segunda-feira, 15 de setembro de 2008

QUATRO "MOMENTOS" DE MÁRIO DE ANDRADE

(Desenho de Luiz de Almeida - Nanquim s/ papel cartão - 80 x 120 cm - Técnica de Durer (1985).


QUATRO MOMENTOS DE MÁRIO DE ANDRADE

Luiz de Almeida

A vida de todo ser humano é repleta de acontecimentos (momentos), uns marcantes, outros nem tanto, que até acabam sendo esquecidos. Isso é óbvio. Para alguns humanos, sejam eles economicamente ricos ou não, dependendo do seu habitat e do seu modo de vida, passam despercebidos pela sociedade e, às vezes, até pela família. Quando morrem, passado algum tempo, poucos de seus familiares ainda se recordam diariamente destes seus, dantes queridos, finados. Outros, porém, ninguém os esquece. Em alguns casos, os familiares acabam até se desentendendo, pois a herança, seja ela financeira, social ou cultural, provoca a ganância de possuírem o legado deixado pelo famoso finado.
Apegando-nos apenas e tão somente na área cultural, ou seja, se focarmos a vida daqueles que foram célebres: ídolos, artistas plásticos, cantores, músicos, escritores, intelectuais, desenhistas, etc., (indivíduos que atualmente são denominados “ícones”), encontraremos uma série de intrigas, apegos e busca pelo tão requisitado “direito sobre” as obras, os pertences e até sobre as idéias desses ícones, tudo alicerçado na chamada Lei dos Direitos Autorais. Existem casos de extrema vergonha, basta observarmos “parentes” (e normalmente são aqueles parentes bem distantes dentro da árvore genealógica do finado) que, em boa parte, nunca conviveram, viram ou estiveram com esses ícones em vida, vê-los-emos se afoitarem na busca dos possíveis ganhos financeiros e do ibope popular - com a ajuda da mídia que é, nestes casos, normalmente comprada e muito bem paga. Existem casos e casos, sei disso. Porém, tudo isso é conseqüência dos “momentos” que aqueles “ícones” tiveram e proporcionaram em vida.
Contudo, existem também, graças a Deus, ícones totalmente públicos cujos pertences têm quem os preserve apenas como patrimônio da sociedade. Seus “momentos” são cuidadosa e carinhosamente preservados, estudados e dispostos aos interessados que deles usufruem tanto para o próprio crescimento como para o de toda a sociedade.
Um desses louváveis casos é o trabalho que o IEB (Instituto de Estudos Brasileiros – USP) realiza com a herança cultural deixada por Mário de Andrade. Um trabalho maravilhoso que se comparado ao de outros países, poderemos afirmar com orgulho: “um trabalho de primeiro mundo”. Sob os olhares atentos de Telê Porto Ancona Lopes, – que não temo errar ao dizer que conhece mais o Mário de Andrade que o próprio Mário de Andrade – o patrimônio marioandradiano vai, dia-a-dia, sendo disponibilizado a toda a sociedade, sem deixar de mencionar Marcos Antonio de Moraes, outro mestre que segue a mesma trilha de Telê Porto e também toda a equipe do IEB que trabalha com o arquivo Mário de Andrade.
O IEB, através desses estudos, proporciona a cada um de nós momentos interessantíssimos ao conhecermos ou tomarmos conhecimento dos “momentos” mais que interessantes da vida intelectual de Mário de Andrade, Manuel Bandeira entre outros. E isso é bom demais para nós brasileiros comuns, estudantes ou pesquisadores, que não temos acesso gratuito a esses “momentos” na grade curricular de escolas e de muitas faculdades.
Lembro-me de um momento desastroso pelo qual passei quando palestrava em certa faculdade do interior em cuja platéia estavam professores que foram monitorar seus alunos durante a minha Exposição Retalhos do Modernismo, quando uma professora me interrompeu dizendo:

- Eu não entendo uma coisa. Gostaria de uma explicação. Eu não entendo o motivo dos dois irmãos Mário e Oswald de Andrade terem brigado tanto. O Senhor poderia me explicar isso?

Confesso que tive um momento embaraçoso, pois houve até certo burburinho entre alguns da platéia que conheciam a verdade. Contudo, não poderia, de maneira alguma, ridicularizar a ignorância daquela professorinha, sobretudo diante de uma platéia composta, em grande parte, por alunos dela. Assim, para não a deixá-la sem resposta, disse apenas:

- Com certeza eles não tinham o mesmo sangue nas veias.

Houve risos, mas foi a única forma que encontrei para não deixar a coitadinha constrangida. Contudo, digo com certeza que ela saiu da palestra achando que um dos dois era filho bastardo. (Pois ela me agradeceu dizendo):

- “Obrigado”, agora entendi o motivo. (aqui vão as aspas pelo fato de que ela – a professorinha teria que ter dito: obrigada. Mas, como mencionei no parágrafo acima: “coitadinha”).

É brincadeira um momento desse?
Bem, outro momento que julguei interessantíssimo, bem diferente desse e da nossa realidade escolar, foi quando eu soube que na Argentina, numa pesquisa realizada no final do ano letivo de 2007, 86% dos estudantes, antes de entrarem na faculdade, conheciam detalhadamente a vida e a grande obra de Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores argentinos que nasceu seis anos após o nascimento de Mário de Andrade e que teve a felicidade de viver 35 anos a mais. E agora? Podemos comparar os momentos de estudos da professorinha brasileira com os momentos de estudos dos alunos argentinos? Bem... São apenas momentos, creio, pois nem todos brasileiros têm momentos tão infelizes como os daquela professorinha... e nem tampouco os argentinos têm momentos sempre superiores aos nossos (sem contar a chocolatada de 3 x 0 que a nossa - nossa não, do Dunga - seleção de futebol tomou da seleção da Argentina na última Olimpíada).
Escrevi, em forma de prefácio, todas estas baboseiras pelo simples fato de também ter tido meu momento que foi de pânico, ao tentar elaborar algo momentâneo para cravar aqui, neste blog, juntamente com alguns poemas (que, como vocês poderão verificar, não têm relação alguma com o que terminei de escrever ao que, certamente, o leitor, a quem já peço minhas desculpas, dará graças a Deus), do nosso queriquerido Mário de Andrade, intitulados “Momentos”. Pensei em me valer de alguns momentos importantíssimos da vida do Mário, mas iniciei um rol, porém foram tantos que optei somente pelos descritos abaixo. Então, para o nosso deleite: Quatro “Momentos” marioandradianos.


PRIMEIRO


MOMENTO
(Novembro de 1925)

Ninguém ignora a inquietação do clima paulistano...
Pois tivemos hoje uma arraiada fresca de neblina.

Depois do calorão duma noite maldita, sem sono,
Uma neblina leviana desprendeu das nuvens lisas
E pousou um momentinho sobre o corpo da cidade.
Ôh como era boa, e o carinho que teve pousado!
Não espantou, não bateu asa, não fez nenhuma bulha,
Veio, que nem beijo de minha mãi si estou enfezado
Vem mansinho, sem medo de mim, e poisa em minha testa.
Assim neblina fez, e o sopro dela acalmou as penas
Desta cidade histórica, desta cidade completa,
Cheia de passado e presente, berço nobre onde nasci.
Os beijos de minha mãi são tal-e-qual a neblina madruga...
Meu pensamento é tal-e-qual São Paulo, é histórico e completo,
É presente e passado e dele nasce meu ser verdadeiro...
Vem, neblina, vem! Beija-me, sossega-me o meu pensamento!

ANDRADE, Mário de. Marco da viração. In: Obras completas de Mário de Andrade: Poesias Completas. 1. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1955, vol II, p. 274.


SEGUNDO

MOMENTO
(16-IX-1928)

Deve haver aqui perto uma roseira florindo,
Não sei... sinto por mim uma harmonia,
Um pouco da imparcialidade que a fadiga traz comigo.

Olho pra minhas mãos. E uma ternura perigosa
Me faz passar a boca sobre elas, roçando,
(Decerto é alguma rosa...)
Numa ternura que não é mais perigosa não, é piedade paciente.
As rosas... Os milhões de rosas paulistanas...
Já tanto que enxerguei minhas mãos trabalhando,
E tapearem por brinquedo umas costas de amigo,
Se entregarem pra inimigo, erguerem dinheiro do chão...
Um feita meus dedos poisarem nuns lábios,
Nesse momento eu quis ser cego!
Ela não quis beijar a ponta dos meus dedos,
Beijou as mãos apaixonadamente, em submissão...
Ela beijou o pó das minhas mãos...
O mesmo pó que já desce na rosa nem bem ela se abre,
Deve haver aqui perto uma roseira florindo...
Que harmonia por mim... Que parecença com jardim...
O meu corpo está são... Minha alma foi-se embora...
E me deixou.

ANDRADE, Mário de. Marco da viração. In: Obras completas de Mário de Andrade: Poesias Completas. 1. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1955, vol II, p. 288.


TERCEIRO

MOMENTO
(1929)

O mundo que se inunda claro em vultos roxos
No caos profundo em que a tristura
Tange mansinho os ventos aos mulambos.

A gente escapada vontade.
Se sente prazeres futuros,
Chegar em casa,
Reconhecer-se em naturezas-mortas...

Ôh, que pra lá da serra caxingam os dinossauros!

Em breve a noite abrirá os corpos,
As embaúbas vão se refazer...

A gente escapa da vontade.
Os seres mancham apenas a luz dos olhares,
Se sobrevoam feito músicas escuras.

E a vida, como viola desohnesta,
Viola a morte do ardor, e se dedilha...
Fraca.

ANDRADE, Mário de. A Costela do Grão Cão. In: Obras completas de Mário de Andrade: Poesias Completas. 1. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1955, vol II, p. 337.


QUARTO

MOMENTO
(Abril de 1937)

O vento corta os seres pelo meio.
Só um desejo de nitidez ampara o mundo...
Faz sol. Fez chuva. E a ventania
Esparrama os trombones das nuvens no azul.

Ninguém chega a ser um nesta cidade,

As pombas se agarram nos arranhacéus, faz chuva.
Faz frio. E faz angústia... É nesse vento violento
Que arrebenta dos grotões da terra humana
Exigindo do céu, paz e alguma primavera.

ANDRADE, Mário de. A Costela do Grão Cão. In: Obras completas de Mário de Andrade: Poesias Completas. 1. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1955, vol II, p. 351.

(Texto elaborado para as futuras Oficinas Literárias da “Exposição Retalhos do Modernismo”. Agradecimento especial a minha Dileta Amiga e Profª Edinilce Aparecida Corrêa Leme pela colaboração no presente trabalho).

Luiz de Almeida – Setembro de 2008.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

MEUS HAIKAIS - GUILHERME DE ALMEIDA

GUILHERME DE ALMEIDA
E SEUS HAIKAIS (HAICAIS)
Capa do livro Poesia Vária
Não era para estar postando este tópico, mas tenho recebido vários emails de estudantes solicitando explicações a respeito dos “haicais” do Guilherme de Almeida. Então, através de forma bem resumida e reduzida, procurei adicionar realmente o básico, sem entrar em detalhes mais específicos.
É importante saber que Guilherme de Almeida não foi apenas um poeta. No decorrer do período que esteve literalmente ativo Guilherme foi: cronista, tradutor, autor teatral, crítico de cinema e até escreveu obra infantil (O Sonho de Marina – Ed. Melhoramentos, SP – 1941). Não vamos entrar no detalhe biográfico do Guilherme político e nem mesmo no do Guilherme da Revolução Constitucionalista de 1932, pois merece um estudo isolado e proveniente de muita pesquisa. Particularmente não desejaria mesmo entrar no detalhe do Guilherme de Andrade e Almeida Paulista Constitucionalista, pois o Blog Retalhos do Modernismo estaria desviando-se dos seus objetivos. Outro detalhe é que este Blog já postou parcialmente a biografia do Príncipe dos Poetas Brasileiros (título recebido em 1959, como sucessor de Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, resultado de uma eleição de âmbito nacional, promovida pelo Correio da Manhã, do RJ)(1), não necessitando assim perdermos tempo com detalhes biográficos.

http://literalmeida.blogspot.com/2008/01/guilherme-de-almeida-sntese-biogrfica.html

O que mais importa neste tópico é o Guilherme de Almeida, poeta que teve a coragem de lançar em 1947, “Poesia Vária”, Livraria Martins Editora – São Paulo, [cuja primeira parte, “Peregrinação”, é a celebração poética de um fato que para qualquer outra pessoa poderia ser banal: a aquisição da casa própria. A emoção do poeta que, afinal, tem um lugar seu onde morar, pode ser medida pelos versos iniciais do volume: “Descalço em teu portal de hera e de granito / minhas sandálias sujas de infinito” – num simbolismo à Tagore, poeta muito da sua intimidade. Vário, em todos os sentidos, esse livro de Guilherme. Nele foram incluídos os “haicais” ou “haikais”, na forma rigorosa, com metro e rima, que Guilherme inventou para nacionalizar essas “anotações poéticas de um momento de elite” da poesia japonesa; as “chaves de ouro para onze sonetos que não foram escritos” e a ressuscitação dos cantares de amor e dos cantares de amigo medievais, no Cancioneirinho]. (2)

HAICAI ou HAIKAI... Afinal: O que é? Como é?

Haicai:- Nada mais é que um tipo de poema japonês (hokku) de Forma Fixa, formado de 17 Sílabas distribuídas em três Versos (5 – 7 – 5) sem Rima, como toda a poesia nipônica. Em princípio, o HAICAI deve sugerir uma das estações do ano, e o gênero foi imortalizado pelo grande poeta Matsuo Bachô, na segunda metade do século XVII. No Brasil, como já mencionado acima, Guilherme de Almeida houve por bem fazer rimarem os versos. Ele rimou os Versos Primeiro e Terceiro, introduzindo também Rima Leonina no Segundo, como neste exemplo do livro “Poesia Vária”:

VELHICE

Uma folha morta.
Um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta.(
3)

A definição clássica (normalmente encontrada nos dicionários):

Haicai:- Forma de poesia japonesa surgida no século XVII e ainda hoje em voga, composta de três versos, com cinco, sete e cinco sílabas, que geralmente tem como tema a natureza ou as estações do ano. [Cf. Haicu ou Haiku]

Etimologia:- Do Japonês:
- haikai, formado de hai “brincadeira, gracejo” + kai “harmonia, realização”;
- haiku, formado de hai “brincadeira, gracejo” + ku “frase” (p.ext. verso) ou estrofe.

Outra definição clássica:

- Haicai (Arte Poética). É o poema japonês constituído de três versos, dos quais dois são pentassílabos e um, o segundo, heptassílabo:

“Há quem exceda, em brevidade, a essa trova popular, de quatro versos, ou vinte e oito pés métricos. É o haicai japonês, pequeno poema de três versos, de cinco, sete e cinco pés métricos, respectivamente, que resumem uma impressão, um conceito, um drama, um poema, às vezes deliciosamente, não raro profundamente”. (Afrânio Peixoto, Miçangas, pp. 234-235.) [Cf. haicu].

A definição clássica de “Haicu” - (Do Japonês) = Arte Poét. Poema lírico japonês, constituído de dezessete sílabas distribuídas em versos não rimados, de cinco e sete sílabas.

Na introdução de “OS MEUS HAICAIS”, Parte II do livro “Poesia Vária”, Guilherme de Almeida fez a seguinte anotação:

HAIKAI
a poesia japonesa de dezessete sílabas em três versos: o primeiro de cinco, o segundo de sete e o terceiro de cinco. Define-se o HAIKAI: anotação poética e sincera de um momento de elite. Transpondo-o para o português, em 1936, o Autor acrescentou-lhe a Rima, fixando a seguinte fórmula:

__ __ __ __ x
__ o __ __ __ __
o
__ __ __ __ x.

Para entender facilmente, outros exemplos de Haicais de Guilherme de Almeida:

HORA DE TER SAUDADE

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!).(4)

O PENSAMENTO

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.(5)

TRISTEZA

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?(6)

Antes de concluir creio que vale a pena descrever parte da entrevista concedida por Guilherme de Almeida para a poetisa, contista, advogada e jornalista: Maria Thereza Cavalheiro – São Paulo. Essa entrevista, pelo tipo de editoração gráfica, creio ter sido editada no D.O. Leitura. Infelizmente eu ganhei apenas uma tira do jornal contendo alguns tópicos da mencionada entrevista. Nessa pequena tira existe um tópico cujo título é: Os Haicais. Vejamos o que consigo decifrar dos farrapos da tira:

“Há de se registrar um fato importante. Guilherme de Almeida foi um dos primeiros poetas brasileiros a escrever haicais. E os publicou em Poesia Vária, lançado em 1947. Eu tinha então dezoito anos e fiquei encantada com os [Aqui a tira apresenta um furo. Por dedução creio que a autora escreveu: “(...) encantada com os poemas ou poemetos”, como são tratados]. (...) de aniversário [deduzo que esteja escrito: “No dia ou Na Festa”) de sua sobrinha Anna Maria (10-9-47), disse ao Poeta do meu entusiasmo pelos seus haicais. E ele contou, muito indignado, que muitas pessoas, incluindo críticos, esteavam dizendo que ele havia feito “charadas”.
Podemos entender, assim, perfeitamente, porque Guilherme de Almeida deu título aos seus haicais e criou um tipo de rima específica para essa composição poética. Os “haicais guilherminos” passaram a ser elaborados por bons haicaistas, entre os quais se destacam Cyro Armando Catta Preta, de Orlândia-SP, e o saudoso José Fernandes Soares.
Sabe-se que o haicai japonês é composto de três versos de cinco, sete e cinco sílabas respectivamente, sem rimas e sem título, com temas ligados à natureza. Ao transpô-lo para a nossa língua, Guilherme de Almeida rimou o primeiro com o terceiro verso, e criou uma rima interna no segundo verso, com tônica na segunda e na sétima sílabas poéticas. Dessa forma, como bem disse Sérgio Milliet na apresentação de Poesia Vária (3ª. Ed. Cultrix), Guilherme de Almeida “nacionalizou o haicai” e “estabeleceu uma forma nova”.
E não só isso. Temos para nós que Guilherme de Almeida assim procedeu para tornar o haicai mais acessível ao gosto do nosso povo, mais fácil de ser aceito. Em nada procederiam a comentários de que Guilherme de Almeida não conheceria as regras do haicai. Na mesma ent.... [aqui falta um pedaço na tira e não teve como continuar, creio ser “entrevista”] – “havia um grupo de poetas japoneses, antigamente, que se reunia à rua da liberdade. Assisti a muitos de seus encontros. Faziam-se Jogos Florais: era dado um tema (lembro-me de que um deles foi ‘brisa da primavera’) e uns dois ou três poetas apresentavam os seus haicais. [outro rasgo e não consigo decifrar o que ela escreveu]. (...)
Não é poesia de amor: é de estação. O haicai é como um verbete de dicionário. E deve ser, antes de tudo, espontâneo: o haicai é obtido como quem pega um inseto em vôo. Se escapar, escapou, e não se consegue mais fazê-lo. Porque deixa de ser sincero. O haicai se impõe. É ele que vem a nós. Pois bem: uma vez, com surpresa minha, notei que o tema dado era sobre o jacarandá. Surgiu então uma querela: discutia-se a época de sua florescência, indispensável à composição do haicai, que é, como se disse, antes de tudo, uma poesia de estação. Com maior espanto meu, um dos japoneses tirou do bolso um dicionário botânico brasileiro em japonês, para esclarecer a dúvida. Pois a poesia japonesa é uma poesia botânica, e os conhecimentos botânicos são indispensáveis ao poeta... Passei também a fazer haicais, que foram traduzidos por um intérprete, após passar uma prova, que todos julgaram. A poesia, no Japão, é obrigatória. Não importa a profissão do indivíduo. “Recordo-me que um dos componentes do grupo era agricultor, outro marceneiro, outro fazia serviços domésticos”.
[a tira termina aqui].


Bem, mas acho que o objetivo proposto foi atingido. Fica aqui minha sugestão: “os amigos leitores que tiverem materiais a respeito dessa temática, caso queiram colaborar, peço a gentileza de enviar-me através que qualquer dos seguintes emails:
literalmeida@hotmail.comliteralmeida@yahoo.com.br - literalmeida@uol.com.br ou literalmeida@gmail.com – pois poderão enriquecer este debilitado e fracionado texto... Mas não faltou vontade para que fosse mais o mais completo possível – dentro das minha limitações. Mas acho que valeu como iniciação para outros estudos e pesquisas a respeito do assunto pauta.

Luiz de Almeida

NOTAS:
(1) Barros, Frederido Pessoa de. Dados Biográficos de Guilherme de Almeida – Raça, de Guilherme de Almeida – Livraria José Olympio Editora, pág. XXI – Vol. 88 – 2º Edição – Coleção Sagarana, 1972 – Edição comemorativa do Cinqüentenário da Semana de Arte Moderna de 1922;
(2) Almeida, Guilherme de. Textos selecionados, estudo histórico-literário, biografia e atividades de compreensão e criação – Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico por Frederico Ozanam Pessoa de Barros – Literatura Comentada – Ed. Abril Educação, 1982 – in: De Você a Poesia Vária – pág. 104;
(3) Campos, Geir. Pequeno Dicionário de Arte Poética – Editora Cultrix, 1978 – 1ª Edição – pág. 82;
(4)(5) Almeida, Guilherme de. Poesia Vária – Parte II: Os meus haikais – Editora Cultrix, SP – 3º Edição, 1954 - pág. 45;
(6) _______, Idem, pág. 55;
(#) As definições clássicas: Versão Eletrônica dos Dicionários Aurélio e Houaiss.

NOTA NECESSÁRIA: Não deixe de ver: