
Contrista-nos escrever estas linhas, mas as escrevemos sem nos afastar
da dura realidade, e contrista-nos ter que nos referir a um moço querido e
estimado por todos que o conheciam, tais são os serviços que prestou a
Capivari, tomando parte ativa nas festas literárias, nas quermesses beneficentes
e nos comícios alterosos da caridade em ação.
Folgamos no entanto em afirmar que graças ao auxílio que lhe está
prestando o distinto capivariano sr. Amadeu Amaral não será ele em S. Paulo um
forasteiro do destino ingrato, a palmilhar sedento e lasso a aridez da miséria.
Fazemos votos, pois, para que na segunda capital do Brasil o nosso Abreu
alcance o oásis e descanso nos seus projetos de literatura aos quais se dedica
com grande empenho e razão maior”.
-
Em 22 de outubro: RA escreve carta para sua amada Aracy:
São Paulo, 22.10.1921
Boa Aracy
Não podes sequer cogitar no
quanto sofro com esta distância, com esta saudade; basta dizer que é a primeira
vez que isso sucede, depois que nasceste para a minha felicidade.
Espero, porém, porque te amo o quanto
humanamente é possível – que o longe será um selo mais forte para a força dessa
cadeia linda que no une.
Sinto mesmo que tu vives junto
de mim, que estás ao meu lado, que me inspiras; e esta tristeza, adoço-a na
verdade de que me esperas.
Reza sempre por mim, pensa em
mim, ama-me sempre mais. Boa Aracy, fada piedosa, desse modo, sabendo eu que tu
amar-me-ás sempre, poderei lutar e vencer.
Essa verdade é que me alivia a
vida, é que me alivia os incertos dias do futuro.
Ontem, estive em casa do Sr. Pinheiro.
Amanhã, estarei lá. Sinto-me bom naquela casa, porque lá falamos sobre a tua
pessoa, lá me animam.
Escreva-me. Afinal, não poderei
passar sem a tua palavra piedosa de consolo.
Sou tão triste, Aracy; sofro
tanto longe dos teus olhos que me compreendem.
Longe de ti, tudo é estranho, e
a própria glória aborrece e enoja. Nunca me esquecerei de ti.
Sou o teu
Abreu
(Oliveira, J. R. Guedes de. In: Rodrigues de Abreu e suas
Cartas de Amor. Jalovi, Bauru, nd, p. 35).
-
Ainda nesse ano, RA escreve o poema “Lâmpada Inquieta”.
Na redação da revista, conhece Menotti Del Picchia que o aconselha seguir as
ideias dos primeiros modernistas;
Adendo Cultural: 9 de janeiro,
realizou-se um banquete no Palácio Trianon, São Paulo, para comemorar o
lançamento da obra "As Máscaras", de Menotti Del Picchia.
Nesse evento, Oswald de Andrade faz um discurso criticando os autores
passadistas e exaltando a arte moderna. Morte do poeta mineiro
Alphonsus de Guimaraens (1870-). Sérgio Milliet e Rubens Borba de
Moraes (1899-1986) voltam da Europa e divulgam os autores europeus de
vanguarda. Graça Aranha e Plínio Salgado (1895-1975) aderem ao modernismo.
Graça Aranha publica A Estética da Vida. Oswald de Andrade lança Mário
de Andrade com seu artigo: “O meu poeta futurista”, na edição do Jornal
do Comércio, de 24 de março. 23 de junho: morre no Rio de Janeiro, aos 40
anos, o escritor João do Rio, que usava o pseudônimo de Paulo Barreto. Menotti
Del Picchia publica O Pão de Moloch (crônicas) e Laís (romance).
Ribeiro Couto (1898-1963) publica O Jardim das Confidências, primeiro
livro de poesia.
1922
–
RA retorna para Capivari no início de
Janeiro. Com o evento da Semana de Arte Moderna realizado em Fevereiro no
Teatro Municipal de São Paulo, RA toma conhecimento da nova revolução
estética, como já o havia falado Menotti Del Picchia. (Cassiano Ricardo, em seu
discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, enganou-se ao incluir RA entre os participantes da Semana. Em
fevereiro RA estava em Capivari). RA considera-se convertido às novas estéticas
modernistas já no início do segundo semestre de 22. Foi influenciado pelo
médico Dr. Francisco de Magalhães Viotti, que conhecia alguns modernistas. RA dedica ao Dr. Viotti, em outubro, na Tiptologia,
que figura em A Sala, com título Dentro da Noite. O seu
contato com os modernistas da Paulicéia resultou a publicação, por Menotti Del
Picchia, no Correio Paulistano, em 12 de Agosto, do poema A Sala dos
Passos Perdidos, construído em versos livres. Em 14 de outubro, RA envia para Menotti “Nas Cinzas”,
que foi transcrita no Correio Paulistano, com a seguinte apresentação de
“Hélios”, pseudônimo de Menotti Del Picchia:
“É de Rodrigues de Abreu a deliciosa fantasia que faço presente aos
leitores. Não é um nome novo o desse artista estranho e moderno da Sala dos
Passos Perdidos. Sua prosa, como seus versos, é sempre deliciosa e tersa e
há uma angústia calada, nebulosa, a espiritualizar a sua arte magnífica...”.
Nas Cinzas
Sou tímido desde criança.
Quando eu era criança, já tinha no olhar a origem deste grande espanto
que os meus olhos vêem e andam mostrando... Eu era triste como o gato amarelo
com o qual filosofava junto às cinzas, na cozinha.
Decerto foi por ter aprendido do gato e das cinzas que eu tenho esta
maneira humilde de encarar a Vida. Vivo encolhido!
Um dia eu ri, na sala, perto de ricas pessoas que elevavam, segundo a
errônea opinião dos meus pais, a minha família. Ri, numa clara risada, porque a
filha dos bons senhores caíra de bruços, ridiculamente... Mas, juro! não vira
um filete de sangue arroxeado rolando dos seus finos lábios partidos.
Quando os ricos senhores saíram, meu pai feriu-me nervoso no rosto,
chamando-me “perverso”.
Não ri mais, em criança. Ensinaram-me que o riso é perverso, e eu tinha
medo dos punhos erguidos.
Cresci. Comigo cresceu o espanto que havia em meus olhos.
Sou tímido e triste. Vivo pensando, comigo mesmo, na inutilidade de
tudo... Mas, só comigo. Tenho medo de que me castiguem e aumentem meus dias de
vida. Porque penso amargo, eu sou taciturno.
Para que rir?
O Destino – meu pai de hoje – pode ver no meu riso uma perversidade... E
são muito grandes as mãos do Destino. Com que desalento as conheço!
Como o gato amarelo, eu ando encolhido nas cinzas inúteis da minha
existência...
-
Em novembro, RA escreve O Écran..., ocasião que
renega o passadismo bradando: “versos futuristas sem rima e sem metro, mas
cheios da cadência criadora do Pensamento...”:
O
Écran...
Esta
vida é um “écran” imenso, onde se projetam os filmes que as gerações passadas
criaram...
Algumas
vezes criamos novos.
Há,
por isso, em todo homem um artista de cinema!
Nunca
fui um artista original. Sentimentalista e fraco, vivo, influenciado, imitando
e, às vezes, plagiando.
Quando
eu tinha 15 anos e lia Michel Zévaco, vivi nas fitas coloridas do “Pathé”. Dei
e recebi estocadas brilhantes.
Mais
tarde sonhei ser artista de fábrica italiana. com a alma repleta de sonhos
românticos, passei a minha polidez de luar pelas ruínas das cidades mortas,
namorando estátuas e beijando Bertini.
Rimava
então as minhas atitudes com os versos dos poetas tuberculosos...
Quando
cheguei aos 20 anos, fiz contrato com uma fábrica americana. Sonhei ser um
artista da “Paramount”, ligeiro como um discóbolo, formoso como um patrício
romano. Pelos olhos dos que dão voz ao silêncio, no “écran”, exibi o meu desejo
por todos os salões do mundo. Já então não rimava atitudes. Gritava versos
futuristas sem rima e sem metro, mas cheios de cadência criadora do
Pensamento... Eu era atos e impulsos!
Uma
noite, porém, brotou em minha alma a dúvida sobre o meu valor. Por isso, num
filme movimentado e dramático, falhei desastradamente. Riram no “studio”.
Convieram em que eu era um artista do Riso. Deram-me um papel secundário num
filme cômico...
Hoje,
não rimo atitudes nem sou impulsos e atos.
Sou
aquele “vesgo” da “Mack Sennet”, deformado e triste dentro do seu grande
espírito. Para que os outros riam, ando levando socos de um “bolchevista”
musculoso e idiota...
E
como eu há muitos.
Todo
homem é um artista de cinema.
-
Em 21 de novembro, RA acompanha Amadeu Amaral em visita a Capivari e
Raffard. Amadeu fazia sua campanha visando uma cadeira de deputado estadual. A
13 de dezembro, o Clube Democrata de Capivari é revistado pelo Ten. Gordiano
Pereira. No dia seguinte realiza-se a eleição. Sobre essa eleição, RA escreveria artigo no Diário da
Noroeste, de Bauru, em 1925, narrando todo episódio daquela confusa
eleição. Em 18 de dezembro, Amadeu Amaral envia a RA a seguinte carta:
“São Paulo, 18 dezembro 22.
Abreu
Escrevo a diversos amigos, além de v., pedindo informações positivas e
breves sobre os acontecimentos do dia 14. Preciso dessa documentação para poder
agir, pela imprensa, na Liga Nacionalista, etc. Como não posso escrever a
todos, peço que fale com os que se mostrem dispostos a prestar-me este auxílio,
transmitindo-lhes o meu pedido. Fala ao Alípio Valente, ao Castanho, ao Juca
Leme, ao Corazza, ao dr. Mário, enfim a todos quantos puderem prestar esse
depoimento. Amº. Obrº.
Amadeu”
Adendo Cultural: Mário de Andrade
publica Paulicéia Desvairada. Em fevereiro, em São Paulo, são realizados
os festivais da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal. Os
três dias principais foram: 13, 15 e 17. Era o início do Movimento Modernista
no Brasil. Inicia-se em 15 de maio, a publicação da Revista Modernista Klaxon,
em São Paulo. Em 1º de novembro, no Rio de Janeiro, falece o escritor Lima
Barreto. Menotti Del Picchia publica O Homem e a Morte, a novela A
Mulher que Pecou e A Angústia de D. João. Oswald de Andrade publica Os
Condenados, primeiro volume da Trilogia do Exílio. René Thiollier
(1882-1968) publica seu primeiro livro O Senhor Dom Torres. Thiollier
foi um dos mecenas, financiando para os moços modernistas o aluguel do Teatro
Municipal de São Paulo para a realização dos Festivais da Semana de Arte Moderna.
Ronald de Carvalho publica Epigramas Irônicos e Sentimentais. Guilherme
de Almeida publica Era uma vez..., editado pelas Oficinas da casa
Mayença (SP), com desenhos de John Graz. O livro começou a ser
distribuído pelas livrarias em 15 de fevereiro, um dos dias de festival da
Semana de Arte Moderna. Sai a segunda edição de Nós, de Guilherme de
Almeida. Em 1º de novembro, no Rio de Janeiro, falece o escritor Lima Barreto.
Adendo Brasil: 5 e 6 de julho:
Revolta do Forte de Copacabana. Os jovens tenentes revoltosos marcham pela Av.
Atlântica e são fuzilados pelas tropas do Governo, escapando da morte apenas
dois tenentes. Dezesseis mortes, dentre elas a de um civil que aderiu à Marcha.
Era o início do “tenentismo”. 7 de setembro: primeira emissão de rádio no
Brasil durante as Comemorações do Centenário da Independência, realizada no
alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, transmitindo o discurso do então
presidente Epitácio Pessoa. Realiza-se no Rio de Janeiro a exposição
comemorativa do Primeiro Centenário da Independência. (Embora na cronologia da
comunicação eletrônica de massa brasileira o surgimento do rádio no Brasil é
marcado com a fundação da Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, no
Recife, em 6 de abril de 1919). Artur da Silva Bernardes (1875-1955) é eleito
presidente da República e assume a presidência sobestado de sítio. Seu governo
termina em 1926. Ano de fundação do Partido Comunista Brasileiro.
1923
–
Janeiro: RA muda-se para Bauru (SP), a convite de
Celso Epaminondas de Almeida, morando numa pensão. Em 21 de janeiro foi nomeado
ajudante habilitado de Cartório e suboficial de Ofício de Registro Geral e
Anexos. Em 30 de setembro, Luso publica em O Bauru artigo sob o título: “Através
da Leitura do Livro A Sala dos Passos Perdidos de Rodrigues de Abreu”. 21
de novembro: RA escreve carta para o pai de Aracy do
Prado Valente, pedindo a filha em casamento, como segue parcialmente,
respeitada a ortografia original:
Bauru, 21.11.1923
Ilmo. Sr. Dr.
José do Prado
Capivari – SP
Caríssimo amigo.
Antes do mais, desejo-lhe, e a
sua distinta, amável família, muita saúde, coisa que é a verdadeira riqueza e
em que, para minha felicidade, sou um notável capitalista.
(...).
Agora, meu caro amigo, é o mais.
Sempre, desde que, num mês claro
de maio, há bons anos, surgi de retorno, na terra do meu nascimento, tenho
consagrado a uma das suas filhas, à boa Aracy, uma honesta afeição. Tenho
sempre desejando, com um grande e justo desejo, construir um lar, de que sou
tão amigo, um lar humilde, mas cheio de devotamento e alegria, e no qual, como
uma deusa tutelar velando pela minha felicidade, a sua filha vivesse, santa e
boa, como a melhor das esposas. E tanto tenho, meu caro amigo, sonhado esse bom
sonho, com tal insistência o fiz meu ideal, que seria, além de crueldade o não
permitirem a sua realização, quase impossível conformar-me com ela. Nem eu, na
minha vida, em que me tenho esforçado por ser bom e puro, mereço o tormento de
desiludir-me. Até o presente, em verdade e consciência, nada fiz que me provocasse
tamanho castigo. O meu caro amigo é testemunha do meu devotamento e das
maneiras sempre dignas com que tenho procedido para com a mulher que elegi.
Suportei muito tormento nesse meio que se me tornou hostil; e nessa terra, onde
a intriga é um verme que se multiplica e polula, o meu afeto sempre pairou
muito alto, tão alto, que nunca jamais ousada que se tornasse a fúria dos
partidarismo, o atingiu, com uma frase menos digna, a boca seus inimigos.
Tenho, meu caro amigo, não só pelas boas tradições da minha raça, de que nunca
me afastarei, mas, principalmente, pelo meu próprio esforço e trabalho, a
consciência de me haver, cada vez mais, tornado menos indigno da bondade e da
pureza da sua filha.
O caro amigo, que me conhece a
alma sensível, de enorme afetividade, pode, como ninguém estimar o quanto
sofro, pela distância, na apreensão perpétua, no perpétuo incômodo, no
desassossego de uma certeza ainda não bem certa. Disso se acumule ainda a falta
de notícias que, só por um ou outro amigo, rareadas, tenho da mulher que amo.
Ora, o caro amigo sabe, por meu
intermédio mesmo, e pode crer-me, que vou indo com imprevista felicidade. Não
levará muito, colocado meu pai e meu irmão na E. Noroeste, onde conto, pela
amizade, com elementos valiosos, estarei independente. Em vista disso, para meu
descanso, resolvo novamente pedir Aracy em casamento. Estou longe. O noivado
que na mesma cidade é sempre incômodo aos pais da noiva, neste caso não o será.
Não estarei ali para atormentá-los. Ficarei aqui, quietinho no meu canto,
trabalhando e esforçando-me, com mais valor, se possível, para breve, realizar
o meu sonho. E, depois, para mim e para Aracy, será uma espécie de alívio.
Corresponder-nos-emos, com ternura e respeito, suavisando esta necessária
angústia que a distância trouxe.
Eu poderia meu caro amigo, ter
ido a Capivari especialmente para disser-lhe isso. Não tive, porém, “coragem”.
Num caso destes a gente fica patife; e, perante o caro amigo, tratando-se desse
assunto, sempre fui de uma saliente timidez.
Esperando a sua resposta
favorável, e fazendo votos pela felicidade de todos os seus, sou o amigo de
sempre, decidido e pronto a executar as suas gratas ordens.
Benedito Rodrigues de Abreu
(Oliveira, J. R. Guedes de. In: Rodrigues de Abreu e suas
Cartas de Amor. Jalovi, Bauru, nd, pp. 71/72).
-
Em 2 de dezembro, RA recebe carta de Prado Valente, pai de
Aracy, respondendo ao pedido casamento, conforme descrição parcial que segue,
respeitando a ortografia original:
Capivari, 2 de dezembro de 1923
Meu caro Abreu:
Dou meu poder a tua carta de 21 de novembro próximo passado, cuja
resposta vai um pouco demorada por depender de alguma reflexão.
Agradeço, de coração, as tuas imerecidas referências à minha pessoa.
(...)
Quanto ao teu pedido, defiro-o, com prazer, de pleno acordo com a
interessada e todos da família, concedendo-lhe as regalias de noivo.
Vou autorizar o O Município a dar a notícia oficial.
Quanto ao prazo, que seja o maior possível, não só para firmares a tua
situação, como também e, principalmente, porque não me é possível por enquanto,
fazer despesas para o enxoval, mesmo modesto. Com vagar e aos poucos, iremos
arranjando alguma coisa.
Meu abraço do
Prado Valente
(Oliveira, J. R. Guedes de. In: Rodrigues de Abreu e suas Cartas de
Amor. Jalovi, Bauru, nd, p. 73).
-
Em 6 de dezembro, RA escreve para sua amada narrando sua alegria e
felicidade por estar noivo. Segue descrição parcial conforme original:
Bauru, 6.12.1923
Boa Aracy
Hoje, em verdade, a alegria da
vida entrou na minha alma, como um jorro de sol, iluminando uma casa boa, mas,
inabitada. À luz da alegria, descobri, no meu caminho belezas que eram
imediatas para a minha vista, e vi, na minha alma, tão súbita doçura, que, só
hoje, hoje e somente, posso explicar o luminoso sentido da existência.
Creio, pois creio na tua
afeição, talvez superior, na espiritualidade, a toda afeição que arde na terra,
- creio que o mesmo deslumbramento inexplicável que me perturba, está pondo
elevações na tranquilidade da tua vida. Na paciência, na resignação obediente,
com pureza e beleza, nós dois estaremos encontrando a felicidade; parte dela ao
menos já a possuímos; a outra, Deus querendo, conseguiremos. Somos já bem
felizes. Sempre sonharemos este claro dia, certos de que a ele chegaremos,
vendo os nossos, os da tua família, felizes com a nossa felicidade.
(...).
Sempre teu
Abreu
(Oliveira, J. R. Guedes de. In: Rodrigues de Abreu e suas Cartas de
Amor. Jalovi, Bauru, nd, p. 74).
-
Ainda nesse final de ano, RA e Aracy continuam se correspondendo. RA, no mínimo, escreve quatro cartas:
15/12, 19/12 e duas sem as datas.
Adendo Cultural: A artista plástica e
conterrânea de RA, Tarsila do Amaral
retorna da Europa. Menotti Del Picchia publica O Nariz de Cléopatra (crônicas)
e o romance Dente de Ouro. Lima Barreto publica Bagatelas.
Cecília Meireles publica Nunca Mais e Poema dos Poemas.
Adendo Brasil: 1º de março: morre
Rui Barbosa. 21 de abril: Edgard Roquete Pinto (1884-1954) e Henry Morize
(1860-1930), fundam a primeira estação de rádio brasileira, a Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro. Em 9 de setembro, falece Hermes da Fonseca.
Adendo Geral: Constituiu-se a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
1924
–
RA entrega os originais do A Sala dos Passos
Perdidos à apreciação de Celso Epaminondas de Almeida. Este, entregou os
originais à casa editora de Monteiro Lobato, em São Paulo, solicitando
orçamento. RA é internado em Campos do Jordão para
tratamento da tuberculose. É publicado, custeado por Celso Epaminondas de
Almeida, o primeiro livro de RA: “A Sala dos Passos Perdidos”.
Amadeu Amaral indica na Academia Brasileira de Letras o livro A Sala dos
Passos Perdidos para o prêmio de Poesia do ano. Não conseguindo êxito na
sua propositura Amadeu Amaral pediu demissão de todos os cargos que ocupava na
Academia. Nesse ano escreve “Cadeira de Lona”, do seu livro “Casa
Destelhada”. Nos arquivos do Poeta constam treze cartas endereças à sua
amada Aracy em 1924. Começa a luta do poeta contra a tuberculose. Em fins de
julho, sob pressão de sua família, Aracy Prado rompe o noivado com o poeta. Em
26/6, RA, angustiado e triste, escreve a carta
que segue, conservada a descrição original:
Bauru, 26.6.1924
Queridíssima Aracy
Deve ter estranhado, boa e
querida amiga, a minha demora em responder-te. A tua última carta, porém,
deixou-me em tão doloroso espanto, que eu julguei necessárias reflexões e calma
para responder-te.
Em verdade, minha pobre querida,
no princípio, querendo responder-te, vi na tua carta apenas aridez e
hostilidade. Sentia um amaro que me queimava até as entranhas, que punha
faiscações amareladas nos meus olhos; e percebi que, se fosse responder-te,
seria uma resposta violenta, cheia de todo o profundo amargor de que a minha
alma ficou cheia, talvez para toda a minha vida. Naquele momento, Aracy, a tua
carta, interpretei-a de um modo agressivo, e a minha resposta seria um insulto.
Hoje, conservando em minha alma
a mesma tristeza, o mesmo cansaço e abandono, tenho todavia, mais sinceridade.
Boa Aracy, sempre te amei, como
ainda te amo e te amarei, unicamente, absolutamente, com uma sinceridade e um
amor tão ilimitado, que até me orgulho de ser capaz de uma tal afeição. E como
o verdadeiro amor tem sua principal força na verdade, nunca eu te menti. Sempre
me encontraste o mesmo: um tanto de ingênuo e romântico, feliz por ser amado e
amar, orgulhoso de ter uma inteligência, que me elevaria, para a construção do
meu ninho de felicidade. E sobretudo fui sempre um sincero. Sempre me julguei
digno da tua confiança, como merecedor da tua fé. Além disso, tenho um coração
bondoso...
Ora, não seria capaz, tendo
inteligência e coração, de sacrificar-te ao meu egoísmo, desejando que te
unisses a quem tivesse a saúde arruinada. Logo, quando te digo que não sou
tuberculoso, falo-te a verdade. Para dizer-te isso, consultei vários médicos;
se eu fosse tuberculoso, jamais te sacrificaria a mocidade e a saúde.
A tua carta traz em seu bojo,
para mim, estas duas angustiosas questões: - Acreditas em teus pais, e apesar
das minhas afirmações, julgas-me doente. Não acreditas em teus pais, crês em
mim e julga-me são.
No primeiro caso, na certeza que
tenho do teu amor, julgo que tens razão no teu temor. Absolutamente não desejo
de ti isso que vai além do amor, e é um sacrifício. Desses heroísmos, fora da
vida, de pessoas decididas a sacrificarem a saúde, conscientemente unindo-se a
um doente, não exijo de ti, porque bem sei que eles ficaram no passado, com uma
geração de românticos alucinados.
No segundo caso, tenho a
dizer-te, minha boa amiga, que o único meio, diz que em mim acreditas, seria
perpetuar ainda o nosso sofrimento...
Mas, querida Aracy, dizer em tua
carta, que tens remorsos de contrariar teus pais; e eu, julgo, também, uma vez
que cansaste em sofrer essa tortura, vindo desde os dias longes em que éramos
namorados, não poder sacrificar-te, não deves mesmo fazer isso.
Quero ter a certeza que me amas;
e se me amas, com verdade, e não podes mais suportar essa agonia, que também
sofro, como posso eu dizer-te que continues? Como posso eu, egoisticamente,
pedir a alguém que se sacrifique por mim? Saberão de outros, porventura, que eu
sou digno de sacrifícios? Valerei, em verdade, a série de sacrifícios que tens
feito por mim?
Ingênuo poeta, pobre e roto
artista, arrastando uma vida de privações e angústias, jamais deverei supor-me
valer alguma coisa, só porque tenho uma lira e faço versos sonoros!
Que valor tem tudo isso, na
agitação de hoje, onde valem os que têm sorte, os que a fortuna ajuda, os que
passeiam a solenidade do seu bem-estar?
Uma lira, uma boa vontade, e a
fé no futuro, que não passa de fé, e um bom coração, e alguma inteligência, não
têm valor, no presente, como nunca tiveram, no passado: são varridos, com os
seus donos, como coisas inúteis...
Isso é a verdade. Eu não valho o
teu sacrifício. Eu um inútil sonhador, que nunca passará de um poeta de
província, sem conforto e sem lar, sofrendo privações e fazendo-as sofrer a
todos os entes que a ele se ligarem...
Ora, querida e boa amiga, tu
estás, agora sofrendo por mim. Julgo que o único meio de fazer cessar este teu
sofrimento, que continuará com a continuação do noivado, é desfazeres o nosso
contrato de casamento. És boa filha, como serias a melhor das esposas. Deves
essa atenção aos teus pais, tu mesmo confessaste.
Por isso, julgo do meu dever
deixar em tuas mãos esse extremo recurso, porque isso de romper noivados só
deve partir das noivas, para o seu próprio bem...
E espero, boa, querida amiga,
que me perdoarás.
Perdoar-me-ás a parte de eu ter
entrado no lindo e alegre jardim da tua mocidade, como um vento seco e
pernicioso de angústias e desolações. Hás de me perdoar, querida, pelo muito
que te amo, o ter eu entristecido a tua aurora, com este meu amor fatal de
torturado.
Agradeço-te, boa amiga, essa
compreensão que me deste da Vida. Abençoo com o mesmo gesto a alegria e o
sofrimento que de ti me vieram...
Hás de, no princípio, ficar
abatida; mas, esquecerás...
E não tenhas tristezas de saber
que a minha vida sem a tua pessoa, será uma perpétua tortura; não és culpada
disso; sou eu mesmo o culpado; somos nós, os poetas, os únicos culpados. É
nosso destino, de nós, os poetas, sofrer: somos diferentes dos outros homens;
pagamos, com todas as dores, a felicidade de sonhar e compreender a dolorosa e
iluminada religião da arte.
Adeus. Sê feliz.
O teu poeta, o teu amigo, o teu
todo
Rodrigues de Abreu
(Oliveira, J. R. Guedes de. In: Rodrigues de Abreu e suas
Cartas de Amor. Jalovi, Bauru, nd, pp. 98 a 100).
-
Em Outubro, RA segue para Campos do Jordão,
permanecendo lá cerca de quatro meses.
Adendo Cultural: Cassiano Ricardo
publica A mentirosa de olhos verdes (poesia). Manuel Bandeira
publica o volume Poesias (A cinza das horas, Carnaval, Ritmo Dissoluto). Menotti
Del Picchia publica O Crime Daquela Noite e Chuva de Pedra.
Oswald de Andrade publica Memórias Sentimentais de João Miramar e o Manifesto
da Poesia Pau-Brasil. Inicia-se a Fase “Pau Brasil” de Oswald de Andrade.
Di Cavalcanti elabora a capa de Losango Cáqui, de Mário de Andrade. 5 de
fevereiro: Blaise Cendrars (1887-1961) chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, é
recebido por Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Prudente de Moraes, neto
(1904-77), Guilherme de Almeida, Sérgio Buarque de Holanda (1902-82) e outros.
No dia seguinte segue para Santos (SP), e vai para São Paulo, onde é recebido
pelos modernistas: Sérgio Milliet, Luís Aranha (1901-87), Couto de Barros
(1896-1966) e Rubens Borba de Moraes. 21 de fevereiro: Cendrars realiza sua
primeira palestra no salão do Conservatório Dramático e Musical, em São Paulo.
Acontece a viagem do grupo modernista: Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do
Amaral e Blaise Cendrars às cidades históricas de Minas Gerais. Em São Paulo é
realizado o “VI Ciclo de Conferências da Vila Kyrial”, com palestras de Mário e
Oswald de Andrade, Blaise Cendrars, Lasar Segall e outros. 19 de junho: Graça
Aranha profere na Academia Brasileira de Letras a conferência “O Espírito
Moderno” e, em seguida, desliga-se da Academia. Pedro Dantas (Pseudônimo de
Prudente de Morais, neto) e Sérgio Buarque de Holanda fundam a revista Estética
– a primeira revista é colocada a venda em setembro. Ribeiro Couto
publica Poemeto de Ternura e Melancolia. Guilherme de Almeida
publica A Frauta que Eu Perdi (canções Gregas) e o livro de prosas Natalika.
Adendo Brasil: Em março, 31, falece
Nilo Peçanha. Em julho: Revolução Tenentista, de Isidoro Dias Lopes
(1865-1949), em São Paulo. Bombardeio em São Paulo e recuo das tropas até
Catanduva, interior de São Paulo. Carlos de Campos (1866-1927) assume o governo
de São Paulo.
Foto Acervo Biblioteca Municipal Rodrigues de Abreu - Bauru-SP.
–
Após a publicação de A Sala dos Passos Perdidos, alguns críticos literários,
tal como Fernando de Azevedo, classificou-o como “um puro lírico romântico”;
Fernando Callage mencionou: “dentro dos processos velhos, sabe despertar
emoções novas”. RA escreve ainda em Campos do Jordão, o
poema: “Quarto de Doente”. Em abril, RA muda-se para São José dos Campos para tratamento da
doença. Em carta a Mário de Andrade, Manuel Bandeira faz referência a RA, indicando assim que o poeta mantinha
contato com Mário e Bandeira. Assim escreve Bandeira:
Petrópolis, 5 de março de 1925.
Endereço: Pensão Geoffroy
Rua Marechal Deodoro.
Marioscumque
Estou há quase um mês aqui e só ontem dei um pulo ao Rio, onde encontrei
uma velha cartinha sua, queixando-se de neurastenia e de uma ferida arruinada.
Mas imagino que você já deve estar restabelecido pelas notícias que tive pelo
Rodrigues de Abreu.
(Andrade, Mário de. Moraes, Marcos Antonio de. In: Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira I. Coleção Correspondência de Mário
de Andrade, organização de Marcos Antonio de Moraes. Editora EDUSP/IEB, 2ª
Edição – São Paulo, SP. 2001 – p. 188).
-
Em 17 de Agosto, RA recebe carta de médico de São José dos
Campos:
Abreu caríssimo.
Recebi tuas letras, obrigado.
Não me convenci do que me disseste; mande os resultados dos Raios X para
eu e o Cardoso tirarmos a prova. Aconselho-te passares dois meses em Rubião
Júnior, não em Bauru; em outubro se a nossa opinião for favorável voltarás aqui
e iniciarás um pneu relativo. Lá em baixo descongestionarás um pulmão e
passado o frio aqui virás, em outubro e faremos-te o Pneu e com as melhoras que
hás de ter iremos comprimindo mais o pulmão.
Escreve seguido com detalhes do modo que vás passando.
Exijo obediência a estas minhas ordens, senão brigamos de fato.
Adeus! Não comas ovo, não uses álcool nem café à noite, nem chá; bebe
mate à noite. Adeus.
O crd.º Negrão
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de
Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 - pp.
165/166).
-
Em setembro e outubro, foram realizados dois festivais em benefício do poeta
enfermo. O primeiro, no Conservatório de São Paulo. Amadeu Amaral, nessa
ocasião, pronunciou uma conferência literária. RA não pode comparecer ao evento por estar
muito doente, conforme carta que enviou a Rosário Capóssoli:
“Infelizmente
não poderei ter o prazer de abraçá-lo. Não vou à minha festa em São Paulo.
Estou doente, muito doente. A viagem me cansará. Daqui vou diretamente a São
José dos Campos, lugar de clima excelente, onde pretendo curar-me desta
tuberculose. Eu lhe escreverei, quando for, para Capivari, avisando-o do meu
novo endereço. Há um mês que estou em Bauru, havendo descido da estação
climatérica por falta de recurso. Mas, voltarei novamente para lá, graças a
esses bons rapazes de São Paulo”.
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de
Abreu. Gráfica e Editora do Lar/ABC do Interior. 1ª ed., 1986, p. 167).
-
O outro festival aconteceu em outubro, na cidade de Bauru (SP), promovido pelo Diário
da Noroeste. Após esse evento, RA
escreveu o poema “Bauru”.
Bauru
Moro
na entrada do Brasil novo.
Bauru,
nome-frisson que acorda na alma da gente
Ressonância
de passos em marcha batida
para
a conquista soturna do Desconhecido!
Acendi
meu cigarro no toco de lenha deixado na estrada,
no
meio da cinza ainda morna
do
último bivaque dos Bandeirantes...
Cidade
de espantos!
Carros
de bois geram desastres com máquinas Ford!
Rolls-Royces
encalham beijando a areia!
Casas
de táboas mudáveis nas costas;
bungalows
comodistas roubados da noite para o dia,
as
avenidas paulistanas...
Cidade
de espantos!
Eu
canto a estesia suave dos teus bairros chics,
as
chispas e os ruídos do bairro industrial,
a
febre do lucro que move os teus homens nas ruas do centro,
e
a pecaminosa alegria dos teus bairros baixos...
Recebe
o meu canto, cidade moderna!
Onde
é que estão, brasileiros ingênuos,
as
úlceras feias de Bauru?
Vi
homens fecundos que fazem reclamo da Raça!
E
eu sei que há mulheres fidalgas que ateiam incêndios
na
mata inflável dos nossos desejos!
Mulheres
fidalgas que já transplantaram
o
Rio de Janeiro para este areal...
A
alegria busina e atropela os trustes nas ruas
A
cidade se fez a toques de sinos festivos,
a
marchas vermelhas de música, ao riso estridente,
de
Colombinas e de Arlequins.
Por
isso, cidade moderna, a minha tristeza de tuberculoso,
contaminada
da doença da tua alegria
morreu
enforcada nos galhos em folhas
das
tuas raras árvores solitárias...
Eu
já tomei cocaína em teus bairros baixos,
onde
há Milonguitas de pálpebras murchas
e
de olhos brilhantes!
Rua
Batista de Carvalho!
O
sol da manhã incendeia ferozmente
a
gasolina que existe na alma dos homens.
Febre...
Negócios... Cartórios, Fazendas... Café...
Mil
forasteiros chegaram com os trens da manhã,
e
vão, de passagem, tocados da pressa,
para
o El-Dorado real da zona noroeste!
...
Acendi meu cigarro no toco de lenha deixado ainda aceso
na
estrada, no meio da cinza
do
último bivaque dos Bandeirantes...
E
enquanto o fumo espirala, cerrando os meus olhos,
fatigados
do assombro das tuas visões,
eu
fico sonhando com o teu atordoante futuro,
Cidade
de espantos!
(Abreu, Rodrigues de. In: Poesias Completas. Academia Bauruense
de Letras. Joarte Editora e Gráfica, 2ª ed. Bauru/SP., 2007. Págs. 263/264).
-
Em 8 de dezembro, RA escreve de São José dos Campos para
Aracy. (Segue foto da carta obtida no Acervo da Biblioteca Rodrigues de Abreu,
Bauru – SP):
-
Carta digitada, conservada a grafia original:
São José dos Campos, 8-12-25
Minha boa Aracy
Fique muito contente ao receber
a sua carta. Pois podemos e devemos ser amigos.
Isso de ódio ou amor ou amor ou
ódio é uma balela. Não posso, não poderei odiá-la, pela simples razão de que a
amei muito e continuo a amá-la. Não pretendo mais nada de você, a não ser um
bocado de leal, de sincera amizade. mas o amor que lhe consagrei, por muito
puro, não se iria assim rapidamente, só porque se foi a esperança de chama-la
minha. Havia nele muito de alto e de espiritual. Isso ainda ficou poderosamente
iluminando a minha vida.
Também não maldigo o destino.
Tinha quer assim. Era impossível que sobre mim não se desencadeasse o tufão dos
espantos e das tragédias. É grande a galeria dos angustiados e sofredores.
Todos os homens de gênio se ingressam nela. E eu, infelizmente, não podia ter
vida pacata de burguês, sem sustos e sem angústias. Deus acendeu em mim a
lâmpada maravilhosa que ilumina para a frente e me deixa no meio dos vasquejos
torturantes das atribulações. Você me conheceu unicamente na essência de homem.
Mas, eu, sobre isso, nasci poeta. E poeta com alguma missão, porque, fora a
modéstia, eu tenho talento.
No princípio naturalmente fiquei
revoltado. Mas, serenei-me. Você não é culpada, não o foi. Ao contrário, sofreu
sem necessidade, a dor do meu destino. mas, você continua a ser a única, a
Gêmea, a Amiga. Todo homem tem de levar em si a felicidade ou a desgraça de um
amor. E, ai de mim! se não se debruçasse sobre o lago da minha alma a figura
boa de uma mulher!
Aí vai o meu livro. Nele você se
reverá. Você anda por aí, pelas minhas melhores páginas.
Madrinha está aqui morando
comigo. Anézia vai boa, esperando um entesinho de que serei o padrinho.
Escreva-me sempre. Exerça a sua
nova profissão de amizade, enviando-me coragem e consolo.
Muito seu amigo e adeus.
Rodrigues de Abreu
-
Em 16 de dezembro, RA
escreve a Drummond de
Andrade (1902-87):
S. José dos Campos, 16-12-1925 –
R. Antônio Saes, 22 A
Meu caro Drummond:
Acabo de receber a sua carta. Me
alegrou. Sempre desejei corresponder-me com você, que admiro muito. Os versos
que mandei serviram de pretexto. Só.
Gosto muito da “Revista”. Me
mandaram do Rio um número. Eu acompanho com muito afeto o trabalho dos novos.
Do Mário, do Oswald, do M. Bandeira. Com o Mário e o Manuel mantenho relações
muito cordiais. Gosto da ousadia moça de vocês. Me falta envergadura para os
seguir. Se eu varrer o romantismo piegas da minha alma, varrerei tudo. Serei
artificial. É o que há de natural em mim.
Logo sai a “Sala”. Apenas receba
um pedido feito a S. Paulo.
Lhe peço não publicar os versos
que mandei. Sofreram modificações fundas, a conselho do Manuel. Depois, quando
a “Revista” funcionar, mandarei com alegria e melhores.
Você e o Martins de Almeida são
uns bicos. As críticas do Martins são de rara beleza e verdade. Os seus versos
são grandes. Eu já os conhecia há tempo. Os nomes de vocês enchem o Brasil.
Um abraço
Rodrigues de Abreu.
(Oliveira, José Roberto Guedes de. In: Meu caro Rodrigues de Abreu.
Edição do autor. 1ª edição, Capivari-SP. 2003, p. 191).
-
Em 28 de dezembro: RA escreve a Hildebrando Siqueira,
sugerindo a realização de uma festa de arte em Campinas, na qual pronunciaria
uma conferência sobre os modernistas. Essa festa não chegou a ser realizada;
Adendo Cultural: Guilherme de Almeida
publica os livros de poemas: Meu, com capa de Paim e Encantamento,
com capa de Correia Dias. (Essa obra foi coroada pela Academia Brasileira de
Letras). Publica também: A Flor Que Foi Um Homem – Narciso, com capa e
desenhos de J. Wasth Rodrigues (1891-1957), e Raça. Inicia-se a Corrente
Verde-Amarela com a participação de Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia,
Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. Mário de Andrade publica A Escrava que
não é Isaura. Surge em Belo Horizonte, em junho e começa a circular em
julho, o periódico A Revista, com a direção de Carlos Drummond de
Andrade (1902-87) e Martins de Almeida (?), que teve a duração de apenas três
edições. Sérgio Milliet publica com Oswald de Andrade e Afonso Schimidt
(1890-1964) a revista Cultura. Graça Aranha publica O Espírito
Moderno. Cecília Meireles publica Baladas para El-Rei. Oswald de
Andrade publica Pau Brasil (poesia).
Adendo Brasil: Acontece na cidade de
São Paulo a primeira edição da corrida de São Silvestre, iniciativa do
jornalista Cásper Líbero (1889-1943). Em julho: a Coluna Miguel Costa-Prestes
inicia sua marcha pelo Brasil.
1926
–
4 de fevereiro, RA volta a Bauru para festejar o carnaval.
Rodrigues de Abreu – Detalhe da foto
maior
-
Dia 28, escreve carta para Hildebrando Siqueira, enviando dados biográficos,
com vários dados incorretos, demonstrando toda a desorganização do poeta, ou,
como afirmam outros estudiosos, “os dados incorretos talvez pelo estado
depressivo que se encontrava o poeta pela tuberculose”. Apesar dos dados
incorretos é uma carta importantíssima – segue conforme descrita por Carlos
Lopes de Mattos no Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de Abreu:
Bauru, 28-2-26.
Meu querido Hildebrando
Siqueira:
Abraço-o afetuosamente.
Não lhe respondi antes, porque
não tenho andado muito bom. Esta vinda a Bauru está me prejudicando. Se
soubesse, não teria descido. Aqui está fazendo muito calor. Pretendo, breve,
retornar a S. José. Você não se preocupe com o possível fracasso da minha festa
em Campinas. Basta-me a boa vontade. O resto conseguiremos mais tarde. Agora é
mesmo uma temporada difícil. O carnaval andou por este mundo, há pouco. E
depois dele uma festa séria é um caso sério. Vamos esperar, meu bom amigo. Você
me escreverá sobre isso para eu resolver a minha ida a S. José dos Campos. Está
decidido: avisarei a você, passarei todo um dia em Campinas. Só para
conhecê-lo. É maior esse desejo que tudo. Escreva-me, pois, breve, dizendo o
que pensa de definitivo sobre a festa em Campinas. Para eu resolver a minha
viagem e a visita a você.
A minha vida, querido
Hildebrando, nada tem de interessante. Quando estiver ao seu lado, direi o que
ela tem sido. Agradeço esse carinhoso interesse. Você é um moço tão pleno de
coração como de inteligência.
Nasci em Capivari, linha ituana,
em 27 de setembro de 1899, no lugar denominado Picadão, na fazenda do dr.
Albano Pimentel, onde os meus pais trabalhavam em formação de café. Cresci por
sítios do município de Capivari e de Piracicaba, ajudando os meus pais nas
lavouras em que eram jornaleiros. Um dia fui, aos 13 anos, para S. Paulo.
Empreguei-me numa farmácia – entregar remédios, lavar vidros – aprendendo as
primeiras letras. Aí, devido à proteção de uma bondosa senhora, d. Maria Rosa,
fui internado no colégio dos padres salesianos, seguindo para Lorena. Os bons
padres descobriram em mim vocação sacerdotal, e segui, como “aspirante”, para
Cachoeira do Campo em Minas, “Escolas D. Bosco”, em cuja dependência se estabelecera
o aspirantado. Quando cursava o 2.º ano de ginásio, acometeu-me uma grave
moléstia nervosa, sendo obrigado a abandonar os estudos, retornando a S. Paulo,
onde a expensas dos padres salesianos, fiz rigoroso tratamento no “Instituto
Jaguaribe”. Curando-me, depois de um ano, voltei aos estudos em Lavrinhas, Est.
de S. Paulo, para onde se transferira o colégio. Quando terminava o 4.º ano
ginasial, em 1917, devido a uma série de contrariedades, abandonei
definitivamente os estudos para o sacerdócio, indo para a minha família, então
em S. Paulo, que lutava com muitas dificuldades. Todo o ano de 1917 e parte de
1918 fiquei em S. Paulo, lecionando no liceu S. Coração de Jesus, e
particularmente. Em meados de 1918 segui para Capivari, onde trabalhei em
escritas comerciais e aulas particulares. Tentei em 1921 fixar-me em S. Paulo,
mas aí só consegui parar uns três meses. O clima era-me muito prejudicial,
visto eu estar, desde fins de 1919, atacado da tuberculose. Tornei, pois, a
Capivari, onde sempre vivi mais ou menos bem, devido à bondade do clima. Em
1922, porém, perseguido em minha cidade, onde lavrava intensa paixão política,
mudei-me para Bauru. Aqui, onde tenho a minha família, exerci o cargo de
ajudante habilitado de cartório. Ultimamente, porém, por causa do muito calor
reinante em Bauru, não tenho podido exercer nenhuma atividade, tendo vivido de
amigos, procurando de vez em quando climas benignos.
Foi nos primeiros tempos de
colégio que se me pegou o vírus literário. A minha grande paixão, que continua enchendo
a minha vida, foi Castro Alves. Mas, tenho pouca leitura. No colégio lia os
clássicos. Amei Virgílio e Ovídio. Hoje, nem penso nessa gente. Sou louco por
Baudelaire, Antero e Nobre. E sigo com um interesse, doentio de tão grande,
todos os novos da minha terra. Eles estão fazendo uma grande literatura. Tenho
dois livros prontos, um de versos e um romance – novela – que não sei quando
publicarei. Até breve. Abraços. Muito seu, do coração Rodrigues de Abreu”.
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de
Rodrigues de Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 -
pp. 177 a 179).
-
Em novembro de 1926, no sítio de São Gilberto, em Bauru, RA escreveu “Macega Florida”,
última parte de “Casa Destelhada”;
Adendo Cultural: Guilherme de Almeida
escreve dois ensaios: Do Sentimento Nacionalista na Poesia Brasileira e
Rhythmo, Elemento de Expressão, Tipografia da Casa Garraux, São Paulo, com
os quais concorre, como tese, ao cargo de professor de Literatura no ginásio do
Estado. António de Alcântara Machado (1901-35) publica em São Paulo, “Pathé-Baby”,
prefaciado por Oswald de Andrade e com ilustrações de Paim. Alcântara Machado,
Paulo Prado (1869-1943) e Couto de Barros, lançam a revista Terra Roxa e
Outras Terras, em São Paulo. Cassiano Ricardo publica Vamos Caçar
Papagaios. Mário de Andrade publica Losango Cáqui, poesia e Primeiro
andar, contos. Menotti Del Picchia publica Toda Nua (contos).
Graça Aranha publica Futurismo: Manifesto de Marinetti e seus companheiros.
Ronald de Carvalho publica Toda a América. Plínio Salgado
publica A Anta e o Curupira, a ficção O Estrangeiro e Discurso
às Estrelas (crônicas). Ribeiro Couto publica Um Homem na Multidão.
Adendo Brasil: 15 de novembro: posse
de Washington Luís na presidência. Getúlio Vargas (1883-1954) é nomeado
ministro da Fazenda. Surge o Partido Democrático (PD), em São Paulo.
1927
–
No início do ano RA entrega os originais do livro Casa
Destelhada para Cassiano Ricardo, que se prontifica a imprimi-lo na Editora
Hélios Ltda., doando a edição toda ao autor. Surge assim, em março, o livro “Casa
Destelhada”.
Foto do livro Casa
Destelhada, com dedicatória de RA. Esse exemplar pertence ao acervo da
Biblioteca Municipal Rodrigues de Abreu, de Bauru(SP). Foto de Luiz de Almeida.
-
Sobre sua estada em Campos do Jordão, nesse ano, RA escrevia a Silveira Bueno:
Hoje estou apavorado, cheio de
terror infantil, doído. Nem sei explicar o que sinto, meu amigo: Sensação assim
angustiante só me veio na vida, há três anos, em Campos do Jordão. Talvez
porque me esteja lembrando daquela triste vila de tísicos...
Está caindo uma grande chuva,
que cobre as matas, campos e esconde os animais, nada, nada. Quando relampeja
vejo nítido tudo. O vulto de uma árvore seca dá galhos horrorizados,
espectrantes. Em Campos do Jordão desce o “russo” (sic), uma garoa branca,
úmida, como não há o que, fluida que penetra todas as coisas. Ela vem
lentamente, cobre a montanha, desce para o vale, e invade a vilazinha. Quando
ele vem todos se fecham, nem os sadios querem o seu encontro. Por mais que se
feche a casa, o “russo” (sic) penetra sempre mais, não se por onde, e enche
tudo de uma umidade de cemitério. E há tosses nos corredores das pensões, mais
dores no peito, e uma enorme tristeza como não há igual entre os homens e que
só os tísicos sentem.
(Mattos, Carlos Lopes de.In: Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de
Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 - p. 160).
-
Em março, envia exemplares do Casa Destelhada para vários amigos de São
Paulo. Um deles: Mário de Andrade. Em carta datada de 8 de abril, Mário de
Andrade escreve a RA (conservada a ortografia original):
Meu sempre Rodrigues de Abreu
Sempre sim, porque isso é que é o importante, eu sabia, você pode cantar
alegre, ser forte, ter coragem e continuar o doente comovente que você é. Eu
bem falei.
Recebi hoje de manhãzinha o livro de você, são 18 e 37 e acabei a
leitura. Andei com ele pelos bondes, por toda parte, lendo toda a comoção
sentida de você no Sol mais antitético que se possa imaginar, berrante,
rastaqüera, carioca, calorento com um vestido cubista franqueza, indecente pra
esta cidade calma discreta e meia escura até. Li todinho, andei riscando alguma
coisa, uns versos que me pareceram bons demais pra ficarem no meio dos outros.
Agora vou esses na primeira página do livro pra ter sempre à mão as frases
melhores que saíram cantadas do sentimento de você.
Que gostei de todo livro igualmente, isso você sabe que não posso falar
sem mentir idiotamente. Tem mesmo certos poemas que eu preferia que não
estivessem no livro porque me pareceram fracos. Mas em geral, pelo menos você
pode bem perceber que amizade que tenho por você, pois me repus com exatidão
naquele estado de espírito pos-simbolista com que poderia ler, entender e gozar
a maioria dos poemas do livro e que a esse estado-de-espírito correspondem. Já
a última parte não careci de nenhum esforço não. Muita gente “modernista” pode
falar e até provar que a Macega Florida é passadista. O Osvaldo de quem você me
fala que atacou você será um desses. Também me atacou e me chamou o Amar Verbo
Intransitivo de passadista. Pois que provem. Pode ter a certeza que a
naturalidade e o espírito dessas frases é dessa coisa melhor que todos os
passadismos e modernismos, é uma realidade pessoal refletindo sem tendência a
contemporaneidade. Está pois muito bem. Agora o que me esqueci de falar é que
valeu o esforço que fiz para retomar aquela mentalidade pós-simbolista carecida
pra me ambientar dentro das outras partes do livro de você. Valeu porque tive
uma porrada de prazeres e duas vezes esse susto que a gente tem de tanta
comoção quando topa com uma obra-prima. E adoro o ingênuo do poeta que teve a
coragem de escrever esta maravilha de verso: “Haverá Brasil menina que me
espere?”. Isto é uma lindeza de verso, Rodrigues de Abreu, e tenho inveja de
você ter inventado ele. Nem sei o que dava pra que ele fosse meu e não de você.
É uma dessas bobagens puramente comovidas que só mesmo a gente sendo uma besta
de poeta bem poeta de deveras que é capaz de escrever, bravíssimo! Não imagine
que estou caçoando não. Eu era incapaz de fazer isso pra você. Porém o verso é
tão simples que você pode imaginar isso de mim... É simples não tem dúvida,
porém é duma simplicidade tão sentida tão... tão simples! Uma lindeza.
Esta carta está encrencadíssima, você nem imagina. Jantei no meio dela,
aqui em casa se janta cedo por causa das minhas ocupações noturnas no
Conservatório... mesmo nos dias em que não tenho ocupações noturnas no
Conservatório. Depois da janta, vem sentei aqui, pronto, telefone está
chamando. Não sei o que foi que deu nessa gente de querer falar comigo hoje, já
interrompi três vezes a escritura, puxa!
Também agora aposto que não me interrompem mais porque acabo já.
Conversei bastantemente e vamos ver se agora você se lembra de me escrever de
longe em longe. Primeira carta que me escrever, se escrever depois do 1.º de
maio, então escreva ao cuidado de Ascenso Ferreira, Tesouro do Estado, Recife.
É melhor escrever sobrecarta pra ele e minha carta dentro que ele me entrega
quando eu passar por lá. Pois é, meu caro, afinal parece que chegou a ocasião
de eu também fazer a minha viagem grandota. Vou pelo Lóide Brasileiro até creio
que Belém, de lá embarco na fluvial e desço o nosso Amazonas até Iquitos no
Peru, depois volto até a Madeira-Marmoré dou um pulo na Bolívia e afinal vou
parar no Guajará-Mirim cascata linda. A volta não sei bem por onde é. Não é uma
viagem cotuba mesmo? Vamos um grupinho, seis ou oito não sei bem.
Abrace este seu amigo de coração e admirador sincero. Afinal me esqueci
de fazer as considerações que queria sobre a última parte do livro que pra mim
é a melhor. Porém pelas linhas iniciais desta você já pode perceber o teor das
considerações que ia fazer. Pode ter certeza que assim conformado corajoso e
alegre inda você é mais profundamente comovente. O livro do Manuel segue hoje
mesmo. Não deixa de mandar um pro Ribeiro Couto que quer botar você na Antologia
de poetas modernos brasileiros que está escrevendo. Não esqueça, heim? Outro
Abraço.
Mário.
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de
Rodrigues de Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 -
pp. 199 a 202).
-
Em 20 de abril, RA, de São José dos Campos, escreve carta
a Menotti Del Picchia. (A carta poderá ser lida em: “Sínteses
de Textos sobre Rodrigues de Abreu”, artigo: Rodrigues de Abreu, o “Primo Pobre
do Modernismo brasileiro”, texto de Jácomo Mandatto, no final desta Síntese
Biográfica).
-
Em maio, RA muda-se para Atibaia,
São Paulo, à Rua Coronel João Pires, 29. Em 9 de maio: RA escreve carta para o
amigo, jornalista e poeta, Agnelo Rodrigues de Melo, o Judas Isgorogota,
conforme descrição, onde foi conservada a ortografia original:
Isgorogota:
Mais algumas almas que, lendo os
seus versos, sintam a emoção que senti, e você terá seu público comovido e
estará pago do seu trabalho. Publique os seus versos para essas almas.
Lembra-se da visita que me fez,
ao quarto do hotel em S. Paulo? Conversámos longamente e, depois, pedi-lhe que
me dissesse versos. Quando você saiu, o meu quarto ficou cheio do ritmo dos
seus versos comoventes. Mas olhei um pedaço do céu que os telhados permitiam
que visse. Estava branco da chuva lenta e cantente! Não há versos, pensei, que
não me falem em tarde assim. Está nisso o prestígio dos versos dêsse moço.
Mas, não estava. Mais tarde você
me escreveu e a comoção daquela tarde se tem renovado, ao contacto com a sua
poesia.
Agora, acabei de reler os seus
versos. Dia fulgurante de Atibaia, em que o céu é azul irritado pela excessiva
limpidez do dia. O meu pensamento está ágil, com vontade de correr e, como
menino inquieto, de fazer travessuras, subir pelas paredes do horizonte e
quebrar os quadros maravilhosos que os morros penduram na sala do dia.
E, no entanto, o ritmo dos seus
versos, que estou dizendo alto, enche o dia glorioso de maior encantamento e
beleza...
Cordialmente,
Rodrigues de Abreu
Atibaia, 9-maio-927
-
Em 11 de junho, o jornal O Atibaiense, anunciava, no artigo de fundo, a
presença do poeta, troçando-lhe o elogio. Nesse jornal RA publicou as seguintes crônicas: Meio
Dia, Mocidade, As Histórias de Amor, Pedaço de Céu, O Homem que Cantava. No
final do mês, retorna para a cidade de Bauru, à Rua Costa Ribeiro, 2-36.
Debilitado, o poeta mal podia andar. Um amigo vinha toda tarde para
datilografar suas últimas poesias. Foi quando o poeta redigiu seu último
trabalho: “Balada da Nave de Nuvens”. Conta Carlos Lopes de Mattos que
esse amigo, um dia ao chegar no final da tarde na casa do poeta, ela estava às
escuras. Perguntou se houvera algum desarranjo na instalação elétrica. RA confirmou a suposição do visitante. De
fato, porém, era o senhorio, residente na casa vizinha, que tinha cortado a luz,
querendo obrigar o doente a mudar-se, pois temia o contágio. Foi necessário que
o delegado interviesse para que a luz fosse de novo ligada. RA, em agosto, retorna a Bauru. Em 1º de
setembro, RA escreve ao jornalista e membro da
Academia Paulista de Letras, Honório de Sylos, carta essa que se encontra nos
arquivos daquela Academia, juntamente com mais 30 cartas de Rodrigues dirigidas
ao Honório entre 1922 e 1927, doadas pelo Honório, como também existe no
arquivo um lista de subscrições, aberta na Redação de O Estado de S. Paulo,
elaborada por Honório, para fazer frente às despesas do enterro de RA. Na sequência a reprodução da última
carta de RA para Honório, na data mencionada,
conservada a grafia original:
Baurú, 1 Stº 927
Não lhe tenho escripto, queridissimo
Honorio, por que ando cansado, apavorado, cheio de um terror infantil e triste.
Até ha pouco estava alegre, cheio de paz espiritual. Mas, meu cunhado perdeu o
emprego, por que a casa onde era guarda-livros fechou-se. Meu irmão está ainda
à procura de emprego. Fui, de novo, pro sítio dos “barbeiros”. Está um diluvio
de chuva. Talvez seja o começo do fim. Escreva-me.
Mandei meu irmão escrever a
você. Não veio resposta. Reze por mim, para que passe esta angustia que é
necessário seja passageira. E diga que me ama. Não quero que me cerque o
silencio dos que amo.
Seu de coração
Abreu
O Plínio está forte? E o
Cassiano? E o Menotti?
(Theodor, Erwin. In: Tesouros do Arquivo da Academia Paulista de
Letras. Revista da Academia Paulista de Letras, comemorativa pela passagem
dos 90 Anos da Academia. Imprensa Oficial de São Paulo, São Paulo, 1999, p.
147).
-
Bauru, 24 de novembro: Após 8 horas no balão de oxigênio, Rodrigues de Abreu
falece. O velório aconteceu na casa de D. Hilda, Rua 13 de Maio, 2-52. Foi sepultado
no Cemitério Municipal da Saudade, em Bauru, São Paulo.
Reprodução pelo processo digital
-
Em 25 de novembro, Plínio Salgado assim anunciou a morte do poeta no Correio
Paulistano:
“E mudou-se, também para a casa da Eternidade. Da Eternidade na memória
da Raça, cujo lirismo ele interpretou e expressou num momento. Pois, enquanto o
Brasil for Brasil, enquanto a nossa grande expressão racial fora a meiguice, a
bondade, o lirismo – Rodrigues de Abreu há de representar essas qualidades na
sua altíssima poesia”.
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de
Rodrigues de Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 -
pp. 209/210).
Adendo Cultural: Primeira vinda do
criador do Manifesto Futurista (1909), o escritor, poeta, político
egípcio-italiano, Felippo Godoy Tommaso Marinetti, ao Brasil. Chega ao Rio de
Janeiro e faz palestra no Teatro Lírico, sendo apresentado por Graça Aranha.
Blaise Cendrars faz sua segunda viagem ao Brasil. Mário de Andrade publica Clã
do Jabuti e Amar, Verbo Intransitivo. Mário de Andrade entra como
crítico de arte no Diário Nacional, de São Paulo. Menotti Del Picchia
publica O Curupira e o Carão (em colaboração com Cassiano Ricardo e
Plínio Salgado). Menotti publica também Poemas de Amor e Por Amor do
Brasil (discursos parlamentares). Oswald de Andrade publica Primeiro
Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade e O Romance do Exílio II. A
Estrela de Absinto, com capa de Victor Brecheret. Alcântara Machado publica
Brás, Bexiga e Barra Funda. Sérgio Milliet publica Poemas
Análogos.
Adendo Brasil: Washington Luís é
eleito presidente. Getúlio Vargas é eleito deputado federal. Júlio Prestes de
Albuquerque (1882-1946) é eleito para o governo de São Paulo.
Adendo Final:
-
Em 1931, ideia de
Mário Thomaso Ferracciu, em Capivari, foi inaugurado, em 22 de março, na Praça
Dr. Cesário Mota, a herma de bronze de RA
esculpido por Tarsila do Amaral, outra capivariana.
-x-x-x-x-x-
ARTIGUETE SOBRE A MUSA ARACY
ARACY, A MUSA AMADA DE RODRIGUES DE
ABREU
Luiz de Almeida (*)
Lendo Abreu, ninguém, mas ninguém mesmo duvida que Aracy foi a sua musa,
a sua amada. Mas, se estudarmos a obra e a vida de Abreu, iremos
categoricamente afirmar que Aracy foi para o poeta o mesmo que Beatriz foi para
Dante Alighieri. Não é nenhum absurdo essa similitude. Vejamos:
As musas, originadas na mitologia grega, eram as mulheres que habitavam
no templo museion (museu), como as nove filhas de Zeus e Mnemosyne, que
eram as fontes de inspiração nas artes. No sentido figurado, utilizava-se o
termo “musa” para designar a mulher amada. Nessa mesma mitologia, a “musa” é
aquela que preenche a existência de seus eleitos. É a inspiração do poeta.
Portanto, nada de contraditório ou desvario a comparação de Aracy de Abreu com
Beatriz de Dante. As duas foram as musas amadas e inspiradoras. E não só na
poesia, mas na vida, pois os dois poetas viveram, sofreram e se eternizaram em
detrimento das duas.
Abreu e Dante trataram as duas como divindades dignas de alta adoração.
Foram as agitações do emocional dos dois poetas, pois fizeram com que eles, por
várias vezes na vida, desligassem suas mentes dos seus corpos raquíticos. Na
vida e na obra de Dante e de Abreu, Beatriz e Aracy proporcionaram ações
dominadoras, pois os protagonistas, da vida e da obra dos dois poetas foram: a
musa, o amor e a melancolia – que dominaram as almas dos poetas.
- Dante tratou Beatriz como “Gentilíssima” (nobre);
- Abreu tratou Aracy como “Queridíssima”;
- Dante chamou Beatriz de donna angelo (mulher anjo);
- Abreu chamou Aracy de “doce criatura”;
- O amor de Dante por Beatriz consumiu o coração do poeta;
- A alegria do amor de Abreu por Aracy transformou-o em tristimania;
- O amor por Beatriz conduziu Dante ao Purgatório (espera pela
felicidade) e ao Paraíso (transfiguração perpétua);
- O amor por Aracy conduziu Abreu ao Ante Purgatório (espera pelo
enlace) e ao Paraíso (solidão perpétua);
- Beatriz foi a guia de Dante para vencer os obstáculos da vida – e o
fez poeta: obcecado, feliz e realizado ;
- Aracy foi o desejo de Abreu para ser feliz – e o fez poeta:
atribulado, sofredor e desgostoso.
- Dante e Abreu, Abreu e Dante: poetas e amantes. Ambos em frenética
busca das suas musas para a realização do amor.
- Dante e Abreu, quando imaginavam Beatriz e Aracy, pensavam como o
poeta Homero: “Ella non parea figliuola d’uomo mortale, ma de Deo” – Ela não parecia filha de homem mortal, mas
de Deus.
Enfim, enfocando somente o nosso Rodrigues de Abreu, fica evidenciado na
sua obra e nas suas cartas, que ele viveu em função do seu amor pela musa e
noiva Aracy. Não conseguiu realizar o seu grande sonho: te-la ao seu lado por
toda a vida.
Abreu viveu de amor, viveu de Aracy, viveu por Aracy e... Morreu sem que
a sua musa amada pudesse estar com ele no momento da sua passagem do Purgatório
terrestre para o Paraíso celeste.
Sendo assim, façamos genuflexão.
(*) Artiguete elaborado para a Exposição: “Abreu – Cartas de Amor de
Sonhos”, com curadoria de Raquel Fayad e Luiz de Almeida, realizada na
Pinacoteca Municipal de Bauru (SP) – Casa Ponce Paz, em setembro/2016.
-x-x-x-x-x-
COMENTÁRIOS E DEPOIMENTOS BREVES:
-
Paulo Setúbal: “Dois traços
caracterizam a poesia de Rodrigues de Abreu: a humildade e a resignação”.
(Abreu, Rodrigues de. In: Poesias Completas. Ed. Joarte,
Bauru/SP., 2ª ed., 2007, pág. 63).
-
Menotti Del Picchia: “O espírito de humildade iluminava o seu lirismo”.
(Abreu, Rodrigues de. In: Poesias Completas. Ed. Joarte,
Bauru/SP., 2ª ed., 2007, pág. 63).
-
A SEGUIR - DEPOIMENTOS RETIRADOS DE: J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta,
biógrafo e historiador, in:
-
Cassiano Ricardo: “Rodrigues de Abreu
acordará, na sensibilidade de quem o ler, uma sonora repercussão de tristeza.
Não é possível admirá-lo num dia de Carnaval. Mas é possível chorar com ele,
num dia de sofrimento”.
-
Afonso Schmidt: “Rodrigues de Abreu
era uma dessas pequeninas flores anônimas que abrem no meio da relva, e que a
gente, para bem admirá-las, tem de se por de joelhos”.
-
Jamil Almansur Haddad: “Rodrigues de Abreu
foi uma das coisas mais sérias da poesia no Brasil”.
-
Agripino Grieco: “Rodrigues de Abreu
era bem um poeta por dom inato. Sente-se-lhe a tristeza congênita de quem andou
pelo mundo, para aplicar-lhe uma expressão que lhe era grata, como por uma Sala
dos passos perdidos”.
-
Gabriel Castilho de Almeida: “Numa ocasião em que Abreu estava doente
e em grande penúria, o Centro Bauruense lhe fez uma festa de arrecadação de
fundos. Ao término destas festividades, os sócios deram a palavra final ao
poeta. E o seu discurso, erudito, além de muito aplaudido, foi seguido de
lágrimas, por todos os presentes. E no final de suas palavras, ele dizia com
aquele olhar de poeta universal e de espírito altamente cristão: ‘O que mais me
comove é a gentileza dos promotores desta festa, homenageando o artista, para
socorrer o homem’. Este episódio foi relatado pelo Dr. Maringoni e pelo seu
estimado amigo Pupo”.
-
Andrade Muricy: “Esse moço paulista
foi, na geração, o irmão deserdado, o irmão doente. Entre desportivos e
gozadores, coube-lhe o quinhão da morte e o choro baixinho e humilde”.
-
Cassiano Nunes: “Rodrigues de Abreu
foi um trovador saudável, um poeta que amava doidamente a vida, e toda a sua
obra de doente, de candidato prematuro à Morte, é um Hino à existência, uma
glorificação do mundo”.
-
Herculano Pires: “Esse poeta que é
talvez o mais legítimo intérprete do aspecto literário do temperamento
brasileiro”.
-
Fernando de Azevedo: “Rodrigues de Abreu
foi um doce e melancólico sonhador”.
-
Silveira Bueno: “Serão necessários
milênios para que, ao gotejar contínuo dos olhos torturados da humanidade,
reponte, enfim, a joia rara de um cantor igual ao que a morte nos roubou”.
-
Nestor Vítor: “Rodrigues de Abreu
foi uma linda inteligência de pensador e uma alma vastamente simpática”.
-
Narbal Fontes: “A poesia de
Rodrigues de Abreu é como o ar, azul de tanto diáfano, e é através dela que nos
chega sua dor infinita, peneirada em lágrimas, como chuva benéfica”.
-
Correia Júnior: “Há na poesia de
Rodrigues de Abreu, acima da beleza de seus ritmos, acima das imagens que a
cada passo nos põe aos olhos a poeira fluídica e doirada do encantamento – uma
virtude que já vai rareando nos poetas, virtude, entretanto, que, a meu ver,
constitui a única razão de ser da poesia: a sinceridade”.
-
Francisco Galvão: “Rodrigues de Abreu é
o caminhante esguio e sonâmbulo da A sala dos passos perdidos. De olhos
fechados, cismarentos, ele a atravessa com a displicência cômoda de um príncipe
em exílio, esflorando lírios e pétalas de rosas no tapete lírico da alma da
gente”.
-
Honório de Syllos: “Rodrigues de Abreu
semelhava, com aquelas barbas pretas, que ele deixou crescer para não se
lembrar que os barbeiros não têm alma, um suave e boníssimo missionário.
Apóstolo e missionário”.
-
Maragliano Júnior: “Rodrigues de Abreu se fez poeta, e
fez-se amado, pelo coração. Seus versos, como um fio d’água, escorriam da fonte
da bondade, insinuando-se humildemente pela floresta das almas humanas”.
-
Dr. João Maringoni: Um trecho da palestra feita nos salões
do Automóvel Clube de Bauru, no dia 2 de setembro de 1946, falando sobre a
figura do amigo Rodrigues de Abreu.
Dizia ele, naquela noite,
“que Rodrigues de Abreu falava com uma
correção e desenvoltura sem par, e tinha uma palavra colorida de todas as
nuânces, que seduzia e arrebatava. Na oratória era tão grande como na poesia.
Lembro-me de uma festa, que os amigos
lhe fizeram, já nos últimos tempos de sua vida, para mantê-lo em São José dos
Campos. Foi no Centro Bauruense, onde hoje está o Grêmio. Fizemos música. Moças
recitaram e cantaram; Jorge de Castro, o jornalista insigne, que lhe seguiu na
rota do sofrimento e da morte, organizou um número de jornal falado do “Diário
da Noroeste”, que os vitoriosos da Revolução de 1930 destruíram e queimaram,
como se fora possível queimar e destruir o pensamento e a luz.
No número falado do jornal, eu fiz o
artigo de fundo, por deferência especial dos que me fizeram diretor daquele
órgão; Breno Pinheiro, jornalista vigoroso, desses que escrevem com sentimento
e ardor, deu-nos uma de suas produções rica de imaginação e graça; Rafael de
Holanda, outro amigo ardoroso de brasilidade, fez uma doutrinação patriótica;
Jorge de Castro, com sua pena de pluma e seu verbo de fato, uma crônica de
modas, num estilo brilhante e macio; e todos fizeram a sua parte, naquele
número de novidade, que surpreendeu pela forma e encanto pelo fundo. Rodrigues
de Abreu pediu-nos, na hora, uma coluna e ele disse, na seção livre do jornal
falado, o seu agradecimento.
Só quem esteve naquela noite no Centro
poderá dizer o que foi o agradecimento do orador assim homenageado. Uma coisa
inenarrável, um hino de louvor à terra que o acolhera, e aos amigos que o
amparavam. Era tal o brilho e o transporte com que falava, que todos vibravam
com ele, fremiam com ele, choravam com ele, com ele formando uma só cadeia de
crença e de fé, uma só vida, uma só alma! Eletrizou, por fim, a assistência,
que se quedou num silêncio de sepulcro, e a sala se esvaziou numa triste mudez
de orfandade e de luto... Foi essa uma das últimas produções, porque pouco
tempo depois, rodeado de amigos dedicados, como Alípio dos Santos e Jorge de
Castro, e tendo à cabeceira, a lhe iluminarem a partida, dois círios humanos –
Anésia de Abreu Cara e Hilda de Barros Monteiro – Rodrigues de Abreu, a 24 de
novembro de 1927, voava para as regiões etéreas e ia, longe da terra e dos
homens, na mansão sagrada dos justos, buscar a felicidade do seu eterno
descanso.
Rodrigues de Abreu, operário agrícola nos
sítios e fazendas de Capivari e Piracicaba, mestre-escola e escrevente de
cartório, poeta e orador, foi um raio de luz que passou pela terra”.
-
J. R. Guedes de Oliveira: “Seja como for, Rodrigues de Abreu
merece mais estudos tanto sobre a sua vida como de sua arte. A penúria vivida
por ele, por de passou, sempre ajudado, porém, por mãos amigas, é um vastíssimo
manancial de poemas úmidos e tristes. Lembrá-lo é uma necessidade como parte de
uma paga a quem fez da vida e da obra um exemplo dignificante”.
-
Do livro Rodrigues de Abreu: Poesias Completas, Ed. Joarte, Bauru-SP., 2007 –
Organização do Prof. Joaquim Simões Filho, membro fundador da Academia
Bauruense de Letras – p. 71, assim escreve no encerramento do ensaio:
“O presente estudo pode ser acusado de
chegar ao fim sem ter dedicado um capítulo à análise da técnica poética de
Rodrigues de Abreu e à linguagem do poeta, sob o ponto de vista da poesia e da
sintaxe. Quanto ao segundo caso, devemos dizer que Abreu não era nenhum
filosofo nem mesmo um escritor cuidadoso. Escrevia naturalmente, com os
defeitos e a graça da linguagem falada. // No que diz respeito à técnica, é
necessário considerar que a poesia de Rodrigues se divide em duas partes
distintas. Na primeira, Abreu – e esta observação já a ouvimos de Jamil
Almansur Haddad – os poetas modernistas intercalavam versos de várias medidas,
mas sempre sujeitos à cadência tradicional. Abreu rompeu com essa praxe, talvez
sob a influência de Whitman (traduzido) e Tagore. Muitos de seus versos
aparentemente livres, entretanto, são exatíssimos em seu ritmo clássico. De
qualquer modo, a face técnica da poesia de Abreu não nos parece a mais
importante de sua obra, e pouco resultaria de um exame da mesma”.
-
Ainda Dr. João Maringoni: “Rodrigues de Abreu teve, em Bauru, os
seus melhores dias e a prova aí está: para se expandir dessa maneira e produzir
como produzia, desfolhando as mais belas flores do jardim do seu talento, era
preciso que ele sentisse na alma a expansão da poesia, que é a mais bela
expressão humana, como o cantar das aves, o marulhar das fontes, o luzir dos
astros num céu todo estrelado”.
(Depoimento transcrito do livro Rodrigues de Abreu – Antologia, Ed.
Joarte, Bauru-SP. – 1ª Edição, 1983 – Comemoração da “Semana Rodrigues de Abreu
– 1983”, págs. IV-V).
SÍNTESE DE DEPOIMENTOS SOBRE
RODRIGUES DE ABREU
(...), Rodrigues de Abreu, falecido em 1927,
foi, como assinalou Andrade Muricy, “o irmão deserdado, o irmão doente”. Irremediavelmente
prostrado pela tuberculose em plena adolescência, não teve tempo de amadurecer
em cantos definitivos. Mas em dois livros apenas, A Sala dos Passos Perdidos
(1924) e Casa Destelhada, de publicação póstuma, deixa-se entrever o
tesouro de sensibilidade que havia nesse rapaz cuja poesia comove como “um
gesto carinhoso de despedida”, cujos ritmos largos, paralelísticos, e mais o
tom augural e grave nos temas da noite, da morte, da religião antecipam a
futura mensagem de Augusto Frederico Schmidt:
Em dia vindouro, nevoento,
Porque há de ser sempre de névoa esse
dia supremo,
Eu partirei numa galera frágil
(...).
(Bandeira, Manuel. In: Apresentação da Poesia Brasileira.
Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro, 1957.
Págs. 152/153).
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O poeta tísico Rodrigues de Abreu (1897-1927), de quem Manuel Bandeira ressalta na Apresentação da poesia
brasileira, “o tesouro de sensibilidade” e a poesia de “ritmos largos,
paralelísticos, e mais o tom augural e grave nos temas da noite, da morte, da
religião”, publicou em vida apenas A sala dos passos perdidos (1924). O
livro teve alguma repercussão e obteve críticas favoráveis de Menotti Del
Picchia e Amadeu Amaral. (...).
(Nota de número 19 da p. 189, Marcos Antonio de Moraes, organizador do
livro: Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Editora
EDUSP/IEB, São Paulo, 2000).
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RODRIGUES DE ABREU (Benedito Luís de Abreu)
Benedito Luís de Abreu – que adotaria
para os seus livros seu nome de família Rodrigues de Abreu – nasceu numa
fazenda do município de Capivari, Estado de S. Paulo, em 1897, e faleceu em
Bauru, vítima de tuberculose, em 1927. Teve vida difícil e humilhada desde a
infância: auxiliou os pais na colheita de café na fazenda de que eram
assalariados, empregou-se como lavador de garrafas e auxiliar de entregas numa
farmácia e foi, mais tarde, modesto escrevente de cartório. Em busca da saúde,
andou por Campos do Jordão, s. José dos Campos e Atibaia. Seminarista,
abandonou logo os estudos eclesiásticos. Seus principais livros são; “A Sala
dos Passos Perdidos” e “Casa Destelhada”, sendo que naquele “o autor transitava
do neoparnasianismo e do simbolismo para a escola modernista, representada por
alguns poemas finais”, e neste, “realizava, a seu modo, o modernismo poético”.
A observação é de Domingos Carvalho da Silva, que demonstra haver o poeta
adotado, das correntes inovadoras, o que nelas “havia de antiformalismo e de
libertário”. Sua poesia, confessional e subjetiva, girando em tôrno do tema da
morte e da obsessão da vida, dotada de acentos místicos, constitui, segundo o seu
melhor crítico, Domingos Carvalho da Silva, “um depoimento sincero e comovente
das suas impressões em face do mundo”, e foi êle, como poeta, “alto valor que
não chegou a realizar-se, mas que manteve sempre a sua individualidade”. Na sua
poesia foi observada pelos críticos reminiscências de Bilac e influências de
Tagore, S. Francisco de Assis e da Bíblia, de Whitman, Antônio Nobre, Cesário
Verde, Antero do Quental e Verlaine. Manuel Bandeira lembra que os versos de
Rodrigues de Abreu, pelos seus “ritmos largos, paralelísticos, e mais o tom
augural e grave nos temas da noite, da morte e da religião, antecipam a futura
mensagem de Augusto Frederico Schmidt”.
(Brito, Mário da Silva. In: Panorama da Poesia Brasileira, Vol.
VI – O Modernismo. Editora Civilização Brasileira S.A. Rio de Janeiro, 1959.
Exemplar nº 2974, pág. 80).
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Rodrigues de Abreu: “É considerado pré-modernista, algo
romântico, de lirismo nostálgico”.
(Oliveira, Cândido de. In: Súmulas de Literatura Brasileira –
Editora Gráfica Biblos Ltda. 13ª Edição, S. Paulo, sd. P. 178, tópico nº. 16).
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“A Difusão do Simbolismo”:
- (...) Rodrigues de Abreu, que oscilou
entre a maneira do vate negro e um confidencialismo de ritmos livres que já tem
algo de modernista (A Sala dos Passos Perdidos, 1924; A Casa
Destelhada, 1927).
(Bosi, Alfredo. In: História Concisa da Literatura Brasileira –
Editora Cultrix Ltda. S. Paulo, 3ª Edição, 1992-1997, p. 321).
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- (...) //Outro paulista, de Capivari,
atravessaria, isolado e doente, os anos cruciais do Modernismo: Benedito Luís
RODRIGUES DE ABREU (1897-1927). Ao longo de sua breve existência, precocemente
ceifada pela tuberculose, publicou três livros de poesia: Noturnos (1919),
A Sala dos Passos Perdidos (1924) e Casa Destelhada (1927),
enfeixados, juntamente com poemas dispersos, nas Poesias Completas (1952).
Conquanto evidenciasse, nas tentativas de extroverter-se e de empregar o verso
livre à Walt Whitman, o desejo de adaptar-se à contemporaneidade, Rodrigues de
Abreu passou ao largo da revolução modernista. “Sentimentalista e fraco (...),
com a alma repleta de sonhos românticos”, confessa ele no prefácio a A Sala
dos Passos Perdidos, como a prevenir o leitor para os poemas que iria
oferecer-lhe, versos de “poeta triste”, como diz no poema de abertura. O quadro
todo é dum verdadeiro êmulo de Antonio Nobre: romântico anacrônico,
imaginando-se, noutra vida, “menestrel de muita fidalguia”, invoca “Nossa
Senhora da Saudade” ou “Meu Santo Antônio Nobre” - (Ver Rodrigues de Abreu,
Poesias Completas, São Paulo, Panorama, 1952, pp. 111, 170, 172). Se bem
que o núcleo sentimental e triste, aureolado de misticismo, permaneça no curso
dos poemas, Casa Destelhada parece mais fruto da experiência real que A
Sala dos Passos Perdidos, ainda marcada de transpiração. A certeza de estar
enfermo dum mal incurável àquela altura, um mal romântico, aguça-lhe o estado
de espírito que, lembrando francamente o poeta do Só, o convida à inócua
extroversão, espécie de compensação in extremis para a fatal egolatria.
Cultivando o soneto bilaquiano, mas sem apego à “Forma complicada” (Ver
Rodrigues de Abreu, Poesias Completas, São Paulo, Panorama, 1952, p.
104), em torno da Dor e do Amor, Rodrigues de Abreu é nitidamente um herdeiro
do Simbolismo desgarrado no tempo e desterrado em Bauru e Campos do Jordão,
onde, concentrado a ouvir as vozes interiores, nem mesmo atentava para a dos
irmãos em Letras que se agrupavam em redor de Festa.
(Moisés, Massaud. In: História da Literatura Brasileira: Vol. V -
Modernismo (1922 – Atualidade) – Editora Cultrix/Editora da Universidade de
São Paulo, 1ª Edição, São Paulo, 1989, pp. 62/63).
-x-x-x-x-x-x-
Bauru querida
- Havia um homem que, tentando inutilmente curar-se de sua doença
profunda, atroz, resolveu morar, por algum tempo, em Atibaia. O ar da estância
seria benéfico aos seus pulmões e poderia reanimá-lo para a vida.
Triste sorte, porém, desse homem que, mal chegando à cidade, uma forte
crise o deixaria horas em poder articular uma palavra que fosse. E com a
chegada de seus familiares distantes, sua boca angustiada conseguiu implorar:
– Bauru! Bauru! Bauru!
E este homem, levado de volta a sua terra adotiva, via férrea,
aproximando-se de Bauru e ao avistá-la pôs-se a chorar de alegria, como uma
criança que volta ao seu lar.
Este homem de que falamos, não é senão o nosso querido e saudoso poeta
Rodrigues de Abreu que fez de sua poesia, de sua “via crucis” um hino de amor e
de louvor à vida e à virtude, através também da sua literatura.
Tinha ele uma paixão por Bauru, pela sua gente, pelas suas ruas e pelas
suas coisas. A Cidade dos Espantos, como ele definia em versos, crescia em
ritmo de um novo Eldorado. Eram as ferrovias que traçavam o Brasil e Bauru,
como ponto de encontro de três delas, representava o ponto fulgurante desse desenvolvimento
acelerado.
Importava o progresso numa região distante, de calor imenso, de terras
ainda para serem desbravadas e de figuras de donos-de-fazendas e pastagens.
Foi com este pensamento que o dr. Carlos Lopes de Matos(1910-1993),
pronunciou, em 1954, uma ardorosa conferência a respeito do poeta,
descortinando, a todos os bauruenses dados biográficos até então desconhecidos
sobre o criador da “Casa Destelhada” e aspectos de sua vida de lutas em
Capivari, por volta de 1918 a 1922, amparado que fora por figuras admiradoras,
entre as quais citamos Amadeu Amaral, Rosário Capóssolli, Honório de Syllos e
outros tantos.
//(...).
Dona Hilda de Barros Monteiro, senhora benemérita de Bauru, assim
descreveu sobre o poeta e este tempo:
- Rodrigues de Abreu, com o seu temperamento alegre e folgazão,
tornou-se logo conhecidíssimo e muito estimado por toda a sociedade de Bauru.
Não havia festa, em clubes ou reuniões particulares em que o Abreu não fosse
figura indispensável, e o centro de onde emanava sempre a alegria, a
jovialidade, o espírito. Todos lhe reconheceram em pouco tempo a supremacia do
talento.
E foi então que, instado por amigos que se maravilhavam com a beleza
inédita de seus versos, resolveu reunir uma parte deles para serem publicados.
Foi assim que surgiu “A Sala dos Passos Perdidos”, publicada em princípio de
1924. Para isso muito contribuíram os seus amigos drs. Alípio dos Santos, Celso
de Almeida, Octávio Brisola e João Maringoni – que foram os verdadeiros
estimuladores, os que incutiram no Abreu confiança bastante no sucesso e no
renome que alcançaria com o aparecimento do livro.
Infelizmente, o sucesso literário correspondeu exatamente ao fracasso
amoroso, e a mais rude e dolorosa das desilusões veio amargurar para sempre a
sua vida. Sem uma desculpa plausível – verdadeiramente de surpresa – aquela que
enchia a sua vida e que era a sua razão de lutar, porque, dizia ele, “pensava
que a enchia de orgulho a sua subida” – resolveu desfazer o laço que os ligava
e reclamou a restituição da palavra que empenhara. Vimos, então, transformado o
Abreu, lutador corajoso e cheio de esperanças, em um desiludido, que viveria
daí por diante por viver, sem mais escopo para o futuro.
Este depoimento de dona Hilda de Barros Monteiro é a própria síntese da
história da vida de Abreu, com toda essência de um amor impossível.
(...).
(Oliveira, José Roberto Guedes de. (Poeta, ensaísta e biógrafo de
Rodrigues de Abreu). In O Poeta da Humildade e da Resignação. Fonte: http://capivarisocial.com.br/artigos/93-o-poeta-da-humildade-e-da-resignacao) – Acesso em 2015.
-x-x-x-x-x-x-
(...) A POESIA DE RODRIGUES DE ABREU: A HUMILDADE E A RESIGNAÇÃO.
(...),
(Paulo) Setúbal havia estudado “carinhosamente”, frisou Vinício Stein
Campos, a poesia de Rodrigues de Abreu, autor dos livros A sala dos passos
perdidos e Casa destelhada. A vida de Rodrigues, que faleceu em
1927, vítima da tuberculose, apresentava diversas analogias com a de Paulo
(Setúbal). Nascera no município de Capivari, em 1897, e pertencia a uma família
pobre, esteve num seminário salesiano, porém logo desistiu de seguir a carreira
eclesiástica. Jovial, amigo de festas, bom dançarino, tudo depois lhe parecia
favorável, mas a doença o atacou. Na ausência de se libertar da tuberculose,
andou por Atibaia, Campos do Jordão e São José dos Campos. Muitas pessoas se
afastaram dele, temendo o contágio. Adorava a sua noiva. Essa foi a primeira a
abandoná-lo. Aí não há semelhança com a vida de Setúbal, pois o autor de A
bandeira de Fernão Dias sempre teve na sua Chiquita uma companheira leal e
dedicada. Paulo afirmou:
“Dois traços, acima de tudo, dois traços acentuados, caracterizam a
poesia de Rodrigues de Abreu: a humildade e a resignação”.
Manuel Vitor de Azevedo nos disse, no seu depoimento oral, que Paulo se
emocionava, as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto, quando se punha a declamar
este poema de Rodrigues de Abreu, do livro Casa destelhada:
“A minha vida é uma casa destelhada
por um vento fortíssimo de chuva.
(As goteiras de todas as misérias
estão caindo com lentidão perversa,
na terra triste do meu coração).
A minha alma, a inquilina, está pensando
que é preciso mudar-se, que é preciso
ir para uma casa bem coberta...
(As goteiras estão caindo,
lentamente, perversamente,
na terra molhada do meu coração).
Mas a minha alma está pensando
em adiar, quanto mais, a mudança precisa.
Ela quer muito à velha casa
em que já foi feliz...
E encolhe-se, toda transida de frio,
fugindo às goteiras que caem lentamente
na terra esverdeada do meu coração!
Oh! a felicidade estranha
de pensar que a casa aguenta mais
um ano
na paredes oscilantes!
Oh! a felicidade voluptuosa
de adiar a mudança, demora-la,
ouvindo a música das goteiras tristes,
que caem lentamente, perversamente,
na terra gelada do meu coração!”
Paulo Setúbal, como poeta, amava a rima, a fixidez do ritmo, a
equitativa distribuição dos acentos tônicos na estrofe, mas ele soube
compreender e sentir a beleza dos versos sem rima de Rodrigues de Abreu, das
suas poesias despojadas de métrica, de cesuras, de pausas, de acentos
obrigatórios.
Num artigo publicado no jornal A Razão, o escritor revelou como
conheceu Rodrigues:
“Ainda me recordo, com dolorido carinho, daquele moço pálido, cor de
cera velha, que um dia surgiu, muito tímido, pela minha casa adentro. Era
magro. Tinha os cabelos longos e negros. Vinha trajado, não com simplicidade,
mas com marcada pobreza.”
Rodrigues de Abreu entrou na casa do romancista e sentou-se. Cheio de
respeito, de “infinita doçura”, ele proferiu a seguinte frase, humildemente:
- Eu queria falar com o doutor Paulo Setúbal.
O escritor soltou estas palavras:
- Sou eu mesmo. Que é que o senhor quer?
- Eu me chamo Rodrigues de Abreu – disse o poeta – e vim para...
Paulo não se conteve:
- Quê? Você é o Rodrigues de Abreu? Você? E você a me chamar assim de
doutor? Que é isso? Dá cá um abraço, Rodrigues! E outro... E ainda outro...
Deixemos o próprio Setúbal narrar o episódio:
“Abracei-o com alvoroço. Abracei-o com entusiasmos quentes. Abracei-o
com o maior e com o mais puro enternecimento. Estava ali, diante de mim,
naquele rapaz, humílimo, um dos mais altos valores da minha geração. Estava
ali, naquele rapaz andrajoso, naquele vendido, um dos maiores, e, talvez, num
certo sentido, o maior poeta moderno do seu tempo.”
O drama de Rodrigues de Abreu, as angústias que ele sentia, a sua
moléstia, fizeram de Setúbal um seu irmão na dor. (...).
(Jorge, Fernando. In: Vida, Obra e Época de Paulo Setúbal - Um
homem de alma ardente. Geração Editorial, Belo Horizonte – MG. 2ª ed., 2008
– Págs. 280 a 282).
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“Uma jovem escritora paulista conseguiu publicar 244 páginas sobre
Autores Contemporâneos Brasileiros sem citar o nome de Rodrigues de Abreu”.
Paulo Setúbal escrevia: “Esse indiferentismo dos coevos, essa
obscuridade em que ele afundou na morte, é coisa de que a posteridade há de
rir. Essas duas obras lançá-lo-ão à imortalidade e à glória. Podem já agora
correr os anos: o ingrato olvido terreno não o atingirá mais. Dia virá, estou certo,
em que a justiça dos homens, às vezes ai! tão tarda, há de erguer num pedestal
o nome de Rodrigues de Abreu, do poeta pobrezinho e desvalido que morreu tísico
em Bauru, e, clangorosamente, triunfalmente, ao som de trombetas e rufos, há de
coroá-lo de rosas e de guirlandas. Ele bem merece!”.
(Mattos, Carlos Lopes de. In: Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de
Abreu. Gráfica e Editora do Lar/Abc do Interior, 1ª Ed. 1986 – p. 215).
-x-x-x-x-x-x-
RODRIGUES DE ABREU,
O “PRIMO POBRE DO MODERNISMO BRASILEIRO”.
(...).
Composta de apenas três livros – Noturnos, Casa Destelhada e A
Sala dos Passos Perdidos -, essa pequena bagagem já recebeu acentuado
número de estudos por parte de críticos renomados e por outros menos afamados,
mas todos reconhecendo a excelente qualidade da poesia do vate cuja existência
não passou dos trinta anos. Rodrigues de Abreu foi, talvez, o ultimo dos
grandes poetas brasileiros que a tuberculose arrebatou em plena mocidade; como
já acontecera com Rodrigues de Abreu, Castro Alves, Cruz e Souza, Paulo
Gonçalves (este, como Rodrigues, nascido também em 1897 e falecido em 1927,
poucos meses antes de Abreu).
Entre os nomes expressivos que se dedicaram ao estudo da poesia de
Rodrigues de Abreu podem ser lembrados os de Nestor Victor, Fernando de
Azevedo, Carlos Burlamaqui Kopke, Domingos Carvalho da Silva, Paulo Setúbal,
Plínio Salgado, Menotti Del Picchia e, ainda agora, Roque Luzzi, com o livro Relembrando
Rodrigues de Abreu: o poeta da resignação e ternura.
Essas manifestações, mesmo espaçadas, sobre Rodrigues de Abreu, fazem
com seu nome e sua produção não caiam em total olvido, pois esse parecer o
triste inevitável destino a que estão relegados os escritores brasileiros pouco
depois de sua partida desta para a outra vida.
Tenho à minha frente um recorte do antigo e já extinto jornal paulistano
“A Platéia”, de 24 de novembro de 1934, onde, em reportagem de três colunas,
sob o título “Sou irmão dos mendigos”, Menotti Del Picchia, “brilhante poeta e
escritor paulista”, falava “sobre a vida do poeta doloroso que foi Rodrigues de
Abreu, no dia do sétimo aniversário de sua morte”. Hoje, dificilmente alguém
falará de um poeta sete dias após seu falecimento...
Amigo pessoal do autor de Casa Destelhada, Menotti Del Picchia
dizia ao repórter d’ “A Platéia”: “Conheci Rodrigues de Abreu em Bauru. Era a
pessoa menos importante da cidade. Nesse tempo havia chefes, capitalistas,
autoridades, muitos homens importantes... Pois veja o que é o destino: todos
‘esses homens importantes’ ninguém hoje tem seu nome nas praças e sua imagem
eternizado no bronze... ele me procurava sempre e, tímido que era, mandava-me
de Bauru as poesias que ia escrevendo ‘para saber o que eu pensava’. E eu
pensava que ele criava, com aquelas humildes estrofes, a própria imortalidade”.
Inveterado missivista, não deixando de atender a quem quer que fosse,
mesmo com um pequeno cartão, Menotti deve ter-se correspondido fartamente com
Rodrigues de Abreu, desde o aparecimento de Noturnos, em 1919, até fins
de 1927, quando morreu. Onde estarão essas cartas? Teria a família de Abreu
guardado a correspondência por ele recebida? Em caso positivo, onde estará,
agora, esse valioso material? E as cartas de Rodrigo a Menotti, onde estarão?
Provavelmente conservadas em pacotes, em caixas, em pastas, entre milhares de
outras, recebidas de centenas de amigos com os quais sempre se correspondeu.
Há poucos meses, quando iniciei a organização da “Casa de Menotti Del
Picchia”, em Itapira (um memorial que preservará grande parte do acervo
literário, político e pessoal do atual Príncipe dos Poetas Brasileiros), tive
permissão de Menotti e seus familiares para levar tudo quanto interessasse à
referida Casa, inclusive seu fardão acadêmico, material esse que juntei ao meu
(originais do “Juca Mulato”, coleção do jornal “O Grito”, fotografias,
documentos diversos dos tempos de Menotti em Itapira) e com ele montei o museu
desde 29 de março deste ano está instalado no Parque Juca Mulato, acontecimento
que foi amplamente noticiado pela imprensa.
Entre a batelada de livros empoeirados – muitos deles irremediavelmente
devorados pelo cupim – que se achavam num cômodo nos fundos da casa de Menotti,
em São Paulo, deparei com algumas caixas onde descobri muitas cartas, recentes
e antigas, assinadas por nomes dos mais expressivos do mundo cultural e
político do Brasil e do Exterior. Aquela descoberta era de valor inestimável e
acontecera em boa hora. Um pouco mais de tempo e o cupim e o mofo dariam cabo
daquele tesouro epistolar! Ao proceder à limpeza e ao arrolamento dessas cartas
fui deparando com nomes conhecidos como os de Juscelino Kubistchek de Oliveira,
Joaquim Inojosa, Carlos Drummond de Andrade, Nóbrega de Siqueira, Guilherme de
Almeida, Villa-Lobos, Mário de Andrade, Jorge Amado, Plínio Salgado, Cassiano
Ricardo, Lygia Fagundes Telles, Josué Montello, José Cândido de Carvalho, e
outros e muitos outros. E entre esses muitos outros lá estava uma carta, apenas
uma, com duas laudas de papel descorado, assina por Rodrigues de Abreu, escrita
poucos meses antes de sua morte, quando o poeta capivariano já estava
irreversivelmente condenado a morrer vitimado pela tuberculose. Com que emoção
eu sustinha nas mãos aquelas folhas amareladas e com que maior emoção – coração
em disparada! – eu li aquela carta do desventurado poeta paulista, um documento
comovedor que expressa o quanto grato estava Rodrigues de Abreu pela atenção
que seus irmãos de arte lhe dedicavam, especialmente Menotti, aquém chamava de
“altíssimo poeta”. Observe-se, também, a preocupação do poeta em conseguir com
Menotti um exemplar do “Juca Mulato” para uma sua colega de infortúnio, a
“Yayá”, de “Olhos febrentos de tísica”. A transcrição tem ortografia
atualizada:
“São
José dos Campos, 20-4-27
Meu
querido Menotti:
Vivo
sempre ensaiando escrever-lhe uma carta muito longa, em que diga do
contentamento extraordinário que tenho sentido ao ler os últimos artigos de
você, do Cassiano e do Plínio, em que luminosamente enveredam pelo caminho
certo que fará do Brasil o país intelectualmente independente. Paulo Setúbal
vem amiudadas vezes ao meu quarto, e ficamos os dois comentando vocês três, que
são em verdade os mais seguros, sinceros e úteis espíritos desta geração
paulista, a mais formidável que já apareceu no Brasil. Paulo Setúbal é um
admirador profundo de vocês. Eu, nem se diga. Fica essa longa missiva para um
dia de coragem. Eu preciso conversar muito com você, vagarosamente.
Esta
carta é para agradecer-lhe o que tem feito por mim. Nada valho. Você é iludido
pela sua bondade. Mas, esteja certo que eu acredito na sinceridade das suas
palavras. A você eu devo a felicidade de poder desmanchar em versos a dor que
Deus me deu em abundância. Desde o tempo remoto de Capivari, quando você nem
sabia que eu era doente, nem me conhecia pessoalmente, vive em você esse
entusiasmo pela minha pobre arte. A você devo não ter esmorecido, e à sua
amizade de artista genial. E se hoje não blasfemo, e canto, é pela felicidade
suprema de ter amigos constantes e bons como você, ó meu altíssimo poeta!
Obrigado.
Esta
também é para pedir-lhe que me mande um exemplar do Juca Mulato. Não é para
mim. Para a senhorinha Maria José de Oliveira (Yayá). É uma moça de intensa
cultura. E sensível, e boa, e linda, Menotti. Ela tem adoração por você. Tem
todos os seus livros. Entre eles idolatra o Juca Mulato. Sabe todo o poema de
cor. Eu lhe disse que quando fosse a São Paulo, pediria a você, com dedicatória
para ela, o livro que ela mais ama. Se você visse o contentamento que brilhou
nos seus grandes olhos febrentos de tísica! Eu vi, e não quis demorar-lhe esse prazer.
Vim (?) escrever esta carta, certo de que pela volta do correio você me mandará
Juca Mulato, com uma dedicatória a essa moça. Ela ficará contente, e eu também.
Seu, de coração. Rodrigues de Abreu”.
(Mandatto, Jácamo. In: D.O. Leitura.
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, nd. Jácomo Mandatto (1933-2009),
itapirense, jornalista, poeta, escritor e historiador).
-X-X-X-X-X-X-X-
R O D R I G U E S DE A B R E U
(Conservada a grafia original)
Morreu o suave cantor da amargura. No
empório do Noroeste, onde se juntam as três grandes linhas de penetração do
Estado, na cidade — creança, surgida hontem, cheia de claridade e de movimento,
esfervilhante de negócios e de transacções commerciaes, em Bauru, fechou os
olhos para sempre, em plena mocidade, o Leopardi brasileiro, o poeta que fez um
poema do seu mal e diluiu o fel que o seu organismo distillava em canções de
ternura e de melancolia.
Nascido em Capivary, na terra do maior
poeta contemporâneo, apoderou-se do seu corpo débil a "deusa dos olhos
taciturnos", aquella terrível apaixonada que não perdoa: a tuberculose.
E nos seus carmes dolentes, compostos
na sua maioria já sob o jugo da traiçoeira moléstia, não explode nunca o grito
lancinante da cólera nem a convulsão espumante da revolta. Resignou-se ao seu destino.
Amparava-o a doce e comovida lembrança de sua Mãe :
"... nestes dias infindáveis de
moléstia, sinto quasi alegria ao pensar que você morreu antes de eu ficar
doente".
E sustentava-o a bondade infinita dessa
irmã que cuidou delle, durante toda a longa e atroz enfermidade, com o affecto
e o carinho de um anjo. Foi por ella que exclamou: "'
"Vou rasgar o papel êm que puz
estes versos.
Sinto o riso de minha irmã que vae
entrar...
E eu não quero que a minha irmã tenha
vontade de chorar!"
Morreu levando para o túmulo um supremo
desconsolo: o de reconhecer que a sua exquesita e extranha sensibilidade lhe
vinha do tremendo mal que o victimou e não de uma especial conformação de seu
temperamento. E no seu pudor pelo envilecimento da carne, que elle não desejaria
denunciar aos outros, ficou-lhe um travo de magua inenarrável:
"Já perdi a belleza de soffrer,
Minha tristeza vem deste mal physico.
Foi-se o bem de ser doente sem saber...
Antes nunca soubesse que sou
tísico".
Pobre Rodrigues de Abreu! Como Moacyr
de Almeida, como Paulo Gonçalves, pagaste o pesado tributo de ter alma grande
demais para a fragilidade de seu envolucro. O corpo foi incapaz de a conter...
E tu te foste antes que a tua obra, arrancada fibra a fibra de teu enorme
coração, coasse no teu cérebro em filigranas de cruel emotividade...
(A redação. Revista Arlequim nº 4, de 1º de dezembro de 1927.
Direção de Sud Mennucci, Maurício Goulart e Américo R. Netto, São Paulo).
-x-x-x-x-x-
DE PROFUNDIS
Para Rodrigues de Abreu
(Wellington Brandão)
(Grafia atualizada)
Fontes do meu coração, rebentai!
rebentai!
O Poeta que morreu,
esse luminoso e profundo Rodrigues de
Abreu,
esse tuberculoso meigo como uma
criança,
ó fontes! entranhou-se em ternura
nos veios puros em que vos escondeis...
O seu gesto de despedida,
ao partir da sua grande Casa
Destelhada,
foi tão cheio de alegria e de
resignação,
que um filho do meu coração
acenou naquele gesto suave e triste
como o ultimo beijo de uma boca de
criança.
Jesus Cristo e S. Francisco de Assis:
recebei o vosso irmão
e amparai-o, que vai desfalecido de
meiguice.
E si olhardes pra nós, os seus irmãos
menos dignos,
ajoelhados na dor desta saudade,
perdoai-nos e encorajai-nos!
(Brandão, Wellington. A redação. Revista Arlequim nº 5, de 8 de
dezembro de 1927. Direção de Sud Mennucci, Maurício Goulart e Américo R.
Netto, São Paulo).
CAPAS DE LIVROS DE RODRIGUES DE ABREU
E SOBRE RODRIGUES DE ABREU
(Fotos ilustrativas – processo digital)
(*)“As mulheres na poesia de e na vida de Rodrigues de Abreu”, conferência proferida por Carlos Lopes de Mattos (1910-93) e publicada pela Revista dos Tribunais, 27p., em 1951.
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OUTRAS IMAGENS
Detalhe da herma de Rodrigues de Abreu,
em Capivari (SP)
Busto de Rodrigues de Abreu. Biblioteca
Rodrigues de Abreu, Bauru (SP) – Foto de Luiz de Almeida
Rodrigues, 18 anos.
Foto reproduzida da original pertencente ao acervo da Biblioteca Rodrigues de
Abreu, Bauru (SP) – Foto de Luiz de Almeida
Foto de Rodrigues de
Abreu – Reprodução
Foto de Rodrigues de
Abreu (no centro), com dois amigos, em Bauru – Foto tirada da original
pertencente ao acervo da Biblioteca Municipal Rodrigues de Abreu, Bauru(SP),
por Luiz de Almeida.
Foto da pasta onde se
encontram arquivadas as cartas originais de Rodrigues para Aracy. As fitas (em
rosa) eram usadas pelo poeta para amarrarem as cartas para Aracy. Pasta
pertence ao acervo da Biblioteca Municipal Rodrigues de Abreu, Bauru(SP) – Foto
de Luiz de Almeida.
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FONTES PESQUISADAS:
Obras:
- Almeida, Guilherme. Meus versos mais
queridos. Edições de Ouro, Rio de Janeiro, sd;
- Amaral, Amadeu. Tradições Populares. Editora
Hucitec, 2º ed. São Paulo, 1976;
- Bandeira, Manuel. Apresentação da
Poesia Brasileira. Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro,
1957;
- Bosi, Alfredo. História Concisa da
Literatura Brasileira. Cultrix, São Paulo, 3ª ed., 1997;
- Brito, Mário da Silva. Poesia do
Modernismo. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2ª Ed., Exemplar nº
2653, 1968;
- Conselho de Ação Cultura do Município de
Bauru. Rodrigues de Abreu: Antologia. Editora Joarte, Bauru (SP), 1ª
ed., 1983;
- Filho, Joaquim Simões & Academia
Bauruense de Letras. Rodrigues de Abreu, Poesias Completas. Editora
Joarte, Bauru (SP), 2ª ed., 2007;
- Jorge, Fernando. Vida, Obra e Época de
Paulo Setúbal - Um homem de alma ardente. Geração Editorial, Belo Horizonte
(MG), 2ª ed., 2008;
- Marins, Wilson. A Literatura Brasileira –
Vol. VI – O Modernismo. Cultrix, São Paulo, 1ª ed., 1965;
- Mattos, Carlos Lopes de. Vida, Paixão e
Poesia de Rodrigues de Abreu. Gráfica e Editora do Lar & ABC do
Interior, Capivari (SP), 1ª ed. 1986;
- Moisés, Massaud. História da Literatura
Brasileira. Vol. V – Modernismo(1922 - Atualidade. Cultrix & Edusp, São
Paulo, 1ª Ed., 1989;
- Moraes, Marcos Antonio de. Correspondência
Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Edusp & IEB, São Paulo, 2ª ed.,
2001;
- Oliveira, Cândido de. Súmulas de Literatura
Brasileira – Editora Gráfica Biblos Ltda. 13ª Edição, S. Paulo, nd;
- Oliveira, José Roberto Guedes de. Rodrigues
de Abreu e suas Cartas de Amor. Jalovi, Bauru – SP., nd;
- ___________. Meu Caro Rodrigues de Abreu.
Edição do autor. 1ª ed. Capivari – SP., 2003;
- Theodor, Erwin. In: Os Tesouros do Arquivo – Acervo de mais de 900 peças – Revista da
Academia Paulista de Letras – 90 Anos. Imprensa Oficial do Estado de S.
Paulo, São Paulo, 1999 – p.147;
- Vale, José Misael Ferreira de. Geografia
e Poesia. RBEP, Brasília, 188, nº 219, p. 274 a 290, 2007;
- Victor Civita (editor) da Abril S.A.
Cultural. Coleção Nosso Século. Vol. I e II (1900-1910), Vol. III e IV
(1910-1930). Edição exclusiva para o Círculo do Livro, São Paulo, 1985;
- _____________. Coleção Literatura
Comentada. Volumes: Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Guilherme de Almeida, Lima Barreto, Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Machado de Assis e Euclides da Cunha. São Paulo, 1981;
- (*) Demais não relacionadas: ver nas
referências no bojo da Síntese Biográfica.
Sites: (Acessados em 2014, 15 e 16)
Notas
Necessárias:
1 - A elaboração desta Síntese Biográfica sobre Rodrigues de Abreu foi
baseada com a colaboração do livro “Rodrigues de Abreu e Suas Cartas de Amor”,
de autoria do capivariano, contabilista, fundador da Academia Indaiatuba de
Letras, membro fundador da Fundação Capivariana de Cultura e do Conselho
Consultivo da Fundação Pró-Memória de Indaiatuba, escritor e autor também do
livro “Capivari em Duas Décadas (1900 a 1921)”, José Roberto Guedes de Oliveira.
Deste escritor também foi utilizado o livro por ele organizado: “Meu
Caro Rodrigues de Abreu”, Ed. do Autor, 2003;
2 – Sem o conteúdo do livro “Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de
Abreu”, de autoria do filósofo, mestre e escritor Dr. Carlos Lopes de
Mattos (1910-93), também seria impossível conhecer mais sobre o Poeta
Rodrigues de Abreu;
3 – Pesquisa também realizada na Biblioteca Rodrigues de Abreu, em Bauru
(SP);
Luiz de Almeida
Última atualização: 19/11/2016
A morte de RODRIGUES DE ABREU causou forte comoção em Bauru, segundo o que informava o historiador Gabriel Ruiz Pelegrina. Numa foto histórica, podemos ver o advogado João Maringoni discursando à beira da sepultura no momento do sepultamento. Ele parece ser um dos que acompanham o féretro na foto deste artigo.
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